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Novo álbum de Beyoncé, lançado de surpresa, reforça sua vocação para mito

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Quanto mais é subestimada, mais a musica pop se reinventa dentro de sua auto espetacularização. Após David Bowie lançar seu single de surpresa, sem qualquer estratégia de marketing (não seria essa a estratégia?), ainda mais de um trabalho que marcava seu retorno a musica após anos afastado, Beyoncé movimentou a imprensa especializada ao disponibilizar, a principio virtualmente, e depois em formato tradicional, seu mais novo trabalho, de titulo homônimo, na primeira quinzena de dezembro, Resultado: rapidamente, a cantora fechou o ano de 2013 como uma das principais recordistas em vendas, entrando 2014 no mesmo patamar. No release que acompanhou o lançamento, ela afirma: “Estou preparada para falar diretamente com os meus fãs. Há muita coisa que se mete entre a música, o artista e os fãs”, acrescentou, confessando que para fazer o disco, se inspirou nas memórias que guarda de Thriller, o megassucesso de 1983 com a assinatura de Michael Jackson. “Sinto saudades dessa experiência de mergulhar [num álbum]. Agora as pessoas só ouvem alguns segundos de uma canção em seus iPods e não investem verdadeiramente na experiência total.”.

O disco é, na verdade, um pacote com 14 músicas e 17 clipes, vendidos apenas em conjunto. Os clipes, como de costume, ainda mais se tratando da cantora, são muito bem feitos, trafegando por diversas estéticas, junto com seus vários diretores. Aqui e ali cai na pieguice banal ou excessiva estilização da sensualidade, mas no geral são bem acima da media e reforçam a força de Beyoncé no cenário musical atual.
Sua mise-em-scene atribui a si um universo muito reconhecidamente próprio. Musicalmente, parece que a cantora se inspirou no trabalho black indie de sua irmã, a também cantora, Solange Knowles. Um predomínio de R&B mais suavizado e antenado com desinências sonoras. Esqueça o “bate cabelo” habitual. Aqui, ela prefere construções sonoras com artistas como Frank Ocean, na deliciosa “Superpower”. Em “Flawless”, Beyoncé usa discurso da ativista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Em “No Angel”, conta com interessante participação do duo indie pop Chairlift, do Brooklyn, em Nova York. O CD abre e fecha em grande forma, com “Pretty hurts” (composição da ascendente cantora Sia) em sua anedota sobre a beleza (muito bem criticada no belo clipe) e “Blue”, melhor do disco, uma homenagem a filha, com vídeo em que imagens brasileiras dão o tom lírico da canção. Um belo clipe do single “Grown Woman”, nunca lançado, mas já trabalhado em shows, é a surpresa da faixa de vídeos.

O intimismo buscado por Beyoncé pode ser estratégico, entretanto aponta para um amadurecimento ate imagético da cantora. Jay-Z ainda atua como mentor e sua sombra permeia todo o trabalho. Mas só por demonstrar uma inquietação – ainda que dentro de seus parâmetros de mercado – já percebe-se que o que vem pela frente pode ser muito mais do que o costumeiro artificialismo pop que tanto vemos. Beyoncé ainda sabe fazer de sua musica um dialogo entre a Black Music e o pop, sem sacrificar sua personalidade. Seu novo trabalho mostra bem isso. Ou seja, não seria só a musica pop que não deveria ser subestimada…

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