A proposta do instrumentista carioca Luis Leite de conceber um álbum contemplativo na contramão da urgência do cotidiano é sentida logo nas primeiras canções de “Vento Sul”. Santiago, que abre o trabalho, foi composta na cidade homenageada (no caso Santiago de Compostela, e não do Chile). O belo cantarolar de Violeta Parra que adorna ‘Veredas’, a segunda faixa, entra em perfeita simbiose com o violão de Luis. Chamá-lo de virtuoso seria pejorativo? O termo sugere um certo pedantismo. Ambicioso sim. Pretensioso não.
Ouça a etérea ‘Noturna’, ou a magistral ‘Céu de Minas’. temos uma saborosa mistura de classismo com o regionalismo. E muito de improvisação. Homenageando a América do Sul e sua música, ele criou o trabalho mais intimista de sua carreira. Mas não modesto. Considerado um dos maiores instrumentistas do Brasil, ele proporciona uma viagem sensorial trazendo-nos nuances e matizes da cultura latino-americana. Ao longo das dez faixas, Luis percorre a variegada pavimentação da música do continente. Mas sem esquecer as raízes brasileiras, é claro.
“O disco remete à atmosfera de sensibilidade humana do nosso continente, inspirando-se na musicalidade natural da chilena Violeta Parra, na sofisticação do trio argentino Aca Seca, na elegância do colombiano Gentil Montaña…” define o artista.
“Vento Sul” é daqueles discos que não cabem em um celular com fone de ouvido. Precisa ser ouvido em disco físico com um aparelho de som de verdade. Só assim é possível captar na totalidade a riqueza sonora pretendida por Luis. Em seu auxílio estão Erika Ribeiro (piano), Felipe Continentino (bateria), Elisa Monteiro (viola), Fred Ferreira (guitarra) e Márcio Sanchez (violino). É um desbunde a pândega musical proporcionada por eles na jazzística ‘Pedra do Sal’. Trata-se de uma homenagem ao famoso reduto boêmio do Rio de Janeiro (que quase rivaliza com a Lapa).
Luis Leite e seu “Vento do Sul” nos proporcionam uma agradável viagem ao âmago da musicalidade latina e suas cores. Condensar sutilezas de todas as manifestações artísticas é uma tarefa hercúlea, mas que, com o domínio de estúdio que possui, logra êxito.
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