Começou nesta segunda-feira, dia 16 de novembro, uma série de palestras no Oi Futuro de Ipanema sobre livros e leitura na web.
A primeira mesa versou sobre os leitores eletrônicos de e-books, que devem causar alvoroço e modificar, de forma definitiva, o mercado editorial. Tais dispositivos permitem que se tenha em um aparelho de cerca de um palmo, milhares de livros. Por poucos dólares faz-se o download e magicamente o conteúdo surge na diminuta tela, que permite que se leia vertical ou horizontalmente. Basta virar o aparelho que a imagem troca de sentido.
Uma indiscutível vantagem de tais dispositivos sobre o papel é a possibilidade de conjugação de mídias, podendo-se, sem custos adicionais de edição, acrescentar ao texto fotos ou música.
Por ora, apenas o Kindle, da Amazon, e o Reader, da Sony, parecem estar disponíveis no mercado. Mas em poucos anos serão diversas as opções. Aqui mesmo, em terras tupiniquins, está sendo desenvolvido o primeiro leitor de e-book brasileiro, o Mix Leitor D, com previsão de lançamento em junho de 2010.
“Mas eu acho horrível ler em tela!”. Não subestime o poder das novas tecnologias, caro leitor. Já acharam a solução para isso! Existe uma, apenas uma empresa no mundo, que desenvolveu e detém o know how do que se chama tinta eletrônica. Uma tecnologia cujos fundamentos este colunista não tem a pretensão de compreender, que torna a leitura digital confortável aos olhos. Ao invés de despejar uma constante carga de luz contra seu rosto, a tinta eletrônica aproxima-se, visualmente, da comum, sendo forte, porém sem que seja opressora. Portanto, ler nos leitores eletrônicos portáteis não será tão desagradável quanto está sendo, por exemplo, acompanhar este texto.
Diante da nova tecnologia, surge uma questão inevitável: como ficarão as livrarias e editoras? E o livro tradicional, desaparecerá?
Foi, sobretudo, sobre esta questão que se debruçaram os palestrantes Murilo Marinho, desenvolvedor do Mix Leitor D, Heloísa Buarque de Holanda, editora atuante nos mundos digital e físico, bem como Fábio Sá Earp, economista. A facilitadora era Manya Mille, editora do Caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo.
Houve um certo consenso entre os palestrantes de que a nova tecnologia existirá em comunhão com o livro tradicional. Como bem colocado por Fábio Sá Earp, existem dois tipos de tecnologia: aquelas que praticamente extinguem a anterior; e aquelas que promovem sua recolocação, o mais comum. Exemplo do primeiro caso foi o automóvel em relação às charretes. Do segundo existem vários, como a televisão em relação ao rádio.
Antes do início do debate foi exibida uma reportagem da GloboNews sobre a questão, onde foi possível notar, através dos entrevistados, uma grande associação do Kindle e produtos afins com livros em que o leitor não tem qualquer ligação com o objeto, mas lhe interessa o conteúdo nele inscrito. É o caso do material didático. Qualquer aluno aceitaria, facilmente, trocar o peso de uma mochila lotada por um pequeno aparelho. Entretanto, quando se pensa em obras de ficção, em volumes que se encontram em charmosas livrarias e sebos, o velho impresso amarelado é campeão de audiência. Talvez por hábito e um certo saudosismo antecipado. Este apego certamente permitirá que a tradição conviva com a nova tecnologia nos próximos vinte anos. Contudo, se pensarmos daqui a cinqüenta anos ou mais, não haverá viv`alma desacostumada a ler nos dispositivos digitais e com saudade de textos impressos, já que pouco contato as gerações vindouras terão tido com eles. Somado a isto o fato do e-book ser ambientalmente correto, parece, a este colunista, que os livros físicos, por mais que demore muitas décadas, se tornarão mesmo peça rara exclusiva de sebos e poucas bibliotecas, dedicados a pequenos clubes de aficionados, e se multiplicarão os “clubes do impresso”, assim como hoje existem os clubes do vinil. Entretanto, os palestrantes preferiram não avançar a um futuro tão distante, e previram convivência harmoniosa entre os dois tipos de produto nas próximas duas décadas. E discutiram, evidentemente, como ficarão as editoras e livrarias com esta nova realidade.
Qualquer um pode, gratuitamente, colocar seu livro, por exemplo, no Kindle. Basta cadastrar-se no site da Amazon, passar o conteúdo do texto para HTML, fazer o upload e cumprir uma chata burocracia de abrir uma conta corrente num banco americano, exigência que, indubitavelmente, se extinguirá antes da tecnologia se popularizar. Para que servirão, então, as editoras? Estas são, e continuarão sendo, seletores. Com a possibilidade de publicação acessível até ao mais terrível escritor e uma inevitável multiplicação de e-books, como encontrar algo de qualidade? As editoras serão este filtro. E terão estrutura para investir em assessoria de imprensa e outras coisas necessárias para que um livro alcance o seu potencial.
As livrarias exercerão sua atividade fim sobretudo virtualmente, através da venda dos livros eletrônicos. Bastará dar o número do cartão de crédito no site de uma livraria que, em instantes, o conteúdo estará disponível no seu leitor eletrônico. Fisicamente, as livrarias se tornarão espaços culturais, com palestras, livros antigos e de arte à venda. Aliás, trata-se de uma categoria que provavelmente não deixará de existir, como bem ressaltou o economista Fábio Sá Earp. É difícil imaginar alguém trocando um belo livro de arte, com papel couché, folha grande e capa grossa, que enfeita a mesa da sala, por sua versão digital.
Fim do livro impresso ou sua recolocação no mercado? É esta a questão que se tentou responder durante boa parte da palestra. Contudo, qualquer coisa que se diga, é mera especulação. Aos leitores, escritores, editores e livreiros cabe, neste momento em que a tecnologia apresentada ainda é insipiente, conhecê-la e manter as antenas ligadas para não ficar para trás.
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