Iggy Pop se recicla com “Post Pop Depression”

Ao olhar aquela foto em que estão Iggy Pop, Lou Reed e David Bowie juntos em alguma das muitas festas “vida-louca” que freqüentavam nos anos setenta, dois sentimentos antagônicos emergem hoje: o de tristeza, pois agora apenas um dos três ícones da contra cultura ainda está vivo, e o de alegria, porque pelo menos um dos três ainda está vivo. E produtivo. Iggy Pop é considerado uma lenda por, a frente dos Stooges, ter antecipado ao mundo, ainda no final dos anos 1960 o punk rock que só iria estourar sete anos depois, posteriormente, por sua uma profícua carreira solo que corroborou seu status de epíteto de rebeldia e, claro, por sobrevivido a todos os excessos e loucuras (basta ler biografias e o livro “Mate-Me Por Favor”). Dizem que se houver uma hecatombe nuclear somente sobreviverão as baratas e o guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards. Na verdade, escaparão ilesos as baratas, o Keith Richards e o Iggy Pop.

Depois de um longo período colhendo os louros de seus trabalhos solo, o iguana chegou a se reunir com os ex-companheiros de Stooges na década passada. Hoje, de novo sem os Stooges (os irmãos Ron e Scott Sheton morreram em 2009 e 2014, respectivamente), Iggy se cercou de gente jovem para se reciclar e gravar umas faixa, e o resultado é “Post Pop Depression” (Loma Vista/2016). A produção ficou a cargo de Josh Homme, do Queen Of The Stone Age, que também colaboração como músico (vocal, guitarra, baixo, piano, sintetizadores, mellotron e percussão) junto de Dean Fertita (também do Queens) e do baterista do Artic Monkeys, Matt Helders.

O disco começa com a soturna ‘Break Into Your Heart’, uma faixa de ares “stoogianos” e refrão ressonante. Na faixa seguinte, ‘Gardenia’, é  impossível não se lembrar da fase em que Iggy fora produzido por David Bowie. O disco, na verdade, não deixa de ser um tributo ao amigo falecido no início de janeiro, mesmo que seja um tributo inconsciente, pois quando o álbum ficou pronto, o problema de saúde se Bowie ainda não era sabido publicamente. Mas, de fato, este novo trabalho evoca muito do espírito de “The Idiot” e “Lust For Life”.Tudo bem, que Homme não é nenhum Bowie, mas sabe da relevância da fase berlinense da dupla Ziggy/Iggy e não se furtou em fazer essa ponte remissiva.

Iggy Pop - Gardenia | #PostPopDepression

‘American Valhalla’, ‘In The Lobby’ e ‘Sunday’ mantêm a coesão do álbum sem sobressaltos, a última chama atenção pela valsa que a encerra, fazendo pavimentando a entrada da climática e esquizofrênica ‘Vulture’, uma das faixas de mais fácil identificação com o artista. ‘German Days’ é uma faixa cujo título pode ser interpretado também como uma referência ao já citado período em que passou na Alemanha com Bowie, produzindo e se desintoxicando longe da loucura dos EUA e da Inglaterra. Em seguida vem a classuda ‘Chocolate Drops’, uma das mais bem arranjadas do álbum. A derradeira faixa é ‘Paraguay’ também típica composição do iguana, término de relacionamento, mas que também traz conotação libertária e contrária ao sistema e fecha o disco com autoridade.

Iggy Pop garante que “Post Pop Depression” é seu último trabalho. Se de fato for, pode-se dizer que foi uma despedida digna. Em suas 9 faixas, distribuídas em 41 minutos, Iggy Pop desfilou sua veia punk com o acinte de unir a crueza à sofisticação. Mas caso ele mude de ideia, um próximo álbum no futuro seria um bônus que certamente nos deixaria muito agraciados

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