A banda inglesa Radiohead veio pela primeira vez ao Brasil na semana passada para a turnê latino-americana do álbum In Rainbows, lançado em 2007. A expectativa para o show deles por aqui é gigante há anos, já que por muito tempo levantaram-se boatos e falsos anúncios de apresentações em terras brasileiras. Mas o sonho finalmente se concretizou e a banda tocou no Rio Janeiro e em São Paulo.
Infelizmente não pude estar presente no show do Rio, mas fui no de São Paulo e pude ver Thom Yorke e sua trupe bem de pertinho. A banda fechou a noite da primeira edição do festival Just a Fest, que contou ainda com as apresentações de Los Hermanos – banda que se reuniu apenas para este festival – e dos veteranos eletrônicos do Kraftwerk. Ambos os shows atraíram muitos fãs para o evento, gente que inclusive estava lá apenas pra ver a volta dos Los Hermanos.
Os brasileiros fizeram um show excelente para seus fãs – o que não é o caso deste que vos escreve, que por muitos momentos sentiu-se torturado lá dentro – arrancando lágrimas e emoções de muitos presentes.
Houve realmente muita gente que saiu de lá após ver a apresentação dos Hermanos, que contou com as canções:
- Todo carnaval tem seu fim
- Primeiro andar
- O vento
- Além do que se vê
- Condicional
- Morena
- Do sétimo andar
- A outra
- Cara estranho
- Deixa o verão
- Assim será
- Cher Antoine
- O vencedor
- Retrato para Iá Iá
- Casa pré-fabricada
- Último romance
- Sentimental
- A flor
Cerca de 30 minutos após este primeiro show, os alemães do Kraftwerk subiram ao palco pontualmente às 20h e começou seu show regado a muita música eletrônica e animações totalmente setentistas nos telões. Vale destacar que o quarteto alemão é considerado o precursor da música eletrônica, iniciando sua carreira justamente nos anos 1970, e não produz canções novas há alguns anos.
A ansiedade dos fãs do Radiohead era quase palpável nos poucos minutos que antecediam seu concerto, por uma série de motivos. Primeira vez em São Paulo, show cheio de efeitos e com mais de 2 horas de apresentação, as gerações de fãs que vieram depois de sua explosão no início dos anos 1990, setlist de 25 músicas com uma série de clássicos e o novo álbum… é impossível listar as razões pra tanta espera. Era simplesmente o Radiohead no palco. A esta altura, já devia estar a uns 20 metros do palco, apertado e sendo empurrado, mas não importava mais. O show ia começar.
Após uma curta introdução com sons eletrônicos, a banda chega ao palco começando o show com as batidas de 15 Step e desfilou clássicos e novas canções em meio à insanidade e adoração do devoto público que coletou durante todos esses anos de carreira. Huve momentos de gritaria com as letras e momentos de silêncio absoluto, causado pela apreensão e atenção dos fãs com a química dos integrantes ao vivo – integrantes esses que se dão muito bem entre si, estando juntos desde o final dos anos 1980, quando a banda começou, e conseguem se relacionar de forma impressionante. O Radiohead é apontado por muitos como o Pink Floyd moderno, mas sem os egos de Roger Waters e David Gilmour. Tal afirmação não está muito longe de ser verdade, afinal psicodelia e paranóia são integrantes fixos das canções da banda, que ao vivo são escoradas por efeitos de palco invejáveis a muitas bandas, com jogos de luzes insanos e um telão que exibia imagens da banda no momento em diversos ângulos e com muitos efeitos conjuntos com as luzes. Além disso, todo o equipamento de som e vários instrumentos são utilizados pelos versáteis músicos da banda de forma muito curiosa – Ed O’Brien e Jonny Greenwood, os guitarrista, também manejam vários elementos eletrônicos, mesas de som e percussões.
O público brasileiro também foi um show à parte como sempre, fazendo inclusive Thom Yorke agradecer a todos de joelhos, ficando frenético com a reação de seus fãs diante de cada música. Paranoid Android chegou inclusive a ter um bis improvisado de tão alto que os presentes cantavam o coro “rain down (…)” – momento mais que emocionante, que foi emendado com a inesperada Fake Plastic Trees, um dos maiores clássicos da banda e que no Brasil ficou muito famosa por integrar um antigo comercial de TV sobre o preconceito com a síndrome de down.
É realmente impossível listar todos os grandes momentos do show. Tudo foi muito perfeito e mágico, algo difícil de se ver ao vivo hoje em dias, tanto nas grandes bandas de rock como nos lixos produzidos pela mídia. Todas as canções têm suas imagens personalizadas nos telões, com animações, efeitos e tudo mais que for possível. A performance de cada integrante também é absurdamente fantástica e muito natural. Era claro no rosto de cada um que tocar no Brasil era um dos momentos mais importantes de sua carreira como banda. Houve momentos em que Thom Yorke simplesmente não sabia o que dizer no microfone, ficando totalmente sem graça com a emoção de seus fãs.
O segundo bis contou com You and Whose Army, mais uma vez apresentada como um protesto contra o que os EUA fazem com os países de terceiro mundo e com uma performance fantástica de Thom, que sentou ao seu piano abraçado com a câmera, que mostrava seu rosto em todo o telão. O show terminou com Everything in its Right Place, com Thom tocando o teclado com a bandeira do Tibet – mais uma vez não escondendo suas opiniões políticas mundiais do público em geral. Quando ninguém mais tinha esperança – muitas pessoas já haviam deixado o local inclusive – o Radiohead volta para um surpreendente terceiro bis, e Thom, com sua cara de nerd traquina e gênio da música disse: “adivinhem o que vamos tocar agora”, desfilando Creep para todos os presentes. As músicas tocadas em São Paulo e seus respectivos álbuns estão logo abaixo:
- 15 Step (In Rainbows)
- There There (Hail To The Thief)
- The National Anthem (Kid A)
- All I Need (In Rainbows)
- Pyramid Song (Amnesiac)
- Karma Police (Ok Computer)
- Nude (In Rainbows)
- Weird Fishes/Arpeggi (In Rainbows)
- The Gloaming (Hail To The Thief)
- Talk Show Host (B-side – Trilha Sonora do filme Romeu e Julieta)
- Optimistic (Kid A)
- Faust Arp (In Rainbows)
- Jigsaw Falling Into Place (In Rainbows)
- Idioteque (Kid A)
- Climbing Up The Walls (Ok Computer)
- Exit Music (For A Film) (Ok Computer)
- Bodysnatchers (In Rainbows)
- Encore 1
- Videotape (In Rainbows)
- Paranoid Android (Ok Computer)
- Fake Plastic Trees (The Bends)
- Lucky (Ok Computer)
- Reckoner (In Rainbows)
- Encore 2
- House of Cards (In Rainbows)
- You and Whose Army (Amnesiac)
- True Love Waits (I Might Be Wrong)/Everything In Its Right Place (KidA)
- Encore 3
- Creep (Pablo Honey)
Pessoalmente, fiquei um pouco chateado com a ausência da maioria das minhas músicas favoritas da banda, que estão nos álbuns The Bends e Hail to the Thief, sendo elas The Bends, Just (tocada no Rio), My Iron Lung, Myxomatosis, Where I End and You Begin e 2+2=5. Mas valeu a pena. Pra quem achava que Thom nunca viria com sua banda para o Brasil, o show lavou a alma de todos.
Pontos Negativos
Apesar do festival ter sido aparentemente bem organizado – principalmente se tomarmos como exemplo os padrões brasileiros – vários fatores mostraram a realidade triste e crua de eventos brasileiros.
A saída do local foi caótica, algo muito semelhante ao que ocorreu com o Iron Maiden na semana passada. Havia apenas uma saída da pista para os 30 mil presentes, causando uma fila homérica na parte de dentro do recinto.
A cerveja acabou quando o Radiohead mal havia começado a tocar. E a água custa R$ 5,00. Ah sim, era copo, não garrafa
Os telões laterais deram problema nas 5 primeiras músicas da banda
A “praça de alimentação” não era provida de nada que não fosse um hot-dog mequetrefe e também fechou tudo quando a banda principal havia começado a tocar. Resultado: quem queria comer algo quando tudo acabou, teve que esperar pra conseguir sair do local e comer algo na vizinhança
A vizinhança que por sinal era extremamente desagradável e fora de mão tanto pra quem mora em São Paulo como pra quem chega na cidade de outros lugares. Péssima escolha para o local do evento
Segundo constato por alguns veículos de imprensa, houve cerca de 50 ocorrências policiais quanto a danos em veículos. Além do estacionamento oficial não comportar tudo, os flanelinhas cobravam cerca de R$ 50,00 pra “ficarem de olho no seu carro”.
O outro ponto negativo vai para o Radiohead, não por sua apresentação, mas pela opinião de Thom Yorke sobre filmagens dos shows. O único canal que foi permitido transmitir a apresentação foi o Multishow, e nem foi na íntegra, mas sim algumas músicas liberadas. Yorke proibiu, sem exceções, a transmissão em qualquer canal de TV do show, o que deixou muita gente chateada por não poder ter guardada com carinho a apresentação tão aguardada por aqui. Claro que no Youtube não faltam vídeos do show feitos pelos fãs das mais diversas formas possíveis.
Fica a torcida para que não demorem mais 16 anos para que voltem em nossas terrinhas. Esse foi, até agora, o melhor show do ano.
Demais Morcelli, ótima resenha e inveja!!!
Poxa, eu não gosto de Radiohead, mas acho que o show foi muito bonito pelo que vi nas fotos, em termos de palco e efeitos visuais…
Estive no show e me emocionei mto com ele, e a sua ótima resenha transmite bem o que aconteceu lá, e só aumenta a saudade daquelas longas e loucas horas.
Heheheh cara, realmente foi mágico
Tomara que isso inicie um circuito de vindas para o Brasil nas próximas turnês depois de tantos anos