Resenha: Peça: "As Rãs" (re)definem as referências artísticas de um texto

Se temos hoje a Internet com suas imbricações de textos e mensagens circulando numa linha cruzada de subjetividades, vemos o que tinha na Grécia antiga quando as referências à textos e citações não obedeciam à critérios cibernéticos. Lá a circulação de textos ficcionais era mediada pelo Teatro Poético Trágico. Mas não só isso, existia pelo menos no que absorvo lendo a comédia “As Rãs”, Cosac Naify, do dramaturgo grego Aristófanes, uma ácida e intertextual abordagem sobre o que é Arte quando se trata de referências bibliográficas sobre origens e textos de outros autores.
Toda peça é alinhavada através de uma circulação feita através do humor e da paródia sobre as questões da qualidade de um texto literário? E não só isso, questões de cunho sexual ou referências a piadas sexuais são expostas durante a peça de forma tão leve e descontraída que o vetor de um politicamente correto caso existisse hoje uma peça dessa, produzida agora, seria já cerceada. Dionísio e seu servo Xântias estão a caminho de entrar no Hades, onde Dionísio sozinho será um mediador (uma palavra moderna de hoje) entre os dois poetas que estão no Hades. Haverá entre os dois: Ésquilo e Eurípedes uma prova poética onde cada uma usará seu repertório bibliográfico de citações a seus textos das suas peças para vencer o duelo e voltar ao mundo dos vivos.

A liberdade de referências a textos do Teatro Grego e da Polis Grega é tão bem alinhada que quase não se prejudica pela falta prévia de conhecimento da realidade cotidiana grega. As relações homoafetivas (para usar um termo hoje) são abordadas com escracho quase chulo. A percepção de si com entidade desejada e desejosa ampliava e repercutia nas correlações entre Vida e Arte. A Polis Grega não era só um círculo de imbricações artísticas mas também de correlações políticas malvistas e indesejadas. Ali no texto se percebe a noção de um “bem comum” dentro do contexto da Arte e suas exclusões quanto a certas personalidades políticas e artísticas. Fico imaginado a celeuma das biografias: hoje; e onde na Grécia antiga não se poderia falar através de um texto ficcional de um certo desafeto?

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