É sempre um erro resenhar um clássico. Enumerar as qualidades de obras cujos elogios feitos já beiram a exaustão, ao clichê e a lisonja. Independente disso, há livros – sobretudo dentre os clássicos – que não se pode deixar passar em branco nem na indiferença. Jane Austen e seu Orgulho e preconceito possuem todos os critérios que os especialistas julgam essenciais para classificá-los entre as obras obrigatórias. E apesar de toda a pompa e arrogância dos especialistas em questão, eu e você, em toda nossa inferioridade e ignorância, podemos, de alguma forma, apreciar as particularidades dessa comédia de costumes que sobreviveu à passagem dos séculos.
Caracterizada por seu humor afiado, Jane Austen abre as portas da sociedade inglesa do século XVIII e ridiculariza as convenções vazias e contraditórias, o pudor hipócrita e a idolatria da aparência, dos títulos e da posição social. É nesse contexto que está inserida a família Bennet; a mãe espalhafatosa, o pai cínico e as cinco filhas mulheres que pela inferioridade do gênero, vêem-se sempre diante da possibilidade de perder a propriedade do pai para um primo distante com o qual não mantêm boas relações. Assim, para mantê-las bem quistas e garanti-las um futuro próspero, Mrs. Bennet sai à caça desesperada de bons partidos para as suas meninas.
É quando um jovem solteiro se muda para a vizinhança. Mr. Bingley possui todas as qualidades econômicas e emocionais necessárias ao marido modelo. Sua amabilidade, boas relações, respeito e complacência tornam-se imediatamente motivos da devoção generalizada. Provavelmente, o único defeito a lhe ser atribuído é a companhia de seu melhor amigo, Mr. Darcy; antipático, calado, crítico e brusco, é a personificação da arrogância e apesar de sua renda anual invejável, torna-se logo um incômodo aos encontros sociais. Em outras palavras, eis o Orgulho.
O preconceito, por sua vez, nasce na casa dos Bennet, chama-se Elizabeth e é a dona de uma beleza diferenciada, ressaltada num par de olhos negros marcantes e num ar de moça independente muito mal aceito em sua época. Então quando Orgulho e Preconceito se conhecem, se chocam, por ocasião de um baile da alta classe, se encaminham naturalmente ao ódio mútuo.
E assim segue Austen, na seqüência dos encontros e desencontros desses personagens ao longo da vida, ora revestidos de ódio, ora de amores, compondo pouco a pouco os bem estruturados diálogos que fizeram a fama e o respeito da autora. Austen leva seus livros na simplicidade de frases corridas, sempre concisa e objetiva, se prendendo ao curso de seu texto, sem desvios nem interrupções. Ela apenas conta sua história. A história de um amor racional, sem o desespero das paixões arrebatadoras; um amor calculado que se vale da lógica. Acrescendo a isso um grupo de personagens bem caracterizados e muitas vezes propositalmente ridículos, o que dá força a sua sátira social.
Essa nova publicação da obra é o número 13 da coleção de clássicos divulgados pela Editora Abril no ano passado, com uma bela capa revestida de tecido e a excepcional tradução de Lúcio Cardoso. Conheça a coleção aqui.
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JANE AUSTEN nasceu em 1775 e suas obras mais conhecidas são Razão e sensibilidade, Orgulho e preconceito e Emma. Diferente de outro gênios, não era incompreendida em sua época, tendo grande aceitação do público, embora não assinasse os livros em seu nome. Jane Austen morreu jovem, aos 41 anos não se sabe ao certo de que doença.