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Bob Dylan no Royal Albert Hall: sem luz de celular, sem coro da plateia, apenas a voz do mestre – e foi o bastante

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Bob Dylan não tem apenas fãs. Ele tem discípulos. Essa é a única conclusão a que consigo chegar depois de mover montanhas para conseguir assistir ao encerramento de sua turnê “Rough and Rowdy Ways” no Royal Albert Hall, em Londres, na Inglaterra.

Já fui crítico de rock e pop da Oldie Magazine antes de me aposentar recentemente, e já fui a muitos shows ao longo da vida. Mas nenhum foi como esse.

Primeiro, tivemos que colocar nossos celulares em bolsas lacradas, como se estivéssemos nos preparando para uma espécie de retiro espiritual ou purificação. Porém, isso não foi o que tornou a noite tão irritantemente transcendental, mas também imperdível. Vou tentar explicar.

Se você já foi a um show do Bob Dylan nos últimos 60 anos, talvez entenda. Eu nunca tinha ido, então não sabia o que esperar.

Pontualmente às oito, a lenda caminhou até o palco como se procurasse algo que tinha esquecido, pegou o microfone, e sua voz rouca ecoou pelos corredores enquanto o público se levantava em êxtase. O que eles sabiam que eu não sabia?

Só depois, ao conferir o setlist, descobri que Dylan começou com All Along the Watchtower. Era linda – mas irreconhecível. O mesmo aconteceu com It Ain’t Me Babe e Desolation Row.

A maioria das 17 músicas apresentadas na noite era do álbum Rough and Rowdy Ways, sua incrível 39ª obra, que eu ouvi repetidamente quando foi lançada em 2020. Então, reconheci ‘Black Rider’ e a comovente obra-prima ‘I’ve Made Up My Mind to Give Myself to You’ (uma adaptação da Barcarolle de Offenbach, da ópera Os Contos de Hoffmann).

De vez em quando, eu captava um trecho da letra e finalmente conseguia identificar qual era a música. Mas, na maior parte do tempo, isso nem importava. O homem de jaqueta bronze com cabelos cacheados – que ele bagunçou e ajeitou algumas vezes – era O Bob Dylan! E ele estava em Londres! Talvez pela última vez!

Foi uma noite minimalista e refinada, feita para os verdadeiros crentes, os conhecedores. Meu acompanhante descreveu como “uma apresentação à la Auerbach em sua fase tardia: gravada, áspera, um gênio desbotado iluminado contra um palco quase beckettiano, com apenas quatro músicos”. Era tão preciso e brilhante que avisei que roubaria a frase.

O que importava era o cantor, não a canção – era quase uma competição entre os superfãs para adivinhar o que ele estava cantando.

Sem luzes de celular, sem pessoas cantando junto – apenas a voz de Dylan, e isso bastava. Mais do que isso. E claramente era assim que ele também sentia, porque, após exatos 90 minutos e 17 músicas, ele nos deu um solo de gaita e saiu do palco como se finalmente tivesse encontrado o que procurava – enquanto seu público reverente se levantava para o que talvez tenha sido sua última ovação de pé em Londres.

Por Rachel Johnson via Evening Standard

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