Ícone do site Ambrosia

Ambrosia Visita: Mythos/Panini

Ao nos aproximarmos de um marco nesta nova geração de publicação dos quadrinhos Marvel no Brasil, a tiragem número 100 de Homem Aranha, X-Men e X-Men Extra, este editor, acompanhado de Felipe Morcelli, resolveu conhecer de perto onde trabalham os editores das duas principais linhas de quadrinhos do Brasil pois, como bem disse o filósofo, antes de criticar, é melhor conhecer.

Capa de X-Men #1

A visita foi curta, porém extremamente proveitosa de elucidação de diversos pontos, em especial algumas críticas feitas contra os editores, editora e mix de quadrinhos. Por quase duas horas conversamos diretamente com Fernando Lopes, editor sênior da Mythos/Panini, e um dos responsáveis pelas primeiras edições da Marvel com o novo selo Panini.

Neste artigo não será transcrita a conversa, afinal, a visita foi uma cortesia que Lopes abriu ao site e, desta forma, não houve qualquer formalidade na agradável conversa.

Para quem não sabe, a Panini tem o selo, mas a editoração das revistas fica por conta da Mythos que foi terceirizada desde o começo pela editora. Assim, ao invés de ir nos escritórios da Panini, fomos direto à fonte para conhecer o trabalho desses caras e conhecê-los pessoalmente.

Isto seria espaçoso perto da realidade na editora
Acreditem, é ainda mais apertado do que esta imagem

A editora fica situada em uma casa na capital paulista e basicamente cada uma das sessões fica em um cômodo bem apertado. Direção de arte aqui, editoração ali, etc. Quem fica mais folgada é a secretária. Para se ter uma idéia, em uma mesma sala ficam Rogério Saladino, Fernando Lopes, Paulo França, que são da Marvel, toda a equipe DC e mais um coitado perdido que deveria estar acabando de chegar na editora. Sim, isto tudo no mesmo quarto que ainda estava repleto de quadrinhos novos e antigos em pilhas e mais pilhas.

É uma certa surpresa tendo-se em vista que se imaginava algo como uma redação de jornal, mas aquela época romântica morreu com a editora Abril. Hoje a idéia é corte de gastos e racionalização do espaço com o intuito de lucro. E verificou-se desde o começo que o papo seria um certo tapa de pelica naquelas fantasias infantis que muitos ainda nutriam.

De qualquer forma, Lopes bateu um papo informal com estes dois novatos que estavam ali para conhecer a editora. Aqui no Ambrosia falamos com certo criticismo para com a Panini devido o aumento de preços praticado ano passado, porém, como bem disse posteriormente ao Rogério Saladino pela internet, depois de entender a editora como uma empresa e não uma fábrica de sonhos, percebe-se que aquele aumento teria de acontecer.

A Transição Abril – Panini

Lopes nos falou um pouco sobre os dias da transição da Abril para a Panini e de como muitos que antes chamavam a Panini de salvadora hoje a pregam como a multinacional do império do mal que veio para tirar o dinheiro dos leitores. É estranho de se verificar isso, mas em verdade, o que poucos aqui sabem é que aquelas primeiras seis revistas que foram lançadas pela Panini, das quais apenas X-Men, X-Men Extra e Homem-Aranha sobreviveram, foram editadas em menos de 30 dias, sendo que X-Men e Aranha foram em menos tempo ainda. Isso não é fazer mea culpa, é meramente mostrar como eram conturbados aqueles anos.

É de se observar que há claramente uma ampla atitude de alguns que parecem não medir esforços para tentar atacar de todas as formas a editora e seus editores. Algumas escolhas foram tomadas de forma errônea, o mercado foi mal avaliado e revistas foram canceladas pela razão mais simples do mundo: Elas não venderam bem.

Algumas revistas como Quarteto Fantástico, Hulk, são, as famosas afundadoras de mix. Ou seja, não vendem tão bem quanto as já bem estabelecidas X-Men e Homem-Aranha. Porém, ao contrário da Abril que misturava seus mix entre Homem-Aranha e Quarteto por exemplo (o que foi engraçado de citar na hora, afinal, como bem nos lembrou, Quarteto Fantástico de John Byrne é quem segurava o mix do Aranha na Abril na época de sua publicação), a Panini sempre se prontificou a manter no mix as revistas o mais correlatamente possiveis. Revistas X só tem mutantes, Homem-Aranha só tem histórias do Aranha, etc.

Isso era visto como um marco e uma das maiores benésses que a editora nos trouxe. Hoje, com o passar dos anos, foi esquecido e tem muita gente que acha que o formatinho era o ideal em termos de custo. Como bem disse Lopes, se for provado por A mais B que ele vende melhor, a editora volta para o formatinho que a Abril usava na hora.

As Mudanças Editoriais e o Mercado de Quadrinhos.

Enquanto eu pesquisava um pouco na internet sobre a editora, cheguei a alguns sites falando sobre essa dita mudança editorial e de como o brasileiro irá comprar quadrinhos. Como ainda faltam alguns meses para a resposta dessa pergunta vir à tona, Lopes não pôde dar mais detalhes, porém, um dos boatos, aquele que dizia a respeito dos quadrinhos on demand, foi totalmente rebatido. Porém, ele disse que, para os encadernados, isso seria uma ótima se fosse usado um sistema de pré-venda pela internet. O leitor encomendaria a revista e depois que chegasse na tiragem mínima, a editora mandaria a revista para a gráfica. Se fosse assim, alguns dos encadernados da série “Clássicos” ainda poderiam ser publicados. Para se ter uma idéia, até mesmo os clássicos do Homem-Aranha foi cancelado por enquanto em razão da baixa venda. Só que, infelizmente para nós, esse tipo de coisa ainda está há alguns anos de acontecer, se é que vai acontecer.

A verdade é que essa mudança já foi decidida, porém ainda não pudemos ter acesso a qualquer informação privilegiada. Um dia a gente fica chique e consegue umas exclusivas.

As Críticas da “Imprensa Especializada” e dos Fãs

Uma outra coisa que se percebia é como há um certo desgosto nas críticas recebidas de alguns jornalistas, editores de site e semelhantes, que, colocaram a Panini, como sempre acontece, em um lugar onde o mínimo erro é um pecado irremediável, enquanto que, em casos como a finada Pixel, edições com erros graves de editoração eram aplaudidas de pé por estarem sendo a linha de frente contra a Panini.

Os mesmos críticos são aqueles que reclamam de problemas de uma revista quando na verdade se referem a outras, produzindo um erro eles mesmos, ou então, a algum problema de tradução. A verdade é que toda revista editada no Brasil, ganha uma tradução advinda de outros escritórios, e que os textos já chegam prontos aos editores que podem e devem fazer correções e adaptações para a realidade atual, especialmente em se tratando de gírias.

Infelizmente a Pixel, por melhor mix de revistas que tivesse, não soube angariar público e, acima de tudo, não tinha revistas que chamassem leitores, e sem estes, editora nenhuma sobrevive. A Panini vende, se mantém viva em um mercado que teve de ser ressucitado graças a linha Premium da Abril que assustou, ou até mesmo, usando um termo mais pesado, expulsou leitores do mercado de quadrinhos nacional. E com a ida do mix Vertigo para a Panini após o fechamento da Pixel, a editora corre o risco de ter poucas vendas se o mix utilizado não for bom e não atrair público.

Porém, ao contrário da Abril, a Panini/Mythos vem fazendo algo até então inédito aqui. Lançamentos de revistas com coerência e nexo desde o começo. Infelizmente para alguns, e eu me refiro aqui apenas à Marvel, as revistas estão cada dia mais entrelaçadas e algumas revistas que tinha um pequeno grupo de fãs, como é o caso do Motoqueiro Fantasma, Cavaleiro da Lua, Deadpool e Pantera Negra, tiveram de ser canceladas em prol de um todo. Ainda assim, os editores lutam por colocar no mercado mais do que apenas uma revista do Homem-Aranha e três do universo X, que são as que mais vendem, seguidas de perto por ambos dos Vingadores, Max e Universo Marvel.

O fã que desconhece a vida de uma redação de quadrinhos ou uma editora acha que os caras vivem às mil maravilhas, fazendo o que bem entendem. Pois infelizmente aqueles que são críticos, a verdade é que tudo se resume a dinheiro e vendas e sempre foi assim. Com Stan Lee chefiando a Marvel era assim há décadas atrás, só que o olhar romântico que paira sobre os quadrinhos daquela época acaba ofuscando esse tipo de capitalismo selvagem, onde aquilo que não vende tem de ser destruído. Quantas vezes revistas como Thor e Homem de Ferro foram reiniciadas nos EUA?

A vida útil de uma revista é decidida pelos seus números de vendas. Não há nada que os editores possam fazer a este respeito a não ser tentar colocar em um mix alguns personagens que atraiam leitores e ao mesmo tempo, lançar material de qualidade. Porém, basta ver em uma análise fria, que, qualquer revista que tenha Demolidor, Quarteto Fantástico ou Hulk é queda de vendas certa, por mais que as histórias estejam perfeitas. Os fãboys sabem disso, mas o leitor comum não sabe e para eles, esses três não são legais de ler, o que faz com que as revistas sejam canceladas.

Infelizmente, o papo teve de ser curto porque os prazos da editora fluem constantemente e tempo é dinheiro. Foi um enorme prazer conhecer um pouco da vida da editora, e quem sabe, mais adiante, poder voltar lá com mais tempo de ambas as partes a fim de uma entrevista com cada um dos editores. Até lá, deixo o espaço nos comentários para aqueles que tem interesse em reclamar e elogiar essa nossa iniciativa.

J.R. Dib

Sair da versão mobile