Assim como no Cinema, pouquíssima atenção (ou nenhuma) é dada a autores não-americanos. Tais livros não ganham destaques nas vitrines das lojas, nem indicações dos livreiros ou amigos. Ganham quase que um status de “livro independente”, assim como os filmes. Se leu um livro não-comercial, já pode se considerar cult. O que é uma enorme besteira.
Fato inegável de que autores americanos são o que detém a maior parte da fatia de vendas de livros atualmente. O que não quer dizer que autores de outras nacionalidades não possam ter a mesma chance.
Desde que li a trilogia Millennium de Stieg Larsson, qualquer coisa que venha do lado de lá da Europa me anima. E também, é graças a ele que esses autores, começaram a ganhar mais espaço nas prateleiras brasileiras. O que vem a ser o caso das autoras Dinamarquesas, Agnete Friis e Lene Kaaberbøl que juntas escreveram o livro “O Menino da Mala” – Editora Arqueiro (256 páginas) – lançamento do mês de Julho.
Nina é uma enfermeira da Cruz Vermelha que passa seus dias cuidando dos mais variados pacientes na clínica onde trabalha. Ela é muito forte e não se assusta com qualquer coisa em seu trabalho. Mas, a única coisa que incomoda Nina, são pacientes como Natalia, que é vítima de abuso do marido e, por ser uma imigrante ilegal, não pode reportar o abuso a Polícia, com medo de deportação. Se pudesse, ela salvaria todas essas pessoas. Não é à toa que ela faz parte de uma rede clandestina que auxilia essas pessoas que não podem arcar com as despesas.
Um dia, Nina recebe a ligação de Karin, uma antiga amiga da época da faculdade. Parecendo meio desesperada ao telefone, Karin pede para Nina ir encontrá-la e lhe pede um favor: que a amiga vá até a estação ferroviária e retire uma mala do guarda-volumes. Nina tenta fazer algumas perguntas, mas Karin sai em disparada, dizendo: “Você adora salvar as pessoas, não é? Bem, aqui está a sua chance.”
Não querendo voltar para o trabalho, decide ir até a estação e fazer o que pediu a amiga. Ao abrir o armário, ela constata que a mala é um pouco grande para estar ali e mais pesada do que parece. Lembrando-se da instrução de Karin de não abrir até sair da estação, ela a carrega com muito esforço até seu carro. Chegando lá, Nina tem uma surpresa. Dentro da mala está um menino de 3 anos, nu e imóvel. De início, ela pensa que está morto, mas logo vê que na verdade ele está dopado. Ela o coloca no banco de trás do carro e volta até a estação para falar com a Polícia.
Mas se depara com um pequeno burburinho, quando vê um brutamontes socando o armário em que ela acabou de tirar a mala. Assustada, acha que a amiga lhe envolveu em tráfico de crianças e decide sair dali às pressas. Não sem antes ser vista pelo grandalhão. Atordoada, sem saber para onde ir, decide primeiro cuidar do menino para depois ir atrás de Karin e conseguir respostas para aquela situação.
Está de noite quando ela vai à casa da amiga, mas o que encontra lá não é nada bom. Karin foi assassinada e ela começa a se dar conta de que também está sendo perseguida. Agora Nina precisa se proteger e também desvendar esse mistério. Quem é essa criança? Como ela foi parar naquela mala, e por qual razão?
É uma leitura rápida e instigante. Não há tempo a se perder e a trama é movimentada desde a primeira página. Os personagens são muito bem construídos e nenhum deles é passivo à estória. A cada capítulo, vemos qual é o nível do envolvimento deles naquela confusão e somos apresentados ao passado de cada um muito superficialmente, apenas para uma melhor compreensão de tudo, o que não afeta em nada a estória. O final é surpreendente. Não tem como adivinhar, pois as autoras não dão nenhuma pista no decorrer da estória.
O tema é bem interessante, abordando o tráfico humano, mas não de uma forma global, se atendo mais ao problema apenas na Dinamarca, assim como também os imigrantes, que parece ser bastante comum por lá. Elas também fazem uma leve crítica ao descrever alguns locais, ilustrando a tamanha distância que existe entre os mais afortunados e aqueles que lutam pela sobrevivência diária.
Este é o primeiro livro da enfermeira Nina Borg, que já foi vendido para 27 países. Mais estórias estão por vir.
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