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Staut traz olhar diferenciado ao mesclar diversas vertentes do rock

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A Staut traz influências que vão dos clássicos dos anos 70 ao som pesado atual. É como pegar o blues, rock clássico, heavy rock, metal, punk, hardcore, hard rock, grunge, prog, stoner, occult e indie, picar todos em pequenos pedaços, colocá-los no fogo e aspirar a sua fumaça. A banda lançou recentemente o disco ”Viajando ao Quadrado” em todas as plataformas de streaming pelo selo latino Electric Funeral Records.

Ao ouvir o disco “Viajando ao Quadrado” que contém 10 faixas, isso fica mais claro, pois nessa “trip” sonora todos esses elementos são percebidos dentro de uma unidade forte que é o estilo não tão simplesmente classificável da banda.

Formado no  Vale do Paranhana, no Rio Grande do Sul,  por Roberta Naviliat Ribeiro (Voz), Renato Ribeiro Neto  (Guitarra), Chico Paz (Baixo) e Daniel Seimetz (Bateria), o quarteto busca se conectar com fãs de rock sem preconceitos, falando em português para se aproximar ainda mais das pessoas que vivem ao nosso lado e possuem as mesmas realidades e necessidades dos iguais, sendo todos trabalhadores carentes em um país de poucos privilegiados.

De onde surgiu o nome “Staut”?

A Staut nasceu em 2004, quando o mercado de cervejas especiais ainda estava engatinhando no Brasil. Nós tínhamos um apreço muito forte por cervejas do tipo Stout. Quando formamos a banda este nome Stout estava muito presente para nós e nos passava uma ideia de força e obscuridade. Logo, resolvemos usar para banda pois sintetizava bem a proposta que tínhamos em mente. Porém na época existia uma banda com esse nome fora do Brasil e por aqui as pessoas estavam chamando a banda de “Estout”,(imitando a pronúncia). Foi quando achamos interessante abrasileirar a palavra, simplificando a pronúncia e eliminando a questão de ter duas bandas com o mesmo nome. Mas para nossa sorte, hoje existe na Noruega, (se não me engano), uma banda Staut que é muito popular por lá. Isso nos traz situações adversas nas redes sociais, muitas delas bem engraçadas!

Como e quando a banda surgiu?

Beta(voz) e eu (Renato guitarra), nos conhecemos no início dos anos 2000. Ambos éramos envolvidos com música, mas cada um tinha seus projetos e não conseguimos fazer nada juntos até 2004. Neste ano, montamos um estúdio para ensaio de bandas no centro da nossa cidade, o qual alugávamos para outras bandas para pagar as despesas do local. Ali a banda nasceu e antes mesmo de fazer shows gravamos a nossa primeira demo “Não é Certo”. Apesar de fazer covers na época, o intuito sempre foi fazer músicas de rock autoral que soassem diferente das bandas de rock Brasileiro que conhecíamos. Já no nosso primeiro show em um festival, levamos o prêmio de melhor banda de rock na categoria nacional. Aquilo nos motivou muito e nos fez acreditar ainda mais no que estávamos fazendo. Depois disso, veio mais músicas, mais festivais, mais prêmios e o mais importante, mais afinidade do público com a banda. A ideia sempre foi se aproximar do público rockeiro que, muitas vezes, curtia o som de bandas clássicas mas tinham a experiência limitada pela questão da compreensão das palavras. Fazemos rock pesado, com atitude mas sem rótulos, falando de forma mais próxima e acessível à pessoas que pensam como nós.

A banda segue promovendo seu último lançamento,  o  disco ‘Viajando ao Quadrado”  . Como foi o processo de gravação desse material?

Beta e eu (Renato Guitarra), estávamos morando em São Paulo, exercendo atividades extra musicais. Aos poucos, nos isolamos e literalmente viajando ao quadrado, começamos a escrever as músicas que fariam parte do disco. Quando estávamos com um disco praticamente escrito, procuramos o músico, produtor e ex-integrante da Staut, Ale Marks de Três Coroas no Rio Grande do Sul. A partir deste momento começamos a pré-produção do disco, que se baseou em troca de arquivos via internet em uma ponte entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Até então a banda estava passando por um hiato que durou de 2008 à 2014. Nosso baterista original está morando na Alemanha e não tínhamos encontrado a pessoa certa para fazer parte da banda nesta nova fase. Foi quando o Ale nos apresentou Daniel Seimetz! Baterista que tocava com o Ale em seu projeto de metal e trazia uma técnica impressionante. Agora com Beta no vocal, Renato na guitarra e Daniel na bateria, o Ale Marks assumiu o baixo e partimos para o próximo passo. As gravações ocorreram no Staut Bunker Studio em Taquara-RS. Nosso templo! Um local de liberdade, onde o respeito à expressão e criação são princípios básicos para quem entra.

Foram duas viagens de São Paulo para Taquara! Uma para gravar as guitarras e outra para gravar os vocais. As baterias foram gravadas em seguida e as linhas de baixo vieram logo após com as gravações feitas no Victor´s Lab onde o disco foi mixado. A masterização ficou a cargo de Betho Ieesus do Estúdio Sun Trip em São Paulo, que conhecemos por trabalhos com Ratos de Porão, Charlie Brown Jr., entre outros.

O disco da banda foi muito bem recebido nos sites de música especializada nacionais e internacionais . Como a banda está vendo esse feedback tão positivo do material lançado?

Isso é demais! A música é uma forma de arte na qual você se despe e se joga para o mundo. Você nunca sabe quando há alguém olhando para aquilo que seu coração permitiu expressar. Quando rola a identificação com o público e as pessoas se permitem retribuir esses sentimentos, nos tornamos algo maior e único. Somos todos uma comunidade ou uma família talvez! Podemos não concordar com tudo, mas nos entendemos e possuímos algo mais importante que nos une. Nesses momentos as pessoas nos permitem e nos motivam a representá-las!

Suas músicas demonstram muita intensidade e entrega por parte da banda. Existe alguma composição que seja mais especial para vocês?

Cada música tem uma história e a cada nova música que nasce, temos uma nova preferida! É bem maluco isso! Foi assim desde o início da banda.No Viajando ao Quadrado há músicas como “BEMRIP” que descreve uma viagem dos últimos momentos de vida de amigo querido que partiu muito jovem levado por uma overdose. Também há contradições de sentimentos, como a motivação em “Fascínio do Além” e a depressão em “Vão”. Ou então temos a “Ogmandino”, uma música que traz uma mensagem positiva no final de um disco de temática tensa, cheio de vícios e pirações. Se fizermos uma leitura por faixas do disco, todas renderam uma boa conversa!

Quais as bandas e fontes artísticas que inspiram o som do Staut?

Nossa, essa pergunta é difícil!! Hahaha… Costumamos dizer que somos influenciados por boa música, porque há muita coisa boa e muita coisa ruim em todos os segmentos do rock. Não gostamos de nos limitar a um estilo pois as coisas ficam repetitivas e pouco criativas. Música tem tudo a ver com atitude e verdade! Acho que tudo que está a nossa volta nos influencia! Política, cinema, quadrinhos, livros, relacionamentos, enfim… No disco Viajando ao Quadrado fizemos três vídeos, sendo que dois deles seguem a ideia de “quadrinhos animados”! O primeiro vídeo foi para a música “Olhos de Sangue” que na verdade funciona como uma introdução para a música “Viajando ao Quadrado”. A ideia era seguir a história da freira possuída por um demônio em um segundo vídeo para a música “Viajando ao Quadrado”. Isso acabou não acontecendo, pois fizemos um vídeo para música “Fermentado”, que segue uma linha mais Stoner Rock, e estava tendo uma atenção maior por parte da galera. Neste vídeo, uma HQ toma vida e rola uma história com muita bebida, carro, moto, briga de bar, morte e viagem para o inferno! Até o capeta bota uma para o cara beber!!! Hahahaha…

De onde vem a ideia de misturar diversos gêneros musicais no som da banda?

Como falamos na pergunta anterior, somos influenciados por música verdadeira. Historicamente vemos que a atitude se sobressai sobre a técnica em diversos momentos no decorrer dos anos e das diversas variações do rock. De tempos em tempos surgem bandas que viram referência, nascem movimentos que geram estereótipos e tudo fica chato em pouco tempo, pois se tu é um bom músico tu vai seguir a cartilha e a indústria vai funcionar até as pessoas cansarem. E assim rock vai perdendo credibilidade comercial, volta para obscuridade até surgir alguém realmente inovador. Estamos sempre procurando bandas novas que trazem referências legais, mas que pareçam diferentes umas das outras. É difícil de se criar uma identidade quando você não segue um movimento definido. Você agrada em determinado momento e desagrada no momento seguinte. Mas já que escolhemos tocar o barco sobre as pedras seguindo uma vida de rock and roll, vamos fazer como acreditamos ser o certo. Misturamos tudo que achamos que é bom, e deixamos com a nossa cara. Temos um material gravado de 2004 à 2008 que não foi lançado oficialmente. Tocamos as músicas ao vivo junto com as do Viajando ao Quadrado. São outras influências de outras épocas e funcionam perfeitamente todas juntas.

Podemos esperar mais material inédito em breve?

Sim!!! Estamos terminando a pré-produção do sucessor do Viajando ao Quadrado. Estamos passando por um momento criativo fantástico com o nosso novo baixista Chico Paz. Ele é um músico incrível e trouxe para banda uma vibração que não tínhamos há muitos anos. Ele está participando ativamente da parte de composição!Este novo disco vai além do Viajando ao Quadrado! Será novamente muito variado com músicas que vão do metal ao rock tradicional. Acho que depois deste disco, quem ainda não absorveu a ideia, terá uma visão melhor da proposta da banda. O disco sai em 2022!

Como vocês veem o impacto da pandemia e do desgoverno brasileiro em relação à cultura nacional?

Isso é surreal!! As pessoas saem às ruas em nome da liberdade pedindo para que um tirano tenha plenos poderes no governo(?)!!! O excesso de informação descontrolada é uma nova doença social. As pessoas estão expostas e confusas! É natural do ser humano negar aquilo que lhe desagrada ou lhe fere de alguma forma. Todos queriam uma solução há alguns anos sobre toda aquela coisa de corrupção exposta da política de esquerda. Não estou aqui para julgar se era verdade ou não, mas acredito que não era exclusividade da esquerda. A corrupção e todo esse jogo de valores vem com o poder. Quem está por cima só será destituído por quem também quer o poder a qualquer custo. A galera de direita está cega, pois teme o retorno da esquerda e não vê o preço que estamos pagando por isso. Temos que ter alguém que traga de volta o equilíbrio das coisas. Acho que temos um sistema democrático doente que se auto destrói a cada ano que passa. As pessoas estão se sentindo enganadas o tempo todo e não sabem mais o que pensar. O atual governo acabou com o departamento de cultura no Brasil e prega que professores são comunistas que destroem os bons costumes das famílias. Se continuarmos nesse caminho, nós músicos, artistas, filósofos, professores, seremos fortes candidatos a serem escravos de grandes empresas nos próximos anos, tal ok?!

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