Falta de originalidade na Turma da Mônica Jovem

Quando Luluzinha Teen chegou nas bancas muitos “profissionais nacionais de quadrinhos” e “formadores de opinião” se revoltaram com a proposta da Ediouro, acusando a editora de distorcer os personagens por dinheiro e profetizando um fracasso iminente.

Tais críticas obviamente não surtiram efeito fora do limitado público dos sites especializados de quadrinhos, e a revista continua nas bancas, mas a repercussão gerou uma resposta inconformada de Renato Fagundes, roteirista da série, profissional que sem dúvida poderia ser prejudicado pela falta de ética de quem fomentava as críticas com segundas intenções. O que me chamou atenção neste caso é pouco se comenta sobre a Turma da Mônica Jovem, a publicação do Maurício de Souza que também se aproveita da febre dos mangás.

Apesar de não acompanhar avidamente os quadrinhos teens do mercado, mantive um interesse pela Turma da Mônica Jovem – produção do Maurício de Souza e de Marcelo Cassaro – por manter a impressão de que a publicação não agregava valor. Se com as publicações originais Maurício de Souza retratou através de personagens icônicos situações que transmitiam mensagens positivas para as crianças, com Turma da Mônica Jovem ele desconstruiu o esforço em troca de uma sobrevida para uma nova geração. Na nova versão, as principais características e “problemas” dos personagens foram transformadas em fantasmas e Mônica, Magali, Cebola e Cascão se tornaram esteriótipos de adolescentes, como se fosse comum aos adolescentes se tornarem versões pré-definidas dos personagens da novela Malhação, da rede Globo.

Mas os problemas não ficam somente aí. Ao mesmo tempo que se utiliza uma linguagem moderna para tornar a série atrativa para um público jovem, a publicação distorce a juventude com uma visão demasiado conservadora. Turma da Mônica Jovem apresenta a visão idealista do autor para os adolescentes, ignorando completamente que hoje crianças e jovens possuem acesso indiscriminado a informação e vivenciam muito mais que as gerações anteriores.

Para ilustrar esta deficiência, vale ressaltar a recente polêmica na revista “Tina #6“:

“O triângulo da confusão” – Tina sai com um amigo desconhecido, Caio, deixando Miguel, o namorado dela, enlouquecido e Pipa, transtornada. “Namoro virtual” – Rolo vai a um encontro com uma paquera da internet. “O que uma mulher não faz para entrar num vestidinho tudo-de-bom?” – Pipa faz de tudo para emagrecer e entrar num vestidinho rosa. “Solidão a dois” – Rolo vai acampar, e seu pai vai atrás.

Caio, apresentado nesta edição, foi anunciado como primeiro personagem homossexual criado pelo estúdio, porém, após a grande repercussão na imprensa, Maurício de Souza publicou uma nota através de sua assessoria de imprensa destacando não haver qualquer afirmação sobre a opção sexual do personagem. O que ficou no ar foi saber se Maurício de Souza voltou atrás na decisão de criar um personagem não-binário após temer uma resposta negativa dos consumidores ou se trata de apenas conservadorismo. A confusão foi ainda mais longe com a declaração de Maurício no Twitter, que vendia a revista como “dirigida a um publico adulto jovem”.

Há muito tempo a diversidade sexual é assunto de debate nas escolas, ainda mais com o acesso à internet. Mais grave ainda é perceber que mesmo em Tina, uma revista com “personagens adultos”. Falando sobre o assunto para a revista Veja, Maurício de Souza jogou um balde de água fria nas pretensões didáticas de suas publicações teens:

“Tem gente pedindo para eu criar um personagem gay. Esse tema ainda é muito novo. Mas eu sei que, no futuro, se essa tendência continuar, será natural ter um homossexual na Turma. No meu estúdio, digo que não devemos levantar uma bandeira e ir à frente de uma passeata. Devemos segurar a bandeira quando ela já está passando. Precisamos falar a língua do dia e da hora, mas tomando certos cuidados. Foi com essa fórmula que construí minha carreira.”

A afirmação é um tanto decepcionante para tantos jovens e adultos com questões ligadas à sua sexualidade. Manter Turma da Mônica Jovem ‘descompaçada’ com a realidade desgasta mais rapidamente a revista junto ao jovens, que passam a buscar em publicações mais autênticas que falem com sua realidade.

Obs. Para interessados, o Ultra do Melhores do Mundo publicou diversas de críticas da primeira temporada de Luluzinha Teen, recomendo aqui a leitura do primeiro e do quarto número.

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