O rock contra Donald Trump

Parecia uma piada, mas aos poucos a brincadeira de mau gosto foi ganhando força e seriedade. Agora aqui estamos, a um mês das eleições presidenciais americanas com Donald Trump tendo sérias chances de se tornar presidente da nação mais poderosa do planeta. Felizmente, existe o maior e mais forte instrumento de contestação política: a arte. Desde sempre, são as tintas, pincéis, as câmeras, os instrumentos musicais e os palcos a artilharia contra as mazelas do mundo.

O rock, com sua natureza rebelde desde os cabelos dos Beatles e o hino ‘Satisfaction’ dos Rolling Stones, não poderia se calar diante da empáfia de Donald Trump em sua campanha que, embora tenha abaixado um pouco o tom para não afugentar eleitores negros e latinos, é sabidamente racista e xenófoba. O objetivo? Tornar a America novamente grande e, principalmente, americana. Como se os Estados Unidos não fossem uma nação essencialmente de imigrantes. Se fosse assim, o certo seria saírem todos e deixar o país para os indígenas.

Como é comum nos EUA, os candidatos à presidência usam música pop em suas campanhas, ao contrário dos candidatos brasileiros que se valem de jingles cafonas. Trump teve o acinte de usar ‘Seven Nation Army’ do White Stripes sem autorização. Claro que Jack White não deixaria barato e rebateu criando uma camiseta onde se lê “Icky Trump” (Trump nojento), trocadilho com a faixa título do álbum de 2005, “Icky Thump”.

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Na parte de trás da camiseta se lê:

White Americans? What?
Nothing better to do?
Why don’t you kick yourself out?
You’re an immigrant too.
Who’s using who?
What should we do?
Well, you can’t be a pimp
And a prostitute too“.

Americanos brancos? O quê?
Não têm nada melhor para fazer?
Por que você não se chuta para fora?
Você também é um imigrante.
Quem está usando quem?
O que deveríamos fazer?
Bem, você não pode ser um cafetão
E uma prostituta ao mesmo tempo“.

Ainda na fase de sua pré-candidatura, Trump estava usando o clássico ‘You Can’t Always Get What You Want’ dos Stones em seus comícios, também sem permissão. A banda inglesa logo pediu que parasse de usá-la. A música do álbum “Let It Bleed”, de 1969, traz uma temática reflexiva que em nada lembra os desideratos do candidato republicano. Steven Tyler Adele e R.E.M também já haviam solicitado que suas músicas não fossem usadas por Trump em sua campanha.

No último domingo foi a vez de Roger Waters realizar seu manifesto anti-Trump (foto em destaque). O baixista e co-fundador do Pink Floyd fechou o primeiro final de semana do festival Desert Trip, em Índio na Califórnia com um show marcado por críticas à corrida à Casa Branca. A mais contundente foi na música ‘Pigs (Three Different Ones)’ do álbum “Animals”.

https://www.youtube.com/watch?v=IHznNjpMTXo

O festival, carinhosamente chamado de Oldchella (em referência ao Coachella, que ocorre no mesmo lugar), reuniu, além de Waters, os maiores nomes do classic rock em atividade: Stones, Paul McCartney, Bob Dylan, The Who e Neil Young.

No show de Waters já eram esperadas as críticas políticas, como ele fazia na era Bush com a música ‘Leaving Beirut’, composta em repúdio às invasões ordenadas pelo então presidente americano ao oriente médio, em retaliação aos ataques de 11 de setembro de 2001.

Ainda no show de domingo – que contou com 27 músicas todas da fase Pink Floyd – Waters chamou o candidato de misógino, reproduziu falas vulgares de Trump, divulgadas em uma gravação de 2005. Durante a música ‘Mother’, do disco “The Wall” o icônico porco inflável, que passeia sobre o público em determinado momento de seus shows, trazia os dizeres Ignorante, Mentiroso, Racista, Sexista.

Hillary Clinton pode não ser uma oponente carismática para colocar Trump em seu devido lugar, com percentual quase nulo de intenções de voto, mas conta com um poderoso aliado: a música pop.

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