Besouro Verde: Transposição para os quadrinhos

Como a grande maioria dos heróis e vigilantes de outras mídias não foi diferente com o Besouro Verde: logo em seus primeiros anos de existência ele já ganhou versões nas páginas dos gibis, gerando um dos primeiros licenciamentos de personagens para outras mídias. O criador George Trendle, ao contrário do que muita gente faria hoje, foi extremamente a favor e negociou o uso da marca com a editora Helnit Comics em meados de 1940, sendo que a primeira revista oficial foi lançada em dezembro daquele ano com texto do próprio Fran Striker, que é tido como co-criador do herói e roteirista de vários episódios do programa de rádio dele.

Importante notar que este jogo de licenciamento de heróis e personagens ainda estava muito no começo naquela época. As editoras e produtoras ainda tateavam o uso de marcas importantes para o mercado popular por isso o a editora Helnit teve apenas sete edições de nosso querido vigilante, sendo abandonada logo depois. Entretanto, uma editora com um pouco mais de força viu o potencial do herói e poucos meses depois a Harvey Comics continuava de onde parou a numeração da revista The Green Hornet Comics, e assim durou até a edição #47, praticamente quatro anos depois.

Hoje em dia este material não é mais tão raro quando há poucos anos atrás pois a editora Dynamite Comics, que em 2009 negociou a marca do Besouro Verde com a Green Hornet Inc., está republicando todas estas histórias clássicas em suas antologias Green Hornet Chronicles. São típicas histórias policiais da década de 1940, mas para fãs são verdadeiros achados de uma época que não volta mais – a não ser na cultura.

Para não deixar a imagem do herói morrer a Dell Comics publicou pequenas histórias dele em revistas suas durante a década de 1950, mas uma volta mais promissora só foi acontecer quando a série de Van Williams e Bruce Lee veio ao ar em meados dos anos 1960 com a editora Gold Key. Mesmo que os roteiros fossem baseados nos episódios do programa e tivessem mais qualidade, acabaram tendo o mesmo destino que o show, acabando com apenas três edições. Era o fim do herói, que entraria num ostracismo não imaginado por 20 anos!

NOW Comics tudo muda

A NOW Comics, editora de menor escala no mercado americano mas que detinha permissões de uso de ótimos personagens populares da cultura americana, havia conseguido licença para usar o Besouro Verde de forma inédita até então: eles pegariam a base de várias coisas feitas com o universo do herói e construiriam um universo próprio e inédito, criando personagens, situações e enriquecendo o passado dele. Era um Besouro Verde como ninguém tinha visto antes e ele foi muito bem aceito.

Tudo começou em 1989 com o escritor Ron Fortier e com o desenhista Jeff Butler e a ideia dos dois criadores – somada ao desejo dos editores da NOW – de fazer um pequeno épico com várias gerações do herói mascarado, levando em consideração a relação e familiaridade dele com o Cavaleiro Solitário, as versões do rádio, dos anos 1960 e tudo mais. Foi criada, pela primeira vez, uma árvore genealógica de Besouros Verdes e Katos pegando o mito do legado e transformando-o em algo mais detalhado e profundo. O Britt Reid da série antiga do rádio foi o primeiro combatente esmeralda e ele viveu nos primeiros anos pós Segunda Guerra, tendo que mudar a nacionalidade de seu fiel amigo (agora com o nome completo de Ikano Kato) de japonês para filipino para que o sentimento anti-nipônico da época não o pegasse.

O Britt Reid referente ao do seriado, interpretado por Van Williams originalmente, virou Britt Reid II, e assumiu o manto do tio após ter um amigo assassinado. Mais tarde ele morre de ataque cardíaco e Haysahi Kato acaba se tornando uma grande estrela de filmes de ninja. Hayashi foi genealogicamente estabelecido como filho de Ikano Kato e levou esse nome em homangem ao ator que fazia Kato nos rádios. A NOW foi desenvolvendo a mitologia desta forma, acrescentando o legado de forma bem pesada e dando vida e muitos novos heróis que carregavam consigo a força daquele mito. Fortier era um escritor versátil e conseguia lidar com todo este universo sem ofender nenhum fã antigo. Sendo assim a série acabou durante até meados dos anos 1990, se tornando a mais longínqua do herói.

A editora ainda trouxe personagens como Paul Reid – o Besouro oficial de quase toda a série mensal deles – e uma Kato feminina que virou par romântico com ele, mas esta versão do eterno lutador não agradou muito aos fãs que pediam algo mais tradicional, fazendo com que a editora voltasse com um Kato masculino e apenas como parceiro do herói.

Além da série principal a NOW ainda lançou outras minissérie e séries paralelas do personagem escritas por vários outras artistas da indústria. Estiveram no universo do herói gente do calibre de Mike Baron e de Chuck Dixon No âmbito dos desenhos até o criador de Jonah Hex, Tony DeZuñiga, fez alguns trabalhos, bem como o brasileiro Joe Bennett. Nas mãos de gente competente o herói pode reviver os tempos clássicos da era de ouro, o tempo presente e até o futuro distópico de 2080. Até o próprio Van Williams, ator do seriado sessentitsta, chegou a escrever roteiros para estes quadrinhos fazendo a minissérie de duas edições Tales of the Green Hornet.

Para os fanáticos por automóveis aqui vai um detalhe bastante curioso: a NOW ignorou os carros utilizados anteriormente e colocou nas páginas de suas revistas um Beleza Rara baseado no Pontiac Banshee para as histórias antigas e um quatro portas Oldsmobile 98 Touring Sedan para as mais recentes.

Infelizmente a NOW não se sustentou e acabou fechando as portas, deixando muitos fãs órfãos mais uma vez dos vigilantes mascarados. Iniciava-se mais uma era de ostracismo. Mas uma coisa era certa: até então tinha sido a maior expansão do universo do Besouro Verde e o legado que a editora deixou aos fãs e curiosos tinha sido memorável. A NOW Comics era muito conhecida por inovar nas pinturas também fazendo uma colorização muito peculiar e que funcionava quase que como uma vanguarda para as editoras americanas, afinal, ela foi a primeira a dar valor e créditos corretos a coloristas.

Mudanças para o novo milênio: Dynamite Entertainment assume

Mais uma vez Besouro Verde e Kato ficaram por quase duas décadas sem ter uma casa para publicações e reinvenções da franquia. Com a falência da NOW o Besouro Verde caiu em total esquecimento, até que em 2009 a editora Dynamite Entertainment – uma das que mais cresce em franquias e público adquiridos nos últimos anos no mercado estadunidense – conseguiu negociar com a Green Hornet Inc. – empresa que protege e mantém os direitos do personagem e de seus criadores – liberdade total de criar um universo novo e livre de qualquer amarra, limitando tudo apenas na criatividade dos criadores.

Para promover de forma bombástica seus novos direitos a Dynamite pegou o antigo roteiro que Kevin Smith havia feito para um filme do Besouro Verde pela Disney – e que acabou engavetado por uma série de razões – e o transformou numa pequena antologia fechada de 10 edições mensais que balançou o mercado e trouxe o herói à tona quando ninguém esperava mais nada. Tendo ainda um filme anunciado para fim de 2010 / início de 2011 tudo começou a mudar novamente  para nosso herói esmeralda.

Smith preferiu homenagear os melhores momentos do herói durante todos os seus 70 anos de vida do que simplesmente construir algo do zero, mas trouxe sua personalidade à narrativa tornando a revista Kevin Smith’s Green Hornet algo realmente singular, em especial pela arte quase cinematográica de Jonathan Lau. A Dynamite obteve um sucesso tão grande que colocou no mercado cerca de oito séries relacionadas ao herói, sejam mensais ou minis, expandindo a franquia como nunca havia feito antes com nenhuma de suas marcas.

A editora ainda viu a possibilidade de amarrar seu trabalho ao filme e criou a minissérie Green Hornet: Paralell Lives de Jai Nitz, que serve de prequência para a película que estreia semana que vem no Brasil.

Em nossos próximos artigos veremos mais detalhadamente quadrinhos da Dynamite, conheceremos o processo de evolução do Black Beauty e os filmes que o Besouro já ganhou em sua vida.

[Veja mais: O início da mitologia do vigilantismo]
[Veja mais: A série de TV com Bruce Lee]

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