A notícia da morte de Dolores O’Riordan, vocalista da banda The Cranberries, pegou o mundo da música de surpresa. A forte suspeita de suicídio suscitou uma atenção maior ao teor das canções da banda irlandesa. Seu soft pop de melodias floreadas (em algumas faixas até bem ambiciosas) acobertava letras que não eram exatamente leves. Havia um teor sombrio e em algumas até um viés político.
O Cranberries foi formado em 1989 pelos irmãos Noel e Mike Hogan. O nome, a princípio, era The Cranberry Saw Us. Dolores entrou para a banda após uma audição. A letra de ‘Linger’ e sua voz, que convergia pujança e uma certa fragilidade, chamou a atenção dos fundadores. O disco de estreia, que trazia a música e a faixa ‘Dreams’, “Everybody Else is Doing It So Why Can’t We?” (1993), foi um grande sucesso. Os seguintes “No Need to Argue” (1994) e “To the Faithful Departed” (1996) seguiram a mesma linha de boas vendas e execução de singles.
Mas poucos sabiam sobre os bastidores da história da lânguida cantora de bela voz, que sofria de transtorno bipolar e carregava consigo uma experiência de abuso sexual. Em 2013, à revista LIFE, a cantora contou que foi abusada dos 8 aos 12 anos de idade, por uma pessoa de confiança da família. O trauma fez com que ela desenvolvesse anorexia quando se tornou famosa. O que para nós era apenas…magreza. EM 2015 foi diagnosticada com transtorno bipolar, o que explicou seus surtos de agressividade. Em 2014, foi detida, acusada de ter se envolvido em um incidente violento com uma aeromoça em um voo internacional. Dois anos mais tarde, a artista teve que pagar cerca de US$ 7.000 (R$ 22,5 mil) a uma organização de caridade por agressão a um policial.
Em suas composições, ela tinha como mote fatos de sua vida pessoal (‘Linger’ foi inspirada em seu primeiro beijo) ou episódios que lhe chamavam atenção. A letra de ‘Zombie’ foi inspirada na morte de duas crianças, Tim Parry, de 12 anos, e Johnathan Ball, de 3.
Os dois morreram em 20 de março de 1993 após a explosão de duas bombas colocadas pelo grupo armado IRA em lixeiras em uma área comercial da cidade de Warrington, na Inglaterra. O ataque terrorista deixou mais de 50 pessoas feridas. O pai de Tim não sabia que a música se tratava de uma homenagem a seu filho. “Essa foi a canção mais agressiva que escrevemos”, disse Dolores em entrevista ao portal Team Rock, em novembro do ano passado. De fato, a canção apontava para a estupidez das ações do Exército Republicano Irlandês que usava atentados na Grã-Bretanha para reivindicar a independência da Irlanda do Norte.
Dolores será para sempre lembrada por sua voz inconfundível e já deixa uma lacuna no cenário da música pop.