Meu Funeral é uma banda fluminense de Niterói formada por Lucas Araújo nos vocais, Dan Menezes no baixo e Pepe na guitarra. Com muito bom humor e letras ácidas, eles fazem críticas às redes sociais, refletem sobre o momento da quarentena e decretaram o fim do governo do presidente Jair Bolsonaro com a anárquica ‘Acabou, Você Não É Mais Presidente’.
A faixa compõe a primeira parte do projeto, o EP “Acabou”, chegou às plataformas digitais no dia 5 de fevereiro. Também desse trabalho saiu ‘Não Esqueça De Postar’, que acaba de ganhar videoclipe.
A banda conversou com a Revista Ambrosia em conversa via zoom promovida pela gravadora Universal. Confira.
Revista Ambrosia: O rock de um modo geral andou um tempo meio pasteurizado e vocês cm essas letras bastante críticas e anárquicas parecem estar querendo dar uma chacoalhada na cena atual. É por aí mesmo?
Dan Menezes: Nós somos uma banda de rock do século XXI. Atualizada!
Lucas Araújo: É, não dá mais para ter essa visão de roqueiro velho, reacionário, atrasado, né? Vamos dar uma atualizada aí, tem a galera que fala que o rock morreu, acho que se seguir essa linha aí vão acabar tendo razão. A gente não quer que ele morra não.
Ambrosia: É possível notar nas letras que vocês estão compondo bastante em cima do momento atual. Tem a ‘Quarentelover’ que reflete o confinamento e aquela ‘Liam Gallagher’, com sonoridade que remete a Oasis e ao trabalho solo do Liam Gallagher. Qual foi a ideia para essa?
Lucas: Então, maneiro você falar dela. É da quarentena né (risos). Cada música que você citou é de um EP diferente que a gente lançou durante a quarentena. E é justamente para falar desse momento atual. ‘Liam Gallagher’ na verdade eu pensei em alguém que é agressivo e desagradável (risos). Foi o nome que me veio à cabeça e ao mesmo tempo uma pessoa querida, né? A quarentena despertou esses sentimentos agressivos que o Liam Gallagher demonstra ao longo da sua vasta carreira. Foi só o nome que surgiu, também meio aleatoriamente. Acho que o nome foi a última coisa da música que pintou.
Ambrosia: Em 2020 vocês realizaram uma trinca que foi o EP Canções de Ninar Para O Apocalipse, o single “Quarentelover” e o “Acorda E Vem Ver O Apocalipse”. Vocês compuseram no momento em que a gente entrava nesse período complicado de pandemia e imediatamente fluiu?
Lucas: Sim. Fizemos os EPs meio que no desespero. Aí naquela de “a gente precisa fazer alguma coisa, né”. Todo mundo trancado em casa. Fizemos o primeiro, numa onda, acho que mais urgente até, que foi o “Canções de Ninar”, e aí fizemos o “Acorda E Vem Ver O Apocalipse” já com uma visão um pouco mais esperançosa. Esse a gente trabalhou com um pouco mais de calma. Inclusive dentro do “Acorda” tinha o “Acabou” que foi o nosso último lançamento agora, né. Então foi realmente uma sequência aí de lançamentos.
Dan: Na verdade a gente estava com tudo pronto, tudo alinhavado para essa série de lançamentos que está acontecendo agora. Só que veio a quarentena, e ferrou com todo o nosso planejamento. Então primeiro a gente ficou sem chão, e brigando, daí o Liam Gallagher (risos). E aí pensamos “beleza, vamos fazer música para passar por essa fase, que ainda está acontecendo, mas na verdade isso tudo foi um respiro para onde a gente está agora, que é esse lançamento “Acabou” pela Universal Music, com a pretensão de fazer coro à derrubada do presidente e fazer nosso trabalho crescer, chegar ao maior número possível de pessoas, né.
Ambrosia: Já entrando no “Acabou”, vocês gravaram esse single ‘Acabou, Você Não É Mais Presidente’. É inevitável a remissão ao ‘Tô Feliz (Matei O Presidente)’ do Gabriel O Pensador, lá na época do Collor. A música teve problemas para ser executada, apesar de já não termos mais uma ditadura. Vocês não ficaram com receio de represálias à faixa?
Lucas: Olha, não, teria medo de, sei lá, tocar em algum lugar e aparecer um “gado” aí qualquer querendo agredir a gente. Mas acho que a gente está aí para realmente aprontar e botar o dedo na ferida. E não é por isso que a gente vai deixar de fazer, né, falar o que a gente acredita. Acho que a autocensura é muito perigosa. Então, foi muito natural, fluiu e a gravadora abraçou. Por enquanto está tudo lindo, até a galera dos apoiadores do “dito cujo” revoltada e xingando a gente está tudo dentro do planejado.
Dan: Por enquanto só xingamentos (risos).
Ambrosia: Outra faixa bem crítica que vocês lançaram foi a ‘Não Se Esqueça De Postar’ que tem como alvo essa cultura das redes sociais que faz as pessoas viverem mais através do celular do que em experiências tangíveis. Foi por aí?
Lucas: Foi total por aí. É uma coisa que está muito presente na nossa vida. Ainda mais quem trabalha com música, ou no seu caso, que trabalha com jornalismo, qualquer tipo de informação ou arte, a gente está muito inserido nisso. E é até uma autocrítica, uma reflexão do tipo, gente, vamos viver a vida, ainda mais nesse momento de pandemia, a gente vê que não tem show, que é o nosso momento de interagir, de abraçar, de receber calor do público, não está rolando. E é muito reflexo da nossa sociedade, que vive através das telas e vende essa coisa de “eu sou melhor que você”, “eu sou mais bonito” “ganho presentes de alguma marca muito famosa”. E você ficar se comparando e tal. É uma coisa bem capitalista mesmo para ficar todo mundo triste e querendo comprar no final das contas.
Ambrosia: E como foi feito o clipe dela?
Dan: Foi feito pelo celular, essa música é um salvo-conduto para a gente abusar dessa estética, então basicamente é a gente tirando sarro de memes, dessa própria volatilidade das redes sociais. Foi feito em casa no celular. A gente pega o meme do caixão e tenta reproduzir, BBB e outros.
Ambrosia: Vocês acreditam no formato do álbum, porque vocês lançaram EPs e singles, e o formato do álbum eu vejo que alguns artistas mesmo nas plataformas digitais se queixam que o álbum não dá tanto retorno que é mais jogo fazer um single ou um EP. Vocês acreditam no formato de álbum ou pretendem continuar somente com EPs?
Dan: A gente acredita muito no formato do álbum, porque ele é redondo, a Terra é redonda (risos). Sacanagem. Falando sério, nós estamos tentando agradar gregos e troianos. Ao lançar fatiado em EP a gente se adapta a uma tendência de consumo de hoje em dia, é como todos nós consumimos a música em etapas ou em lançamentos menores. Mas esses EPs, no final dessa sequência vão se acumular em um álbum de 14 faixas
Lucas: Tem pessoas que podem comer um bolo sozinho, mas outras vão querer comer o bolo em fatias. Então a gente deu uma fatiada no bolo, quem quiser comer o bolo todo no final, beleza. Mas por enquanto a gente vai distribuindo fatia por fatia.
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