FLIP, 03 de julho de 2009, sexta-feira
Manhã chuvosa. A cidade encheu. Bombom de nozes. Livro da Sophie Calle. Que mulher divertidamente maluca!
Mesa O Avesso do Realismo, com Atiq Rahimi e Bernardo Carvalho, mediada pela fofa da Beatriz Resende. As pessoas são interessantes, mas a palestra foi meio entediante. Quando a conversa fica muito em torno do conceito, da análise da geopolítica literária e da identidade da literatura etc etc, confesso, não tenho muita paciência. Prefiro figuras engraçadas, ou curiosas, ou carismáticas. Caso contrário, ler é muito mais divertido! E a cidade ganha em beleza e as ruas pulsam tão mais vida que as palestras chatas ficam sem quase nenhuma graça…
Almoço no Café Paraty – ok, vai ser lá todo dia, tudo bem…
Tarde no Margarida Café, único lugar onde a internet funciona – e a música ao vivo é surpreendentemente boa. Conversas sobre futebol, Flamengo, Botafogo, Grêmio. Hora da mesa do Chico Buarque. Não consegui ingresso mesmo, já que eles esgotaram no dia em que foram postos à venda. Uma olhada na praça, lotada, mulheres loucas em torno do mito. Eu, na contramão, fiquei apaixonada pelo Milton Hatoum. Ele leu tão bem um trecho de seu novo romance, quando normalmente os autores leem sempre tão mal os seus próprios livros… Que homem incrível, sem medo de assumir suas idiossincrasias…
À noite, palestra sobre cinema na Casa da Cultura. O mesmo Atiq Rahimi da mesa da manhã, aqui bem mais inspirado – ou talvez mais à vontade. A discussão sobre roteiro e filmes foi bem interessante. Atiq adaptou seu livro para o cinema – eu quis perguntar sobre o que ele teria sentido se outro roteirista o tivesse feito. Mas acabei não perguntando – as perguntas da plateia são sempre tão idiotas que eu prefiro ficar calada nessas horas…
Depois, jantar no único restaurante que tinha mesa vaga, do outro lado do centro histórico – Paraty está lotada! E rumei para a festa do Baratos da Ribeiro. Cheguei tarde, os autores já estavam todos bêbados e felizes – felicidade merecida! A festa acabou à uma da manhã, quando entrou uma banda que é hit entre os adolescentes da cidade – e fomos todos procurar a nossa turma. A tentativa de ir à festa de lançamento de uma editora nova foi frustrada. Chegamos lá quando o som tinha acabado de explodir – e mais uma vez fomos todos embora.
Terminei a noite às quatro da manhã, com amigos, em um bar especializado em cachaça, conversando com uma menina adorável de dezessete anos, com todas as angústias de quem tem dezessete anos e mora em uma cidade pequena.
Amanhã tem Sophie Calle de manhã e eu tenho que conseguir acordar cedo…
Por Maíra Fernandes de Melo, participando do lançamento do livro Clube da Leitura: Modo de Usar, Vol. 1, direto da FLIP 2009.