Sustentabilidade. Essa foi a proposta do maior e mais importante festival de música que aconteceu em terras tupiniquins este ano. SWU – Starts With You – ou, “começa com você”, em bom português, traduz quase que literalmente a ideia inicial do evento, definida em um movimento que propunha injeções de soluções ecologicamente viáveis visando resolver muitos dos problemas que a humanidade, anestesiada pelo comodismo, possui hoje; principalmente no que diz respeito à preservação ambiental. Por consequência, tinha por objetivo propor o desenvolvimento sustentável. Infelizmente o que foi visto dentro do evento soou como um discurso leviano e oportunista, que se mostrou quase como uma máscara a fim de atrair público e artistas, além da visibilidade que este tipo de proposta traz. Talvez essa nem tenha sido a verdadeira intenção dos idealizadores, mas pela falta de organização e deficiência no planejamento, acabou por causar esta impressão em boa parte do público. Levantemos então os pontos fortes e fracos do evento.
(-) Foi demais…
Inicialmente, em se tratando especificamente da proposta politicamente correta dos organizadores, o que vimos na prática não condizia nem de longe com os preceitos da preservação ambiental. Logo na entrada o público era submetido a uma revista em bolsas e mochilas por membros da organização. Não era permitido entrar com garrafas ou recipientes de qualquer espécie, nem tampouco comida. Obviamente para obrigar o público a comprar suprimentos (a preços absurdos, obviamente) nos bares da parte interna do evento. Eis um claro exemplo de quando o capitalismo se sobrepõe ao belo discurso ideológico que esbanja responsabilidade social, mas que se revela quase como utopia. Ao proibir o público de entrar com garrafas de água (mesmo estas sendo de plástico, se a preocupação era com a segurança), a organização obrigava o consumidor a comprar esta bebida, por exemplo, no bar do evento, utilizando um copo descartável para armazenar o líquido que antes adormecia em uma garrafa PET. O procedimento de não reaproveitamento de copos plásticos foi um erro, e o fato de se descartar dois recipientes por bebida é um desperdício claro. No interior não se vendia cigarros, logo era permitido a entrada dos mesmos. E as emissões de gases poluentes excessivas que o fumo produz? Se é proibida a entrada de um pacote de salgadinhos, o correto – frente à proposta de sustentabilidade do evento – seria a proibição deste tipo de bem, à exemplo. Acontece que a proibição destes produtos não visava nem a segurança, nem tampouco a concordância com a ideologia do discurso político; e sim, o lucro. Como sempre.
O pouco número de latas de lixo distribuídas na área fez com que se acumulasse uma grande quantidade de lixo no chão, principalmente perto dos bares. Existiam incialmente poucos catadores, o que aumentava ainda mais o ajuntamento de sujeira no gramado. Tais problemas, entretanto, foram resolvidos de modo que ao terceiro dia já não se via uma grande quantia de entulho sobre o solo.
Faltaram locais para se obter informações sobre como viver de forma sustentável. Lugares que ensinassem ao público a reciclar, economizar os recursos naturais e administrar a energia elétrica de forma eficiente. Existia apenas a proposta em si, e o Fórum – que era restrito às pessoas que se cadastraram previamente pelo site, antes do evento. Nada aberto ao público geral, o que restringiu a troca de informações por parte dos participantes.
As filas intermináveis deixou bem claro a falta de organização do SWU. Tanto de carro, no percurso que compreendia a rodovia SP 079 até o estacionamento na parte interna da Arena Maeda, e o subsequente caminho de quase 1,5 km que o público teve que andar até chegar à entrada; como a fila para entrar no evento propriamente dito, que submetia o público a duas revistas distintas até a conferência do ingresso nominal (que não importava ser nominal, já que não havia checagem). Checagem esta que não houve hora alguma. Nem para atestar que determinada pessoa não era menor de idade ao tentar comprar bebida alcóolica, nem para entrar no evento em si.
Infelizmente o som não se manteve homogêneo, oscilando muito seu volume entre os shows. A grande falha de produção talvez tenha ocorrido na apresentação de Rage Against the Machine, onde o som foi cortado em duas músicas, como já comentado anteriormente aqui.
(+) Foi demais!
Creio que o ponto mais forte foi a pontualidade que os dois palcos principais trouxeram, já que as bandas se revezavam de modo que o público não tinha de esperar a preparação do palco para o início da próxima atração. Quase não houve atrasos, com exceção de Queens of the Stone Age. Mas nada que manchasse a ideia inicial, que se mostrou deveras eficiente.
A segurança foi outro destaque, já que nenhuma ocorrência grave aconteceu durante os três dias de shows.
Os postos médicos e as saídas de emergências estavam bem visíveis e acessíveis, assim como todo o layout estava bem projetado, de modo que as tendas atendiam aos padrões de isolamento acústico e não sofriam influencia vindas dos palcos principais, e vice-versa.
Rage Against the Machine. Faltou pouco para ser perfeito.
No geral o festival valeu pela quantidade de bandas fantásticas que conseguiu reunir, apesar das apresentações breves. A variedade nos estilos atingiu uma grande quantidade de fãs de música, nas suas mais variadas formas. Só nos resta agora que o SWU de 2011 cresça e corrija todos os erros que fizeram o público descartar o adjetivo épico para defini-lo. Quem sabe assim ele não se torne o mais importante festival de música do Brasil? O mais novo Rock in Rio? Potencial há.
Eis algumas imagens do evento:
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