Pegue Harry Potter e tire as bruxas, magos e elfos. Tire a trama da Inglaterra e a coloque em Nova York. Agora adicione mitologia grega e misture com três adolescentes: um corajoso, um paspalhão e uma menina super inteligente. Deixe no forno por alguns minutos e eis a série Percy Jackson e os Olimpianos, do americano Rick Riordan. Leiam bem: não estou chamando Riordan de plagiador de J. K. Rowling. Não! Nem dizendo que Percy e Harry são iguais. Mas há sim semelhanças entre as duas personagens, o que justifica o título de “novo Harry Potter” dado à série.
Esse fato me levou ao interesse por Percy Jackson e os Olimpianos, e finalmente li seu primeiro livro, O Ladrão de Raios, da editora Intrínseca. Percy, um garoto de 12 anos com dislexia e déficit de atenção, não consegue ficar um ano inteiro na escola sem ser expulso. É tido como incapaz de fazer qualquer coisa certa e é péssimo nas aulas. A confusão o persegue, e não adianta fugir. Se Percy já não parece normal para você, ainda pode ficar pior. Ele é um semideus, que depois de quase ser morto por um dos monstros do submundo, chega ao Acampamento Meio-Sangue.
O lugar é um refúgio para todos os semideuses da Terra, que geralmente nem chegam a passar dos 12 anos de idade. Lá, Percy fica sabendo que seu melhor amigo, Grover, é um sátiro, seu professor de história é um centauro e vira amigo de Annabeth, filha de Atena. Mas a vida de um semideus não é nada fácil, principalmente quando se descobre ser filho de Poseidon, que estava proibido de se envolver com humanos. Percy chega ao acampamento em meio a uma discussão entre seu pai e Zeus, que acusa o garoto de roubar seu raio mestre. Então é ele quem deve recuperar o artefato para provar que seu pai não é ladrão e evitar a Terceira Guerra Mundial. Em 10 dias.
Corrido e talvez meio apelativo, não? Narrado em primeira pessoa, Percy conta suas aventuras ao lado dos amigos para tentar dar conta dessa missão saindo vivo dela. Ele é um garoto inteligente, e seus “distúrbios” de aprendizado são conseqüência da sua condição de semideus, o que o torna muito talentoso no que realmente importa: lutar. Sarcástico, ele arranca boas risadas dos leitores, assim como Grover e Annabeth, fazendo da série infantojuvenil uma narrativa rápida e deliciosa de ler.
Porém, faltou algo em O Ladrão de Raios para realmente me fazer simpatizar com Percy. Considerei o personagem maduro demais para a idade, e depois de ingressar no acampamento, ele não cometia nenhum erro, nenhuma falha, parecia ser perfeito. Mesmo quando dizia ter medo, não convencia, pois o autor deixava claro que tudo sairia bem, que Percy daria um jeito, com uma leve ajuda de seus amigos e uma sorte sem generosa.
O resultado final, contudo, não deixou de ser positivo. O Ladrão de Raios cumpre o objetivo de entreter, e de quebra ensina um pouco de mitologia pra quem não a conhece. Até isso podia ser melhor explorado, mas Riordan optou por caracterizar os deuses nos EUA atual do a que dar mais espaço às antigas lendas. O que, espero, seja feito nos próximos volumes. Também espero ver mais de Dionísio. Simplesmente adorei o jeitão mau-humorado que deram ao deus, tendo como como castigo dirigir o Acampamento Meio-Sangue e ser totalmente alheio às crianças.
A série Percy Jackson e os Olimpianos é uma boa recomendação para jovens que queiram uma história simples e divertida de ler, mas também pode agradar a muitos marmanjos. Sem dúvida, abre o interesse para a mitologia grega, encantando ainda mais por juntar o antigo ao atual, e levando os leitores a fantasias deliciosas de serem vividas. Mas pode ser melhor.