Chris Bohjalian se apaixonou pelo clássico O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e dele escreveu O Laço Duplo. Um livro onde tudo parece ser real, mas há muito mais coisas por trás daquilo que é narrado. Laurel Eastbrook tinha 19 anos, estava no segundo ano da faculdade em Burlington e adorava andar de bicicleta no morro Underhill. Em um de seus passeios, foi atacada por dois homens que tentaram estuprá-la e matá-la. Anos depois, já formada e com seus agressores na cadeia, Laurel, assistente social em um abrigo para sem-tetos, volta a se deparar com a fatídica tarde de domingo em Underhill.
Um ex-cliente seu, um idoso esquizofrênico sem-teto chamado Bobbie Crocker, morreu e deixou para trás um punhado de fotos e negativos que dizia serem seus. Laurel então é incumbida de organizar o material para fazer uma exposição para angariar fundos para o abrigo. Mas entre as imagens de famosos dos anos 50 e 60, ela encontra registros do antigo clube onde passava seus dias de infância e de uma moça andando de bicicleta no meio de uma floresta. Uma moça muito parecida com ela. A organização das fotos passa então a virar uma obsessão para desvendar o mistério por trás de Bobbie, sua família e dela mesma.
Bohjalian insere o leitor dentro da mente de Laurel de forma simples. Acreditamos seriamente no que ela pensa e vê, mas o livro engana o leitor. Através dele sentimos como uma pessoa pode se fechar para esquecer de fatos dolorosos. Através dos relacionamentos dela com seus amigos e colegas, percebemos que pelo menos parte do que é relatado ao leitor sobre Laurel é prova de sua insanidade. E aí está a grande virada da história: nada do que é relatado na narração é verdade. Quer dizer, o livro é uma ficção, claro, mas uma mentira. Uma invenção da cabeça de Laurel. E Bohjalian coloca isso de forma tão natural que nem se percebe em que momento há essa troca entre Laurel sã e Laurel louca.
E é aí que entra O Grande Gatsby, livro base de O Laço Duplo. Tudo o que Laurel vê e pensa ser verdade é o enredo do livro de Fitzgerald. Um jeito realmente muito bom de se homenagear uma obra, fazendo-a parte da sua. Mas não é apenas em O Grande Gatsby que Bohjalian encontrou os elementos da trama. As fotos de Bobbie, representadas em algumas páginas do livro, são reais, mas creditadas à Bob Campbell, um sem-teto de Burlington. Ou seja, parte da história até é real.
O que caracteriza O Laço Duplo com uma leitura maravilhosa foi a técnica de Bohjalian de dar provas que afirmavam que tudo o que Laurel dizia era real, ao mesmo tempo em que percebíamos que ela não estava raciocinando bem sobre o assunto, para no final ser revelado o que realmente estava acontecendo. Isso sem deixar a sensação de que o autor esta fazendo os leitores de bobos. Ele mostra o quanto as pessoas podem mentir para si mesmas, e quais as conseqüências que essas mentiras podem trazer. Sem dúvida, O Laço Duplo é um livro que merece atenção, e que com certeza vai mais surpreender do que decepcionar.