Pode parecer estranho, mas a mudança de parceiro do Capitão América a protetor da Terra que o personagem Bucky Barnes passou, foi alavancada a partir do filme Captain America: The Winter Soldier. E que o levaria a ser o protagonista de um eventos mais importantes da Marvel naquele período, Original Sin. Após os acontecimentos de Pecado Original, como ficou conhecido por aqui, Barnes assume o posto de novo protetor secreto da Terra.
Esse é o argumento que abre a narrativa de Bucky Barnes, o Soldado Invernal, escrito pelo novo talento da Marvel, Ales Kot (Zero, Secret Avengers), e ilustrado por Marco Rudy (Marvel Knights: Spiderman). E atenção: os dois trabalham um estilo único, que poderá dar ao título um grande salto de qualidade para a Casa das Ideias, que não aparecia desde aquela geração de títulos Marvel Knights. Um dos grandes lançamentos que saem como consequência do evento Pecado Original, o encadernado da Panini traz O Homem na Muralha, com as cinco primeiras edições que foram publicados entre dezembro de 2014 e abril de 2015.
É inegável o interesse que a Marvel Comics criou ao redor de Bucky, ao protagonismo do subtítulo incluído do segundo filme do Capitão América, o papel do ex-sidekick do Cap, ex-Soldado Invernal, ex-Capitão América titular e atual “Man on the Wall, opera a um nível intergaláctico, do Limbo a Asgard, no cargo que Nick Fury secretamente mantinha em segredo.
Fazendo uma analogia é como o 007 tivesse acesso a qualquer universo de outro filme. E para evitar o estilo de espionagem, a Marvel decidiu contar com o melhor narrador do gênero, Ales Kot. O autor em uma entrevista a Newsrama disse que trabalhar com um personagem tão traumatizado como Bucky Barnes (lembra o Jason Bourne, não acham) e um especialista em sobrevivência que suas intenções seriam de desenvolver oníricamente uma viagem com temas que lembrariam Philip K. Dick e a revista Heavy Metal, misturando política, guerra, violência, mentiras…
E assim herdando o trabalho de Nick Fury nas horas livre, coube como um anel no dedo para o personagem. Acompanhado de Daisy Johnson (ex-diretora da S.H.I.E.L.D. e outra das poucas pessoas que Nick confiava cegamente), Bucky é o encarregado de proteger a Terra de ameaças antes que ocorram, de toda classe e condição, nos lugares mais distantes da nossa galáxia ou no submundo de nosso planeta. Além disso, vislumbres de um Bucky do futuro abordam como as decisões do Soldado Invernal afetarão o Universo Marvel.
Kot e Rudy conseguem fazer um bom trabalho em sua primeira colaboração em conjunto, é notório em algumas páginas que os autores fazem experimentações de autoconhecimento, sobretudo nas paisagens que unem arte e roteiro (particularmente o início, que poderia ser uma ótima sequência para um filme Marvel). O ritmo que imprimem é bastante vertiginoso e frenético, levando ao leitor do espaço às profundezas de Atlantis, apelando sempre a um sentido de grandeza para as ameaças e aventuras que surgem.
O trabalho de Kot está bem habitual, usando para introduzir um monte de ideias que ajudam a narrativa avançar, usando-a para abordar algumas premissas do Universo Marvel. Barnes e sua companheira Daisy Johnson agem num processo para equilibrar o poder da galáxia, mas vejo que são essencialmente terroristas espaciais, esgueirando-se e limpando ‘metas’ para garantir a segurança da humanidade. Para nós, leitores, não são dadas as razões das ações perpetradas, mas só que eles têm de fazê-lo.
A perspectiva sombria e a natureza clandestina ganham um melhor dimensionamento, mesmo com a arte de Rudy. O excesso das splash-pages causa um certo impacto, as páginas são dispostas em configurações fascinantes, com afrescos em círculos, dégradés, tantos layouts diferentes que nunca vi em qualquer outro quadrinho atual da Casa das Ideias. Não tem duas páginas que não modifiquem, lembrando muito JH Wiliams III e Frazier Irving, porém esse monte de estilos falha ao longo da narrativa, alguns dos painéis são ampliados em locais apertados e há desenhos que não ficam consistentes passando de uma página para a outra. Creio que é uma situação de aprendizagem que Kot e Rudy compartilham, onde os pontos fortes de cada um são conjugados para dar um ritmo diferente a narrativa.
É um debute que promete, em especial quando os autores se acostumarem com o que querem e se compenetrem um pouco mais, teremos com certeza uma das melhore séries Marvel e uma das melhores aventuras protagonizadas por Bucky. Ou ao menos, até seu próximo filme.