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Marky Ramone revive sua antiga banda no Rio, mas decepciona por não completar o show

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Como em toda banda finada com um numeroso séquito de fãs, pelo menos um ex-membro chama para si a responsabilidade de reviver, ao vivo, o legado. Se no caso dos Beatles esse papel coube a Paul McCartney, no caso dos Ramones, é Marky Ramone quem faz shows em vários lugares do mundo, mas sobretudo na América Latina,  talvez o lugar do mundo onde o quarteto novaiorquino tenha sido mais venerado passada a era punk. Afinal, em 1996, quando estava encerrando as atividades, tocavam em festivais e pequenas casas

na terra natal. Já na Argentina, tocaram em um River Plate lotado.

Foi essa popularidade que os pioneiros do punk têm aqui no cone sul que trouxe Marky Ramone’s Blitzkrieg à edição especial da festa A Grande Roubada, que aconteceu na última sexta-feira (29 de abril) no Imperator, casa de shows na zona norte do Rio de Janeiro. Parecia promissor: a comemoração dos 40 anos do movimento punk, com um ex-Ramone vivo, e ainda por cima tocando um set mais de 30 músicas previstas. Mas a festa acabou antes da hora, com a banda deixando o palco com menos de uma hora de show e seis músicas por tocar, sem motivo revelado.

Por uma trágica ironia do destino, dos membros originais dos Ramones não ficou nenhum para contar a história da formação da própria boca. O vocalista Joey foi o primeiro a partir, vítima de um linfoma, em 2001.O baixista Dee Dee se foi pouco tempo depois, devido a uma overdose. Uma forma autenticamente roqueira de se morrer, embora meio tardia (já tinha 50 anos). Em 2004 o guitarrista Johnny perdeu a luta contra um câncer de próstata e dez anos depois foi a vez do baterista original Tommy nos deixar, também vítima de câncer.

Sobraram o baixista C.J., o último a integrar na banda, em 1989, e Marky, que entrou substituindo Tommy em 1978. Ok, há também o Richie, que ficou no lugar de Marky entre 1984 e 1987, mas, a bem da verdade, ninguém se lembra muito dele.

A abertura ficou por conta da banda carioca Beach Combers, que entreteve uma plateia minguada, que aos poucos foi aumentando, mas sem chegar a lotar. Foi uma apresentação maiúscula, de uma banda que, apesar de saber que fora escalada para aquecer o público, confia na qualidade de sua música, e já que era uma noite de punk, capricharam no peso de seu rock que mistura surf music e psicodelia. Foi um eficiente set um pouco menor do que acabou sendo feito pela atração principal.

O público era composto em sua maioria por jovens, muitos ali estavam nascendo, ou eram muito pequenos, quando a banda veio ao Brasil pela última vez, com sua turnê de despedida em 1996. Mas, como se sabe, enquanto existirem garotos de 18 anos, os Ramones nunca estarão fora de moda.

Marky e sua banda subiram ao palco executando ‘Rockaway Beach’, seguindo a tradição de as músicas serem sempre precedidas do indefectível “one two three four”. Tudo bem, trata-se de uma banda cover de luxo, mas funciona a contento como um “Ramones Experience”. E os componentes que acompanham o baterista nessa etapa sulamericana, substituindo os falecidos originais, cumpriram sua parte: o vocalista Oscar Chinellatto, é alto, magro e cabeludo como Joey, o guitarrista Marcelo Gallo e o baixista Alejandro Viejo possuem cortes de cabelo ramônico e até a postura para tocar – com as pernas afastadas e os instrumentos na altura do joelho – e o posicionamento (guitarrista no canto esquerdo e baixista no canto direito) eles mantiveram.

Já o veterano líder, ciente do peso da idade, já trata de dar um andamento um pouco mais lento do que executava ao vivo há vinte anos, quedando mais próximo das versões de estúdio. Mas nada que impedisse a empolgação da grande roda de pogo que se abria ao início de cada música.

Foram ao todo 24, entre sucessos obrigatórios como ‘Psycho Therapy’, ‘I Believe In Miracles’, ‘Rock and Roll High School’, ‘I Wanna Be Sedated’ e ‘Pet Cemetery’ e pérolas como ‘I Don’t Care’, ‘Havana Affair’, ‘Oh Oh I Love Her So’ e ‘53rd & 3rd’. Tudo ia muito bem até que, depois de ‘Pinhead’ (a que traz o grito de guerra GABBA GABBA, HEY!), a banda deixou do palco, deixando o público esperando pelo já certo bis (seriam dois: um com quatro músicas e o último com duas). O tempo passou, os músicos não voltaram, as cortinas se fecharam e a luz se acendeu. Era o fim, e a plateia misturava indignação e incredulidade, enquanto procurava , em vão, explicações.

Desentendimento entre os membros, estrelismo do astro da noite foram as causas mais especuladas. Houve até quem dissesse que não houve manifestação da plateia o suficiente para que voltassem. Em nota à Revista Ambrosia, a assessoria do local se pronunciou, alegando que Marky resolveu interromper o show sem aviso e sem se despedir “por razões pessoais”, e que produção cumpriu com todas as exigências e cláusulas contratuais, e todos os custos envolvidos na produção do evento foram previamente pagos. A banda até fez menção de voltar, mas o artista resolveu dar o show por encerrado depois de 50 minutos de apresentação.

Uma pena se formos consideradas as 6 músicas que ficaram de fora, contudo foi um setlist mais extenso do que, por exemplo, as recentes apresentações na Europa, em que eram executadas 18, 19 músicas em média. Enquanto Marky esteve no palco, tudo funcionou (apesar de algumas falhas do baterista) e o clima nostálgico garantiu o sucesso da noite. A plateia só não saiu de alma lavada por conta do incidente final. Mas, cá entre nós, assistir a um Ramone vivo, e ainda por cima tocando, vale o ingresso.

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