“O Futuro dos Autoramas” (Autoramas, 2016) é o sugestivo título do novo álbum dos Autoramas, que vem a ser a estreia em estúdio de sua nova formação. Durante 16 anos, a banda de Gabriel Thomaz foi um power trio, agora é um quarteto. Na verdade um dream team do rock garageiro nacional. Além de Gabriel, a formação conta com a ex-Penélope Érika Martins, o ex-Raimundos Fred Castro na bateria e o ex-Carbona Melvin no baixo, quebrando a tradição dos Autoramas de sempre trazerem uma menina no instrumento. Embora ainda haja uma menina na banda, agora ela se encarrega da guitarra de base, teclado e percussão.
A nova formação já estava se apresentando ao vivo desde 2015, pelo Brasil e no exterior, passando também pelo Rock In Rio. Mas apesar da nova configuração, a sonoridade continua fiel à mistura de rockabilly dos anos 60, Jovem Guarda e New Wave que os consagraram. A faixa de abertura ‘Quando A Polícia Chegar’ é o cartão de visitas, uma típica composição “autorâmica” assim como ‘Problema Seu’ e ‘O Que Você Quer’. Porém passam longe do autoplágio ou cover de si próprios. Apenas mantendo as características essenciais.
Em boa parte das músicas, Érika se encarrega do backing vocal, eventualmente dividindo a dianteira com Gabriel, na mesma linha de Kim Deal e Frank Black no Pixies, mas ela assume o protagonismo total nas faixas ‘Demais’ e ‘Rolo Compressor’. A segunda já constava no álbum solo da cantora, “Modinhas”, lançado em 2013, mas aqui ganha uma nova roupagem, com mais efeitos e peso e distorção no refrão. Bons momentos do disco também são as faixas em inglês como ‘What Do You Mean To Me’, ‘Jet To The Jungle’ e uma energética versão power pop de ‘Be My Baby’, hit de 1963 escrito pelo produtor e compositor Phil Spector e imortalizado pelas Ronettes. Por falar em versões, a última faixa ‘Garotos II – O Outro Lado’ é uma interessante releitura da música ‘Garotos’, sucesso de Leoni.
O que garante a coesão, a exemplo do que se tem visto no palco, é o fato de serem os novos membros serem pertencentes à mesma turma, são não apenas contemporâneos como colegas de cena, o rock de garagem dos anos 90, que cresceu aliada às casas de show alternativas e à cultura fanzineira. Gabriel e Érika são casados e tocam juntos no projeto paralelo Lafayette & Os Tremendões – banda que faz versões de músicas da Jovem Guarda e conta com o lendário tecladista Lafayette, responsável pelo órgão icônico daquelas canções. Além disso, colaborou em algumas faixas do disco solo da cantora como músico e compositor. Fred já era baterista da banda de Érika, e Melvin, um velho camarada.
O disco foi gravado em diferentes estúdios: o Escritório, no Rio, a Toca do Bandido, lendário estúdio (um dos melhores do Brasil) montado por Tom Capone, e o Warner/Chappell. As gravações foram mixadas, respectivamente, por Lê Almeida, Jim Diamond (que trabalhou com White Stripes) e André Paixão. A capa, assinada pelo brasiliense Paulo Rocker traz um desenho da banda com motivação futurista, fazendo uma brincadeira com o título do álbum.
“O Futuro dos Autoramas” aponta aponta uma nova direçAutoramas 2ão, mas reforçando em cada faixa o maior trunfo da banda: o peso e a fúria alinhados harmonicamente com a melodia. O tempo de estrada e a camaradagem entre os membros também conspiram muito a favor, no melhor estilo “all star band” underground.
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