Eram quatro fabulosos. John Lennon era o aríete, a mola propulsora e a atitude rebelde primordial em uma banda de rock; Paul McCartney transpirava melodias, tinha o talento de um artesão pop como poucos; Geroge Harrison era um guitarrista de mão cheia e com um talento incontestável; Ringo Starr, injustamente considerado medíocre, era um baterista criativo, e se há alguma dúvida de seu talento, basta ouvir os discos “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, o “Álbum Branco” e “Abbey Road”. E havia George Martin, o maestro.
Por mais talentosos que os quatro Beatles fossem, eram garotos na faixa de seus vinte e poucos anos querendo se divertir. Sem a disciplina e a supervisão de alguém que fizesse o papel de adulto, talvez os Beatles não teriam se tornado o fenômeno da música pop que conhecemos. Por isso, Martin ganhou a alcunha de “quinto Beatle”
George Henry Martin nasceu em 3 de janeiro de 1926, com origem humilde, filho de um carpinteiro e uma faxineira, no norte de Londres. Sua paixão por música despertou quando assistiu a uma apresentação da London Symphony Orchestra no salão da escola. No final da Segunda Guerra, ele treinou para ser piloto. Em 1947, ele tocava oboé profissionalmente, apesar de não saber, ainda, ler ou escrever notas musicais.
Depois de se formar na Guildhall School of Music, trabalhou no departamento de música clássica da BBC, antes de ser contratado pela EMI como produtor musical, onde, rapidamente, se familiarizou com a mesa de som e outros recursos do lendário estúdio de gravação de Abbey Road, que seria imortalizado na capa do disco dos Beatles que levava seu nome.Cinco anos depois, aos 29 anos de idade, como chefe do selo Parlophone, trabalhou com artistas como Shirley Bassey, Matt Monro e grupos de jazz de Johnny Dankworth e Humphrey Lyttelton.
Seu encontro com os rapazes de Liverpool se deu através de Brian Epstein, o empresário da banda, que lhe entregou uma fita demo com as gravações das músicas feitas até então. Eles já haviam sido rejeitados por todas as grandes gravadoras do país. O olho clínico de Martin vislumbrou o potencial. Eram músicos sagazes e de personalidade, mas a música precisava de um polimento. “Eles eram estridentes”, disse depois. “Não muito afinados. Eles não eram muito bons”, contou.
Se os Beatles soavam tão bem em estúdio, muito se deve às orientações do maestro, responsável por colocar ordem e atentar para o trabalho sério, sobretudo quando os rapazes estavam sob efeito de “substâncias”. È impossível pensar, por exemplo, em “Sgt Pepper’s” sem a batuta de Martin. Com sua experiência como arranjador, preencheu algumas lacunas fornecendo muito do brilho de canções que se tornaram inesquecíveis.
Foi ideia de Martin de colocar um quarteto de cordas em ‘Yesterday’, contra a relutância inicial de Paul McCartney. Outro exemplo é a canção ‘Penny Lane’, que contou com um solo de flautim trompete. McCartney cantarolou a melodia que ele queria, e Martin a passou para David Mason, um trompetista de formação clássica. Também teve participação em partes integrais de músicas, como o piano de ‘Lovely Rita’, o cravo em ‘Fixing a hole’, os órgãos e arranjo de fita em looping que criam a atmosfera circense Pablo Fanque que Lennon pediu em ‘Being For The Benefit of Mr. Kite!’
Martin produziu mais de 700 álbuns, entre eles, o single com a regravação de ‘Candle In The Wind’, de Elton John, em homenagem à Princesa Diana na ocasião de sua morte em 1997. Colaborou também com Celine Dion, Dire Straits em “On Every Street”, disco sucessor do grande hit “Brothers In Arms”, e com Pete Townsed na versão para a Broadway da ópera rock do The Who ‘Tommy’. No cinema, produziu dois dos mais icônicos temas de 007: ‘Goldfinger’ e ‘Live and Let Die’, de Paul McCartney.
O maestro se apresentou no Rio de Janeiro em 1993 no Projeto Aquarius, promovido pelo Jornal O Globo. Devido a uma forte chuva, as partes tiveram de ser cortados, já que a OSB não teria como tocar e tudo correu bem, com mais de 100 mil pessoas debaixo de chuva na Quinta da Boa Vista. “Posso viver mais 100 anos e nunca vou esquecer a noite mais emocionante da minha vida, o concerto do Projeto Aquarius, no Rio de Janeiro” escreveu em seu livro de memórias.
George Martin faleceu aos 90 anos dormindo, na noite do dia 8 de março em Londres. A causa não foi revelada. Seu legado é sem dúvida um dos mais ricos da música contemporânea.
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