Se O Tigre de Sharpe não tivesse o nome do autor na capa, saberia dizer de quem era o livro do mesmo jeito, a narração de Bernard Cornwell é única. O livro faz parte da grande série As Aventuras de Sharpe, que teve seu início em 1981 e já soma 21 livros na Inglaterra. Aqui no Brasil contamos com sete volumes que não seguem a ordem de publicação original, mas sim a ordem cronológica da História.
Nesse primeiro livro da série publicado aqui, conhecemos Richard Sharpe, soldado do 33º Regimento inglês que se encontra na Índia a fim de tomar a cidade de Seringapatan, dominada pelo sultão Tipu. Jovem e infeliz com a vida no exército, o recruta pensa constantemente em desertar junto com Mary Bickerstaff, viúva de um sargento que morreu no acampamento do exército. Sharpe é um bom soldado, como dizem seus colegas, mas sem saber o porquê, desperta o ódio do sargento Hakeswill que sempre procura humilhá-lo.
Depois de várias situações passadas por Sharpe, ele é enviado numa missão de resgate na cidade de Seringapatan junto com o tenente Lawford, cujo tio, o capitão McCandless, foi preso pelos soldados de Tipu. É a partir desse momento que Sharpe começa a mostrar o seu grande potencial dentro do exército: tomando decisões à frente de seus oficiais e se dando conta de que nasceu para lutar.
Sharpe é uma personagem enigmática. Ele é bondoso, porém cruel. Romântico e cafajeste. Misericordioso e vingativo. Superior e humilde. Cornwell criou um belo anti-herói, cativante e esperto, mas que em alguns momentos se mostra indigesto e ignorante. Porém, é impossível não se apaixonar pela personagem. Ele não é atroz, mas também não é nenhum menino meloso que sonha com a paz mundial. Ele avalia seus amigos e inimigos e dá a eles o que merecem.
As batalhas são bem narradas e o livro transmite o clima tenso de uma guerra. Para quem não gosta dessa atmosfera, apenas lamento, porque é disso que o livro trata. As lutas são o centro da narrativa e a vida de Sharpe. O que no início pareceu ser um romance, cujo final seria Sharpe casado e seguro junto de Mary, mostrou-se algo totalmente diferente. O que impera na trama é a honra de ser um bom soldado, protegendo seu país acima de tudo.
Como sempre, no fim do livro, Cornwell esclarece os fatos históricos, separando a ficção do que realmente aconteceu. A maior parte dos relatos na narração são verídicos, com exceção de algumas passagens e, infelizmente, do próprio Sharpe, que nunca existiu. Isso transforma a obra não só numa boa diversão literária, mas também em um instrumento para conhecer acontecimentos passados. Se eu fosse professora de História, esse livro seria leitura obrigatória.
Izze… eu adoro o Cornwell, sem dúvidas ele é um dos meus escritores favoritos. Mas é muito complicado afirmar que a obra dele é historicamente acurada (assim como afirmar que quaqluer coisa é historicamente acurada). Dê uma olhada nesse texto, que apesar de bem fraco, explica de forma simples as principais questões que a historiografia apresenta hoje:
http://despotismolirico.wordpress.com/2009/04/15/um-pouco-de-teoria-da-historia/
🙂
A resenha ficou bem legal entretanto…
Desculpa Felipe mas afirmar que algo não pode ser afirmado é uma contradição.
Mas pior que isso é entrar nestas discussões acadêmicas que nunca levam a lugar algum.
Não, não é… É bastante natural e antigo ter certeza de que é impossível se ter certeza sobre alguma coisa. Está lá no início do pensamento ocidental, em Sócrates…
Novamente, isso é demagogia acadêmica
Claro, sócrates não passa de demagogia acadêmica. Poxa cara, argumenta por que você acha a minha afirmação um paradoxo.
Justamente eu quero evitar esse tipo de discussão, o meu primeiro comentário era um alerta para isso.
Beleza, vamos ignorar essa parte. Mas é que qualquer um na posição de historiador ia achar muito estranho esse posicionamento que mesmo o Cornwell não defende. Ele gosta de colocar uma base “histórica” nas suas narrativas, mas isso não as torna menos fantasiosas. Ele mesmo entende de história para afirmar várias vezes nos apêndices de seus livros que não é possível ter certeza do que ele está escrevendo.
Eu acho uma questão interessante para se colocar em uma discussão de uma resenha de Cornwell.
Cornwell é o kara… mas 21 volumes??!
A serie de Sharpe ainda não está concluída?!
Que eu sei, ainda não. É o que o “até agora são 21 livros publicados” que vi nas interwebs implica.
E eu também fiquei espantada com o número de livros. Cornwell tem uma bagagem histórica enooooorme pra fazer tantos livros assim.
A série tá concluída sim, mas nada impede dele lançar outro livro do Sharpe 😀
Atualmente o Cornwell trabalha na série “Crônicas Saxônicas”, eu publiquei a crítica do primeiro livro aqui:
http://www.ambrosia.com.br/2009/03/15/cronicas-saxonicas-o-ultimo-reino/
Hmmm.. Também acho que não impede que publique mais. Não se o Sharpe não morreu no último livro, obóvio. xD
Mas sabe qual foi a impressão que tive, mesmo lendo só esse livro? Que Sharpe é um personagem que vai ser usado até a morte do Cornwell. Só vai parar quando não houver mais Cornwell.
Fora que ele não lançou os livros numa ordem cronológica, como você bem apontou, então também nada impede dele lançar um novo livro que se passa entre os outros volumes publlicados.
Mas vale lembrar que faz 17 anos que Cornwell não publica nada novo de As Aventuras de Sharpe…
17, tem certeza?
No site dele, aqui do Brasil, tá que o último foi lançado em 2003. o.O
Então quer dizer que Cornwell ainda não concluiu “Crônicas Saxônicas”?!
|0| Isso sim é que é uma excelente noticia… fiquei assim meio WTF com o final do quarto livro de Crônicas Saxônicas.
Já tem alguma data previa para o lançamento do 5º livro sobre Uthred?!
Ouvi dizer que seriam 7 volumes no total =D