Pretensioso. Escalafobético. Megalomaníaco. Histérico. Autoreferente. Excêntrico. Superficial. Sim, ArtPop, o ultra promovido novo álbum de Lady Gaga é tudo isso e mais um pouco. A cantora pop novaiorquina sabe que a promoção é a grande e verdadeira alma do negócio que é fazer música mainstream num cenário cada vez mais globalizado. A odisseia de lançamento já dura uns bons meses, sempre no intuito de gerar expectativa, algo que sua pequena (mas relevante) carreira tem se apoiado desde o disco passado, Born This Way. O primeiro single, Applause, já demonstrava o empenho da cantora em fazer com que sua visão pop da música tenha dimensões apoteóticas. E acertou, pois o hit é empolgante, com todas as artimanhas de se fazer prolongar nas rádios e listas da Billboard.
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ArtPop vai nessa mesma onda, com músicas que se estabeleceriam em qualquer pista de dança, cheio de referências atuais e uma certa pretensão para além do que é de verdade (senão, não seria Lady Gaga, né?!). Aura, que abre o CD, é deliciosa, com melodias sonoras chupadas de Daft Punk e certa vibe psicodélica. Venus, G.U.Y. e Sexxx Dreams funcionam em badalas de Manhattan com a mesma habilidade que pulsam em boates paulistanas. Fashion e Donatella são tendenciosos e complementares em seus êxitos musicais. Gypsy é Lady Gaga entregando a alma as rádios com tamanha competência que periga virar um dos singles mais populares. Claro que a mania de grandeza iria derrapar em bobagens como a balada oportunista Dope, o desespero de acampar todas as vertentes do gênero na equivocada Jewels N’Drugs (com rappers e bases mais surradas que Drake e cia) e a inexplicável canção homônima do cd, que é tão fraca e inconsistente que nem merecia ser chamada de ArtPop. Por outro lado há a espertíssima Do What U Want, parceria com R. Kelly, que rapidamente ganhou a adesão de fãs e curiosos dada a sua perfeita habilidade em fazer de sintetizadores uma moderna reiterpretação de seus maneirismos.
ArtPop é uma misturada reiterativa de si mesma. Não vem para mudar nada, apenas para estabelecer a cantora na máquina rotativa da música pop pós anos 2010. Para tanto, ela se junta a artistas plásticos renomados, produtores que são verdadeiros engenheiros de hits e uma autopromoção contínua (vide seu até interessante clipe de Applause). Mas sabe por que resulta bom? Pois a música pop existe para alimentar o circo que a personaliza. Gaga se leva a sério e a gente acha graça de seu pedestal. No fim das contas, essa pretensão agrega hits certeiros e divertidos, afinal sempre precisamos de ícones clownescos para distrair nosso cotidiano. Quem a leva a sério jamais entenderá isso. Deixe a seriedade para o ego dela e divirta-se…