Caetano Veloso não é o tipo de cantor que precisa se reinventar para se manter relevante. Milton Nascimento, que apesar de ter “namorado” a nova geração na concepção de seu ótimo último CD, continua em ótima forma artística sendo uniforme em seu diálogo sonoro há, pelo menos, 30 anos. Mas o cantor baiano vem em seus últimos trabalhos, procurando dialogar por uma renovação musical em excelentes e arrojados discos – Cê e Zii Zie – em que repousa sua imbatível capacidade de compor ótimas músicas em sonoridades joviais e contemporâneas. Agora, se une a promissora Maria Gadu num encontro musical que se equilibra na linha tênue entre o oportunismo e o oportuno.
O Multishow Ao Vivo – Caetano e Maria Gadu, gravado em dezembro do ano passado, no Rio de Janeiro é pertinente pelo bem sucedido encontro vocal dos dois, por suas vozes harmônicas do que pelo repertório em si. Explico: a primeira parte do CD quando ambos interpretam a obra de Caetano, com praticamente um apoio de violão, o resultado é engrandecedor. O Quereres, Vaca Profana, Odara, e especialmente Nosso Estranho Amor ganham uma leveza e uma beleza ímpares. Isso sem citar Rapte-me, camaleoa, que se transformou num clássico dos dois.
O problema é a maneira como a carreira de Gadu tem sido esgarçada. Com esse trabalho, já é o terceiro álbum em cerca de dois anos em que seu repertório de estréia é explorado, o que remete a claro cansaço. Mesmo com Caetano cantando Shimbalaiê a aversão é automática. Ainda que Gadu seja uma letrista promissora, sua “parte que lhe cabe no disco” é a menos estimulante, não pelo resultado em si, mas pelo desgaste que isso resultou.
Em suma, ainda é um som gostoso de ouvir em seu intimismo, nem que para isso tenha que pular umas faixas. Até porque no final do show somos presenteados com a volta de Caetano bradando o seu Odeio e ensinando o que é melodia sentimental na antológica Alegria, Alegria. São momentos imprevisíveis dentro da previsibilidade.