Fernanda Fatureto é autora de Ensaios para a queda (Penalux, 2017). É bacharel em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Participou das antologias poéticas 29 de Abril: o verso da violência; Subversa 2 e Senhoras Obscenas. Estreou com o livro de poemas Intimidade Inconfessável (Patuá, 2014). Possui poemas em revistas literárias do Brasil e nas revistas portuguesas Enfermaria 6 e InComunidade. Fizemos quatro perguntas à escritora. Confira abaixo:
1-) Não existe prosa poética no seu livro, mas você de uma maneira muito peculiar desenha narrativas extremamente sugestivas nos seus poemas como algumas circularidades envolvendo os três temas que alinham o livro. Fale sobre isso?
Cada poeta opta pela forma que utilizará em seus poemas e a estrutura formal é uma prerrogativa do trabalho de cada autor. A forma é muito importante e diz muito sobre cada autor, especialmente em poesia. Minha opção pelos versos significa minha proximidade com essa maneira de escrever na medida em que opto por deixar condensado aquilo que quero dizer. No meu trabalho, os poemas comunicam por meio do condensamento da escrita e não de maneira dilatada como ocorre na prosa poética. Mas contar histórias faz parte daquilo que escrevo como bem lembrou no prefácio o poeta e escritor André Caramuru Aubert, ou seja, muitas vezes meus poemas são narrativos. O que significa que forma e conteúdo andam juntos no meu trabalho.
2-) A ideia é que seus poemas sejam algum tipo de condução para estudar ou sondar os limites da linguagem, quando testada por vontades humanas. Por que esta preferência pelos desvãos da linguagem?
Mesmo os surrealistas, se não tivessem consciência daquilo que queriam escrever, não escreveriam. Há de se ter uma ideia clara do que se quer escrever. Mas a escrita para mim – e aqui falo de poesia – também é experimentação aliada ao inconsciente. Inconsciente é linguagem, dizia Lacan. Linguagem aliada à experiência. Então para mim, a construção dos poemas parte sempre de uma estrutura formal e de uma história que quero contar, mas também desse diálogo com meu inconsciente, com o que me é oculto até o momento que lanço minha escrita na página.
3-) Há um canto litúrgico como uma espécie de coro que ecoa no ouvido de quem canta ou fala seus poemas. Mas você não prega o conteúdo de uma religião, vai ao limite pagão escolhendo a queda como veia central do livro. Porque esta preferência pela forma litúrgica ao escrever os poemas?
Não vejo um conteúdo “pagão” em meu livro Ensaios para a queda. Porém, na construção do livro pensei na queda humana – e temos a queda desde Adão nos tempos bíblicos. Talvez esta sua interpretação sobre o sagrado venha daí. E neste aspecto tem um pouco sim da questão do sagrado no que o livro propõe. Nos poemas do livro, tento abarcar o lado imaterial do humano; aquilo que nos faz cair mas também nos redime enquanto humanidade.
4-) A terceira suíte Polifonia achei sutis diferenças temáticas e de estilo com relação as duas anteriores.Adquirem uma contemporaneidade e referências não encontradas na Travessias e Miragem. Você nota esta especificidade nela com relação às outras duas?
De fato há essa diferença, porque como o nome mesmo indica – “Polifonia” – é um diálogo com diferentes vozes. Trago um pouco da cultura grega, dos atentados terroristas, das ruínas da guerra. São formas de diálogo com a queda do homem moderno e contemporâneo. E as diferentes muralhas que construímos para nos separar daqueles que não vemos como iguais, mas como inimigos. Já na primeira e segunda parte do livro, “Travessias” e “Miragem”, são poemas mais etéreos que falam um pouco mais do sublime.
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