Neste mês das mulheres, uma boa dica é conferir a atual produção literária delas. Há nomes como os das escritoras Lucelena Ferreira, Angela Brandão e Ilana Eleá, que estão divulgando o livro “Fio de corte”, lançado pela editora 7Letras. Os versos falam de vida, amor, sexualidade, família, sobrecarga feminina, maturidade e isolamento social. As autoras moram no Brasil, Chile e Suécia, respectivamente, e os poemas foram trabalhados em conjunto, na pandemia, com auxílio do celular.
Hoje, elas respiram novos ares com a boa acolhida do projeto literário. Mestre em Letras pela PUC-Rio e professora de Literatura da rede estadual fluminense, Milena Sousa exaltou o trabalho do trio: “Visceral, uterino e generoso quando abraça a matéria garimpada no cotidiano para ser lapidada pelos versos.” A escritora gaúcha Mar Becker apontou o livro como uma boa novidade no cenário da poesia brasileira, em recente entrevista: “Fio de corte’ entremeia com delicadeza – e lâmina – três mulheres, três vozes, numa só publicação.”
A crítica literária Heloisa Buarque de Hollanda já tinha elogiado os versos de Lucelena, Angela e Ilana, deixando um comentário na edição: “É interessante ver as similaridades e diferenças entre elas ao correr da leitura. Por outro lado, essa dicção que enxergo nos textos me chama a atenção porque é uma forma bem nova e pessoal de ‘olhar para dentro para ver o que está fora’, que se sintoniza e, ao mesmo tempo, se distancia da poesia feminista recente. Os temas de ‘Fio de corte’ tratam da mulher de hoje, mas o tom é intimista. Entre o corpo e a alma parece não haver descontinuidade. Parabéns às autoras. É muito bom, na minha idade, ver que as minas, cada uma de seu jeito, estão pisando no acelerador. Bom demais.”
Segundo as autoras, a sintonia foi grande desde os primeiros encontros. “O livro fala muito da perspectiva feminina no mundo machista, e foi pensado e tocado a seis mãos, como num concerto. É uma levantando a outra, sem rivalidade. Lidamos bem com o passar do tempo, somos quebradoras de estereótipos, rejeitando a ideia do sexo frágil”, conta Lucelena, que uniu Angela e Ilana no projeto.
Fotos antigas de mulheres inspiradoras e fortes saíram dos álbuns de família das poetas para ilustrar a abertura das três partes de “Fio de corte”. Estão lá a bisavó de Angela, a avó de Ilana e a mãe de Lucelena, antes dos poemas de cada uma. “Crescemos ouvindo mais as histórias sobre os homens da casa do que sobre elas. Com o livro, fomos nos reaproximando dessas matriarcas. A cadeia de transmissão não termina. Também somos mães de mulheres”, frisa Angela.
Para Ilana, o livro é um convite ao diálogo, com mulheres falando com mulheres e com quem quiser chegar. “É uma conversa aberta. Na minha literatura erótica, falo da desconstrução do amor romântico entre pares, da abertura do casamento monogâmico, da ampliação de possibilidades nos relacionamentos. Tem espaço também para escrever sobre o gozo, a vaidade que aprisiona, além da violência contra a mulher”, lista Ilana,
Lucelena Ferreira é escritora, professora e doutora em Letras e em Educação pela PUC e na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Em 2019, lançou “Mulheres na liderança”. Angela Brandão é jornalista, doutora em Comunicação pela PUC-Chile, escritora, compositora e tradutora. Em 2015, publicou “Quarentena amorosa”, sobre separações, lançado no Brasil e no Chile. Ilana Eleá é doutora em Educação pela PUC-Rio e autora de “Encontros de neve e sol”, “Poemas acesos” e “Emma e o sexo”, primeiro título de uma trilogia erótica. Nas redes sociais e em vídeos, as amigas mostram alguns versos do “Fio de corte”.
Comente!