Imaginem só o que será da velha indústria fonográfica no dia em que Paul McCartney, os Rolling Stones, Elton John e Rod Stewart estiverem demasiadamente senis para subir em um palco quanto mais para tocar durante uma hora, uma hora e meia, duas. Por isso, a indústria faz de tudo para prorrogar ao máximo o prazo de validade desses artistas, afinal eles são os últimos alicerces de um sistema que está com os dias contados. Esse sistema consiste em comprar o disco, ir ao show pagando uma nota preta e comprar o CD/DVD ao vivo.
São esses artistas veteranos, com fãs na casa dos 50 que garantem essa engrenagem que mantêm de forma tradicional alguma sombra da bonança que a indústria fonográfica desfrutou nos tempos de outrora. A terceira noite do Rock In Rio, no último domingo, se fosse um filme, se chamaria “No Country For Young Men”. O palco mundo iniciou os trabalhos com os Paralamas do Sucesso, veteranos do rock Brasil que estavam presentes na primeira edição do festival e receberam vaias dos fãs dos astros internacionais que se apresentariam mais tarde. A atitude levou Herbert Viana a dar uma bela bronca na plateia dizendo: “Em vez de jogar coisas no palco, aprendam a tocar um instrumento pra, quem sabe, no próximo, vocês estarem aqui”.
30 anos se passaram e a história é outra. Fizeram um show de abertura com a plateia nas mãos de seu desfiladeiro de hits. Em seguida entrou o cantor inglês neto de brasileiro Seal, o único estreante de Rock In Rio da noite. Também veterano, teve o auge de sua carreira na década de 90 puxado pelo hit ‘Crazy’.
Mas o prato principal era mesmo o combo Elton John e Rod Stewart. Combo porque não dá para dizer que o show do primeiro foi abertura para o segundo. Foram dois headliners que se sucederam. Em comum os artistas têm a faixa etária (Elton tem 68 e Stewart 70) e o fato de terem atingido o auge de suas carreiras quando a indústria fonográfica também estava em seu auge, ali na segunda metade dos anos 70 e início dos 80.
Seus shows apresentam configuração semelhante, apesar de o layout ser bem diferente. Ambos jogam para a plateia recorrendo ao arsenal de hits. Elton John tem ‘Bennie & the Jet’, ‘Candle in the Wind’, ‘Tiny Dancer’, ‘Philadelphia Freedom’, ‘Goodbye Yellow Brick Road’, ‘I Guess That’s Why They Call It The Blues’, ‘Your Song’. Rod Stewart conta com ‘Tonight Is The Night’, ‘Rhythm of My Heart’, ‘Forever Young’, ‘I Don’t Wann Talk About It’, ‘Baby Jane’ e o plágio de Jorge Ben ‘Do Ya Think I’m Sexy’
Mas a apresentação em si se difere: Elton traz sua (competentíssima) banda de veteranos e o piano. Ao contrário dos anos setenta, não é mais afeito a figurinos espalhafatosos. Umas lantejoulas no fraque e já está de bom tamanho. Rod Stewart chega com uma trupe de musicistas e backing vocals, todas mulheres e belas. Homens, só na base guitarra baixo, bateria. Sentou no colinho de uma backing vocal, tascou uma mão boba na belíssima violinista em ‘You Are In My Heart’. Por mais que seja encenado, isso reflete bastante o life style do escocês, que pertence à lista de Luciana Gimenez antes de Mick Jagger.
E houve, é claro, muitas referências à sua outra paixão, o futebol, tanto no telão quanto no palco, quando chutou bolas autografadas para o público. Esse brinde foi distribuído quando o cantor lembrou sua antiga banda o The Faces com ‘Stay With Me’. Imagens do grupo, que tinha o hoje Stone Ron Wood na guitarra, tomaram o telão. O show relativamente curto (não chegou a uma hora e meia, bem menos do que as mais de duas horas dos shows principais das noites anteriores) se encerrou com a balada ‘Sailing’.
Já é tradição no Rock In Rio uma noite dedicada ao público mais velho. Mas hoje isso ganha mais um significado além do saudosismo: é uma celebração da indústria fonográfica com seus desdobramentos tradicionais, que se mantém graças a esses artistas. Mas independente do viés mercantilista, é, como diria Obi Wan, uma música elegante de tempos mais civilizados