Bob Dylan voltou. E voltou para provar que um artista de 71 anos de idade pode ainda ser relevante na cena musical e ter o que dizer. Dylan passou por aqui no início do ano com sua Neverending tour, que já dura vinte e cinco anos e, pelo visto, tem pelo menos mais dez garantidos. Após um período irregular na década de 1990, Bob Dylan adentrou o século XXI em grande estilo com o excelente Love and Theft de 2001. Cinco anos depois veio o que é considerado um de seus melhores trabalhos na carreira, Modern Times, responsável pela volta do autor de Like a Rolling Stone ao Brasil. O disco foi aclamado pelos fãs e pela crítica. A imprensa musical foi quase unânime em colocá-lo como o disco do ano de 2006. Um pouco menos inspirado, mas mantendo o bom nível do antecessor, veio, em 2009 Together Through Life. Agora chega a vez de Tempest (Columbia Records/2012) e os fãs podem ficar sossegados, pois o disco mantém o nível dos anteriores, embora seja o menos inspirado dos últimos três. A voz está roufenha, mas a qualidade das composições ameniza bastante.
A faixa que abre os trabalhos, Whistle é um country folk rock que segue a tradição de suas maiores influências, Woodie Guthrie e Hank Williams. Foi a (bem) escolhida para ser o primeiro single do álbum; um bom cartão de visitas que realmente sintetiza o espírito do trabalho. Logo na sequência, vem a balada Soon after Midnight, que segue a linha de músicas lentas puxadas para o blues que Dylan tem apresentado em seus últimos álbuns. A faixa seguinte, Narrow Way, volta ao boogie em um épico de mais de sete minutos sobre as idas e vindas de amor.
A pegada roqueira surge na quinta faixa, Pay in Blood. A música – com direito a uma bela slide guitar – enervaria os que o acusavam de traidor do folk quando introduziu a guitarra elétrica no álbum Blonde On Blonde. Esta é a melhor faixa do álbum. Early Roman Kings é a faixa blueseira. Dylan se aproveita que sua voz agora está mais para o rouco do que para o anasalado, ou seja, no tom certo para um blues rasgado.
Tin Angel talvez seja aquilo que Jon Bom Jovi tentou e não conseguiu fazer em Blaze of Glory, um épico de western cantado que traduzisse a crueza do oeste selvagem. Em nove minutos e cinco, Dylan o faz com louvor; é possível até visualizar a paisagem árida, as ruas empoeiradas e o feno levado pelo vento. A faixa título é mais uma quilométrica do disco (são cinco acima de sete minutos) que narra a tragédia do Titanic, em inacreditáveis treze minutos com uma bela melodia e arranjos inspirados. O álbum fecha com a bela Roll On John.
Tempest é a segunda surpresa que os amantes da boa música recebem este ano de bom grado; a primeira fora Old Ideas de Leonard Cohen. São surpresas, na verdade presentes, porque trazem poetas da musica pop, ainda em atividade e que, felizmente, ainda têm conteúdo de qualidade para nos brindar. Até quando Bob Dylan nos surpreenderá provando que ainda é relevante? Pelo que se ouve em Tempest, durante algum tempo
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