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Quatro perguntas para a escritora Nina Rizzi

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Nina Rizzi é historiadora, tradutora, poeta e uma das articuladoras do Sarau da B1/Cj. São Cristóvão – Jangurussu. Autora de Tambores pra n’zinga (poesia, Orpheu/ Ed. Multifoco, 2012), caderno-goiabada(prosa ensaística, Edições Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (tradução, Edições Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (poesia, Ed. Patuá, 2014), Romério Rômulo: ¡Ah, si yo fuera Maradona! (versão em espanhol), Geografia dos ossos (poesia, Douda Correria, Portugal, 2016), Oscar Hahn: Tratado de Sortilégios (tradução, Lumme Editor, 2016);quando vieres ver um banzo cor de fogo (poesia, Editora Patuá, 2017); e Alejandra Pizarnik: Árvore de Diana (tradução, Edições Ellenismos). Coedita a revista escamandro poesia tradução crítica e escreve regularmente no quandos. FIzemos quatro perguntas para a escritora. Confira abaixo:

1)  Você toca numa questão da terra, do ventre, das cavidades, junto com muitas referências aos animais. Mas deixa que isso se fale e se poetize sem uma intervenção cultural formativa. Vai ao cerne do mito sem o controle censor de nosso padrão cultural. Fale sobre isso.

Você já falou tudo (risos). Acredito muito numa assertiva poemática de Heriberto Yépez que por alguma razão que só a poesia sabe não entrou como epígrafe no livro: “A dança, a poesia e a memória, tudo nos foi ensinado pelas criaturas não-humanas. Os primeiros xamãs da linguagem são os animais selvagens.” Tentei nesse livro deixar falar essas vozes que são anteriores à linguagem. Se n’A Duração do Deserto’, as referências, que na verdade são mais reverências para uma desconstrução, aqui no ‘banzo’ busco uma espécie de origem, os rastros que a fala mais natural produz. Re-ouvir, a primeira fala, a fala dos rios e plantas, animais; uma fala do Desejo. Deixar existir a poesia mais selvagem.

2)  Há uma forma muito bonita e livre sua de escrever o erotismo pela escrita libertadora sem nenhum traço para julgar/preconceber. A verdadeira escrita deve ser algum tipo de localização (rasgo?) na própria carne? 

Não sei se “a verdadeira escrita”, tudo que se escreva com o desejo da escrita é verdadeiro. Toda escritura é em alguma medida erótica; se deixar entregue à escritura, deixar que ela venha como vem a noite aos amantes, amar e se despir como o corpo quando ama… então se me deixo entregue à escritura, tematize ela o que for, é um gesto erótico e político. Toda escritura é também política, também independente do que tematize, e no caso de uma escritura erótica, feita por mulher, essa potência política é ainda mais latente.

3)  Você usa na epígrafe em um dos seus poemas o animam coyote. Qual sua simbologia? Que tipos de rebatimentos este conceito trouxe para seu poema/livro?  

Embora seja solitário, uive sozinho à lua, o coiote é sempre fiel ao seu bando. A escritura é atividade solitária, mas não abandono meu bando: a poesia, os animais, o amor, um chamado selvagem que os povos tribais ainda podem ouvir e que busco também escutar e ser. O desejo deste livro é que seja o mais selvagem, como é o amor, a vida simples, a natureza.

4)  Há um curta-metragem realizado por dois cineastas sobre estes poemas deste livro. Como foi o processo de adaptação do livro para uma estética  audiovisual?

Na verdade o curta “Noturnos” foi baseado em poemas do meu primeiro livro “tambores pra n’zinga”, de 2012. O Carito é um amigo que acompanhou o processo de escrita desse livro e na época começava a fazer suas primeiras experiências em cinema, experiências maravilhosas; quando o livro estava pronto, fui convidada para um Festival de Poesia em Angola, eu e Carito já havíamos feito juntos um curta mais experimental, e quando aceitei o convite para ir à Luanda, encomendei um filme a ele, com alguns poemas do livro. E como você viu, ele fez muito mais que um curta, é uma obra-prima que fala mesmo sem o livro sua mãe.

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