Rolling Stones voltam às origens com vigor em Blue & Lonesome

“Blue & Lonesome” (Promotone B.V./Universal, 2016) é o 23º álbum de estúdio dos Rolling Stones (25º pela cronologia de lançamentos norte-americana) e, como já dá a entender no título, é uma homenagem ao blues.

Os Stones começaram sua carreira há 54 anos fazendo versões de standarts do gênero e o novo disco seria uma volta a essas origens. Justamente por ser um trabalho composto apenas por covers é possível sentir o clima de descontração na gravação que surtiu um ótimo resultado. É como se a maior banda de rock do mundo voltasse a ser aquela bandinha inglesa de pubs do início dos anos 1960, sonhando com a América. A ideia foi justamente essa. Ao invés de gravar um disco protocolar de contrato com a gravadora, mas sem muito o que acrescentar (até porque eles já não precisam provar mais nada), presentearam os fãs com um álbum em que reverenciam o gênero que tanto os influenciou.

A banda já havia feito um tributo a outra vertente da música negra em 1976 como o álbum “Black & Blue”. O enfoque era no soul e no funk e as composições eram inéditas. “Blue & Lonesome” é especificamente uma homenagem ao blues elétrico de Chicago, fonte de inspiração para toda uma geração de músicos ingleses, entre eles o guitarrista do Led Zeppelin Jimmy Page e Eric Clapton, que faz uma participação em duas faixas.

O álbum foi gravado em apenas 3 dias no Grove Sudio. O estúdio, localizado em Londres, pertence ao ex-Dire Straits Mark Knopfler que também contribuiria com sua guitarra, mas na última hora anunciou que ficara impossibilitado. Como Clapton estava trabalhando na sala vizinha, ofereceu seus préstimos aos parceiros. O guitarrista já havia dividido o palco com os Stones em um show da turnê de 1989. A música executada anquela ocasião foi uma versão arrepiante de ‘Little Red Hooster’.

Aqui, a guitarra de Clapton participa de duas faixas: ‘Everybody Knows About a Good Thing’, de Miles Grayson e Lemon Horton, e ‘I Can’t Quit You Baby’ de Willie Dixon, que ficou famosa com o Led Zeppelin. Em especial, o maior homenageado do álbum é Little Walter. Quatro faixas são composições de sua autoria.

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Embora não sejam composições próprias, as músicas possuem muito da personalidade dos Stones, não são simples transcrições das originais. Isso fica claro em ‘Ride ’Em On Down’ de Eddie Taylor e ‘Just a Fool’, de Little Walter. A faixa título e ‘Hoodoo Blues’ também merecem destaque, assim como a inspiradíssima versão de ‘Commit a Crime’, de Howling Wolf. Mick Jagger está cantando com uma intensidade que há muito tempo não se ouvia em estúdio. A marcação precisa de Charlie Watts dita o tom, e Keith Richards com sua azeitada parceria de guitarras com Ronnie Wood, se mostra a alma do disco. Não há dúvidas de que Richards é o mais entusiasmado com do projeto.

O produtor Don Was, que trabalha com os Stones desde o disco “Voodoo Lounge”, de 1994, acerta em dar ao álbum uma sonoridade encorpada e granulada (perfeita para se ouvir em vinil). A sensação é de uma atmosfera esfumaçada, com cheiro de cigarro e whisky no ar. Mais adequado impossível. “Blue & Lonesome” é uma bela surpresa para aqueles que se frustraram com o fato de o novo trabalho dos Stones não trazer canções inéditas. Essa viagem de volta às raízes foi bastante oportuna e, sobretudo, revigorante.

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