Na noite de sexta-feira, 8 de julho, a programação da Flip anunciava a apresentação do teatro “Tarsila” na Casa da Cultura. Mas a procura foi tamanha que a organização da feira resolveu realocar a peça para a Tenda dos Autores, onde estavam acontecendo as mesas de debate da programação principal da Flip. Apesar do espaço maior, o palco não havia sido montado para receber os atores em movimento, então, a solução foi transformar o teatro em leitura dramatizada. E o resultado foi uma leitura com entusiasmo e envolvimento tanto dos autores, que até se perdiam pelas frases quando se empolgavam nos movimentos e se esqueciam de fixar os olhos no papel, quanto do público que pôde imaginar desde cenas de amor, até lugares e obras citadas.
Ter assistido ao seriado “Um Só Coração”, exibido pela Rede Globo em 2004, pode ter ajudado a resgatar imagens da história de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti, interpretados, respectivamente, por Eliane Giardini, José Rubens Chachá, Paschoal da Conceição e Betty Gofman. Sim, eram eles que estavam em Paraty realizando a leitura da peça, também.
Maria Adelaide Amaral, roteirista da minissérie global e escritora da peça, apareceu no palco para um rápido bate-papo com a plateia. O local estava lotado e tinha uma espectadora especial, a filha de Oswald de Andrade, Marília de Andrade. Ela inclusive ajudou a organização da Flip a obter um acervo raro de fotos e manuscritos de seu pai, o grande homenageado da feira.
Oswald de Andrade (lê-se Oswáld) foi um grande expoente do Modernismo no Brasil. Organizou a Semana de 22 ou Semana da Arte Moderna de São Paulo de 1922, quando se buscava uma identidade cultural para o país. Escreveu o “Movimento Antropofágico” (1928), onde declarava a superioridade da cultura brasileira que “digeria” a cultura europeia colonizadora para, então, criar a sua própria. Este manifesto foi uma referência ao canibalismo praticado por sociedades tribais que comem seus inimigos como forma de englobar as qualidades destes para si, isto é, o canibalismo como adoração ao outro.
Tarsila do Amaral, com quem Oswald de Andrade manteve um caso, pintou a tela que recebeu o nome de “Abaporu”, termo que em tupi significa o homem que come gente. O quadro foi símbolo da antropofagia modernista e marcou a carreira desta importante artista brasileira.
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