No perigoso Criancinhas, Tom Perrota nos apresenta um grupo inusitado de adultos e seus adoráveis filhos: pais ordinários e inocentes em igual medida, vivendo das aparências, da perfeição e da riqueza de um caricato subúrbio americano.
Tem Sarah, uma ex-feminista que já se aproxima da meia-idade quando finalmente constata a futilidade de sua rotina, presa a um casamento cada vez mais falido com um homem mais velho que já perdera a graça e o romantismo; esse homem é Richard, com seus cabelos brancos e sua fachada de trabalhador sério, sempre procurando encobrir a seboseira de suas perversões, enquanto escondido em seu escritório escuro, se afunda pouco a pouco no viciante mundo da pornografia virtual.
Não muito longe dali, mora Todd, o pai desempregado, razoavelmente compreensivo e esforçado, que cuida da casa e do filho, enquanto sua mulher Kathy sai para trabalhar e sustentar o lar – que imperceptivelmente se despedaça – sempre insatisfeita por não poder ser uma mãe, ser a mãe que sempre sonhou ser.
Apesar disso, tudo está bem. Os problemas são pequenos e ninguém poderia ver por trás dos porta-retratos emoldurados com famílias felizes, as estruturas que cedem pouco a pouco. Tudo está em paz no inabalável cotidiano suburbano, inabalável fachada de gente medíocre, até aquele verão muito quente em que um pedófilo condenado é liberto da cadeia e se muda para a vizinhança, instaurando entre os pais um estado de paranóia generalizada, de insultos e de ataques no meio da noite.
Enquanto isso, um pai e uma mãe respeitáveis, resolvem descobrir o que há de tão melhor na grama do vizinho; e daquele primeiro beijo inesperado, nasce uma relação proibida, um escândalo no meio do sonho americano.
Criancinhas é grandioso. Combina suspense com humor ácido de forma gananciosa. Uma trama curiosa, corajosa, que intencionalmente, expõe a podridão social, as imperfeições dos que tão calorosamente defendem os bons costumes. Embora leve, um romance adulto. Que exige cuidado e o mínimo de preconceito. O melhor em Perrota é a sua sensibilidade, sua habilidade de caracterizar bem seus personagens, de uma forma capaz de humanizar até mesmo um monstro.
Em 2006, Criancinhas foi adaptado para o cinema sob a direção de Todd Field, alcançando relativo sucesso. Na versão nacional foi chamado de Pecados íntimos. Trailer abaixo:
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[xrr rating=4/5]
TOM PERRORA vive em Belmont, no estado de Massachusetts, é casado e tem dois filhos. É o escritor, entre outras obras, de Joe College e Eleição, esse último, também já adaptado para o cinema.