Kanye West tem um ego imensurável. E um talento que, por enquanto, acompanha esse seu gritante aspecto. O mesmo cara que diz frases como “Eu sou sem dúvida, você sabe, o Steve (Jobs) da internet, da cidade, da moda, da cultura. Ponto. De longe. Eu honestamente sinto isso porque o Steve morreu”; “Eu tenho tanta credibilidade, sou tão influente e relevante, que vou mudar as coisas” e “Eu sou da linhagem de Gil Scott-Heron, dos grandes artistas agitadores. Mas também sou da linhagem de Miles Davis – você sabe, que gosta de coisas bonitas”, é o mesmo que sempre acaba trazendo novas e interessantes voltagens experimentais para o Hip Hop, em consonância com diferentes esferas da black music.
Yeezus, seu esperado lançamento, mantém a áurea e nos confirma que o talento de West é legítimo. Trata-se de um álbum um tanto feérico, quase de protesto, com canções entre a conhecida psicodelia dramática e a pulsação estridente. O disco começa com “On Sight”, produzida em conjunto com o duo francês Daft Punk, que também colabora na excelente “Black Skinhead” (que ganhou ainda mais voltagem no vibrante trailer de “The Wolf of Wall Street”).
A genialidade do cantor é expressa na lacônica “Hold My Liquor”, belíssima música que parece construída para trilha sonora de um thriller de Michael Mann ou Nicolas Winding Refn. Esse andamento entre um estranhamento harmonioso com vocais e a fragmentação eletrônica de uma sonoridade sempre foi muito bem usado por West e aqui o nível de excelência é impressionante. Nos vocais ainda conta com a participação de Justin Vernon, da banda folk Bon Iver, ou seja, uma maravilha só.
Outro grande destaque fica por conta de “Blood on the Leaves”, que é abrilhantada pelo sample de “Strange Fruit”, na voz de Nina Simone (em perfeição) que agrega valor ao universo hype do rapper. Essa música (como a escolha da clássica música já aponta) vem com versos antirracistas e de harmonia um tanto sensível.
Em meio a notáveis destaques e invencionices (de certa forma) protocolares de Kanye, Yeezus é um estandarte de suas pretensões. Mas isso a gente não leva a sério. Ego serve para ser ridicularizado. O que fica é o alcance que esse esforço pessoal traz e sua música reflete isso de maneira ainda surpreendente e efetiva. Kanye West é um artista para se prestar atenção pois para além de sua falta de senso do ridículo se esconde um gênio pós moderno.
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