Há uma cena rock muito interessante atualmente. Há aqueles que dizem que o gênero morreu junto com Kurt Cobain, mas são radicais ou simplesmente desatualizados. De fato nos últimos 20 anos nenhuma banda reinventou a roda, quanto a isso há de se reconhecer o Nirvana como a última grande banda. Mas, no tocante à qualidade muita água (boa) rolou de lá para cá. Como dizer que o rock morreu quando temos uma banda do quilate do Black Keys em seu auge? O duo formado pelo guitarrista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney é conhecido por seus shows eletrizantes, como o do Lollapalooza de 2013, com direito a jams incríveis somente de guitarra e bateria, sem a presença dos músicos adicionais que dão molho às apresentações.
O Black Keys é indubitavelmente a maior banda de rock surgida neste início de século XXI. Ok, há o Arcade Fire, mas estes fazem um som que transcende o triunvirato guitarra, baixo e bateria. Como os Beatles a partir de 1966. Lançando essa semana seu oitavo trabalho de estúdio,“Turn Blue” (Nonesuch /2014), a banda originária de Akron, Ohio, foi catapultada ao panteão do mainstream com seus dois últimos discos: “Brotherhood” de 2010 e “El Camino” de 2011. “Turn Blue” tem a árdua missão de dar continuidade ao êxito, tanto de vendas quanto qualitativo da dobradinha antecessora. A maturidade proveniente dos doze anos de carreira certamente bloqueou qualquer tipo de nervosismo e insegurança, e o que vemos ao longo das 11 faixas é uma banda bastante à vontade com sua música. Isso pode ser sentido na primeira faixa, ‘Weight of Love’, com uma introdução prolongada (2 minutos e 30) na melhor tradição do “art rock”. Lembra sutilmente ‘Breathe’ do Pink Floyd, que abre o álbum “The Dark Side Of The Moon” e segue a tradição de “jams” vistas nos shows e nos álbum anteriores. Em um todo a música traz uma bela e fácil melodia.
A segunda faixa, ‘In Time’, é um rock suingado, que segue a mesma linha de ‘Tighten Up’, sucesso do álbum “Brotherhood”. O rock do Black Keys, é bem verdade, sempre acenou calorosamente ao soul, como se pode ver também na faixa título e em ‘Year in Review’. ‘Fever’ chega já em sua introdução investindo em um groove pesado e contagiante. É a faixa mais pop do disco, não fará feio em pistas de dança. ‘Bullet in the Brain’ é a prima-irmã da primeira faixa, uma espécie de part II. Porém tem duração menor e ganha outras nuances estruturais. ‘It’s Up to You Now’ chama a atenção com sua batida primal na introdução, com o mesmo aspecto selvagem de ‘Mr. Brownstone’ do Guns n’ Roses, porém, em seu decorrer, a canção ganha contornos mais sofisticados do que o clássico da banda de Axl Rose. A ligeiramente retrô ‘Waiting On Words’ conquista com seus belos arranjos, assim como ’10 Lovers‘, outra música do álbum com groove acentuado.
Para finalizar a audição, duas composições rock até a medula: a épica ‘In Our Prime’, com uma linha de guitarra de arrepiar, seguindo a escola hendrixiana e a setentista ‘Gotta Get Away’, que poderia ser um lado b de algum disco do The Faces. “Turn Blue” mostra que o Black Keys está aprovado no teste de fogo do disco seguinte ao grande estouro. Apesar de não apresentar grandes reviravoltas nem ousadias em seu estilo, o duo mantém elevado o nível de qualidade de suas composições. Com isso reafirma seu lugar no Olimpo rock e mostra que o gênero ainda tem muitos frutos para serem colhidos, apesar de não criar mais modismos.