Quando um tiozinho de longos cabelos brancos subir ao palco do Comitê Club, em São Paulo, e apoiar uma guitarra sobre sua barriga saliente, não ria. Trata-se de J. Mascis, vocalista e guitarrista do Dinosaur Jr, uma lenda viva do rock alternativo, o cara que gravou algumas das canções mais barulhentas dos anos 80, foi reverenciado por bandas grunge e shoegazer e recusou ter um disco produzido por David Bowie. O Dinosaur Jr vem tocar no Brasil com sua formação original, que além de Mascis traz Lou Barlow no baixo e vocais, e Murph na bateria.
You´re Living All Over Me (1987)
Depois de um primeiro disco confuso e pouco memorável, o Dinosaur Jr lançou este álbum, que muitos consideram sua obra-prima. Logo na primeira música, Little Fury Things, a banda mostra o que a tornava especial: uma introdução barulhenta seguida de uma passagem calma e melodiosa, sobre a qual Mascis canta preguiçosamente. No final entra uma guitarra tão distorcida que soa como uma serra elétrica, e a canção termina com alfinetadas de microfonia. As mudanças de velocidade, e a alternância entre passagens calmas e barulhentas, na mesma canção, se tornariam marcas registradas do Dinosaur Jr, antes de serem popularizadas por bandas como Pixies, Nirvana e tantas outras.
Em “The Lung” e “In a Jar”, a banda mostra seu lado punk mais melódico, quase pop. “Lose”, composta por Lou Barlow, segue na mesma linha, lembrando um pouco “Husker Du”, com solos descontrolados e abrasivos. No meio da acelerada “Kracked” explode um furioso solo de guitarra que parece saído diretamente do primeiro disco dos Stooges. Raisans antecipa a sonoridade que o Sonic Youth apresentaria em Daydream Nation e Goo. “Poledo” é a única canção acústica do disco. Também é a mais estranha e experimental. Composta por Lou Barlow, que canta e toca ukulele. Cheia de efeitos eletrônicos e mudanças de andamento, lembra Sebadoh, a banda que Barlow formaria após sair do Dinosaur Jr.
Bug (1988)
A banda abandona as experimentações e busca o equilíbrio entre melodia e barulho. As músicas parecem mais tradicionais e fica mais clara a influência do rock clássico de conjuntos dos anos 60 e 70, como Stones, Creedence e Buffalo Springfield.
Freak Scene é o destaque do disco, com sua melodia empolgante, o som das guitarras mudando de cristalino para barulhento com incrível naturalidade e perfeição e os solos de guitarra irretocáveis de Mascis.
“Freak Scene” tornou-se um hit nas rádios alternativas britânicas e Bug atingiu o primeiro lugar na lista britânica de discos independentes mais vendidos. Apesar do sucesso comercial, a tensão que existia entre os membros da banda aumentou. Mascis era tão controlador que além de produzir o disco e compor todas as canções, definiu exatamente como Murph deveria tocar a bateria.
Mascis só não canta em “Don´t”, que remete ao primeiro disco, com um turbilhão de guitarras barulhentas a la Stooges, baixo distorcido e os vocais berrados de Lou Barlou.
Green Mind (1991)
Durante a turnê de Bug, em 89, Mascis toma o controle total da banda e expulsa Lou Barlow. O baixista passaria a se dedicar a seus projetos paralelos, como o Sebadoh, que com o tempo se tornaria uma das mais cultuadas bandas da cena alternativa norte-americana.
Praticamente um trabalho solo de Mascis, Green Mind foi gravado quase inteiramente com músicos convidados. Murph, o baterista original do Dinosaur Jr toca em apenas três músicas. Mascis novamente produz o disco e compõe todas as canções.
É o disco mais acessível da banda, com uma sonoridade quase folk rock. O som das guitarras está mais baixo e menos distorcido. Violões são audíveis em quase todas as faixas. O clima geral é bem mais calmo que o dos discos anteriores. Apenas “How´d You Pin That One On Me” tem um espírito mais punk.
Até 1997 Mascis gravou mais três discos usando o nome Dinosaur Jr, sem a participação de nenhum outro membro original da banda. A partir de 1999 passaria a lançar discos sob o nome J Mascis and the Fog.
Farm (2009)
A formação original da banda voltou a se reunir em 2005 para uma série de shows. Em 2007 gravaram o disco Beyound, bem recebido pela crítica, mas foi com este Farm que o Dinosaur Jr voltou com força total. A fúria das músicas dos anos 80 ficou para trás, mas a banda consegue manter o equilíbrio entre as guitarras pesadas e canções pop, rock alternativo e tradicional, que havia em Bug.
Friends lembra o punk melódico que o Replacements fazia nos anos 80. “See You” é o tipo de pop rock agridoce que o Lemonheads adoraria ter composto. Lou Barlow volta a compor e cantar em duas músicas que fariam bonito em qualquer disco do Sebadoh, e dão certa variedade sonora ao álbum.
O que era ousado nos anos 80, hoje pode soar ultrapassado. Mas não se deixe enganar, ao vivo o tiozinho Mascis costuma aumentar o volume da guitarra e fazer uma barulheira dos diabos.
Além dos shows em São Paulo, no Comitê Club, dias 28 e 29 de Setembro, a banda também tocará em Recife, dia 25, no festival No Ar Coquetel Molotov.
Abaixo, a banda ao vivo, em 1991
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=OQ2FS53ySgU&feature=related[/youtube]
Hoje em dia não existem mais monstros do rock e da música em geral, mas Dinosaur Jr é bem legal e uma banda que vale a pena ser conferida ao vivo, o Genius do iTunes sempre coloca eles na minha playlist 😀