Show de Lukash aglutina em boas canções o caldo da cultura antropofágica brasileira

Tudo está quente, claro. O palco está montado, uma banda transmite um calor sincero; uma empatia com o público. Todos os instrumentos são vibráteis no sentido da termodinâmica de um show. Soltam uma energia através de ondas sonoras que musicam um pouco o órgão interno que é o coração, também visto por poetas, como um instrumento sonoro e imagético. Mas há formas de rearrumar estas ondas ou vibes que quando se aglutinam em certas células, em certas ideias, ou movimentos, criam um rebu, isso e aquilo, ou próprio rebuliço.
Tamos ou não falando da Tropicália? Essa estética aglutinadora e faminta por bons motes e fluídos na palavra-métrica & sonora. Ela canibalizou o que veio de fora, aglutinando uma psicodelia brasileira ao rock. Brincou ou brincolou com a linguagem, fez de Paulo Leminski um homem lúdico da palavra. Para reverberar o caldo, a mistura de ingredientes, foi o show de Lukash no teatro Ipanema quinta, dia 28. Caldo que transborda da cultura brasileira, num swing sempre contagiante, cada boa arritmia marcada com presteza e talento pela banda que acompanha o músico/compositor.
 

Letras que reciclam uma cultura tanto urbana de crítica social, quanto presta homenagens a ícones da MPB, como o poeta Torquato Neto. Lukas retraça na cultura brasileira o que está um pouco à margem, me lembrando muito o que Caetano fez quando elaborou aquele álbum, o estrangeiro. Inclusive, o próprio Lukas tem uma canção com o mesmo nome.
O show modula muito bem o lado mais latente do rock&roll com a primeira parte mais coesa nos timbres vibráteis do peso das duas guitarras tanto de Marcos Campello, tanto quanto, da guitarra do Tiago Nassif. Marcelo Callado rebatia, lá atrás, modulações de funk e r&b  fascinantes. A apresentação entra numa veia mais poética na segunda parte, onde o cantor frisa mais seu bom processo poético das letras e também acentua uma filigrânica emoção ao homenagear a mãe com uma canção.

Tropismo/Tropi-cal-ismo

 Reação de organismos fixos ou de suas partes que consiste na mudança de orientação determinada por estímulos externos, dita positiva quando em direção ao estímulo e negativa quando se afasta do mesmo [o termo é  usado para organismos de vida livre].

– Sem preconceitos

Músicos: Marcos Campello (Guitarra, Violão e Sinth), Thiago Nassif (Guitarras), Felipe Zenicola (Baixo), Marcelo Callado (Bateria e Charango), Fred Santiago (Bateria), Rodrigo Maré Souza (Percussão),
Participações Especiais: Bartolo, Mari Romano & Doralyce

Setlist do show

Quetzacoatl
Olho Raio
Tupã
Torquato
Estrangeiro
Brisa flor
Asa Negra
Rainha do Mar
Filhos da luta
Astronauta
Super Lua

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