O trabalho de Junji Ito em linha rígida de Ito e a narrativa sombria, mas bonita, sugam num nível primitivo que alavancou diversos fãs do gênero. A editora Pipoca & Nanquim está trazendo a obra do mangaká do terror para nós e Calafrios: Seleção de Contos Favoritos de Junji Ito é uma antologia que reúne nove contos anteriores escolhidos a dedo por Ito, bem como um décimo que estreou em suas páginas. Sem mais delongas, vamos analisar cada um…
Disco Velho
A coleção começa com um conto estranho, provavelmente o conto mais leve aqui, Disco Velho. O primeiro conto narra a história de uma gravação de vinil com os vocais de um cantor de jazz recentemente morto.
É um título que mostra perfeitamente a habilidade de Ito como contador de histórias focado na juventude e, em particular, nas mulheres jovens. Não há nada particularmente horrível ou chocante em sua arte como esperaríamos de um título de Junji Ito ou qualquer intensidade na história. Dado o estilo da arte, provavelmente foi feito no início da carreira de Ito.
É muito sutil, com uma pequena camada de estranheza. É quase uma narrativa de Além da Imaginação qeue consegue fornecer a atmosfera para o terror.
Calafrios
Calafrios é a segunda história da coleção e é a narrativa que dá origem ao título. Suas imagens aterrorizantes e uma narrativa que fará qualquer um tremer.
Apresenta um jovem percebendo uma vizinha, olhando pela janela. Ela é dois ou três anos mais nova, mas tem buracos no braço. Logo, lembra que seu avô morreu de algo que crivou seu corpo de buracos. Com o desenrolar da história, oprotagonista conta a um amigo, que acabam entrando numa realidade ligada a uma maldição.
Esta história usa imagens em close dos buracos, o que fará sua pele coçar. Ao comentar sobre a estória, Ito explica que a ideia surgiu ao aprender sobre insetos que têm orifícios no corpo para permitir que respirem. Agora comecem a imaginar esses mesmos insetos entrando nos buracos e vivendo dentro de cada um. Uma visão horrível pra imaginar e sentir.
Modelo Fotográfico
A história de um roteirista profundamente perturbado por uma mulher que não atinge seu padrão mínimo de beleza. Uma mulher monstro de dois metros de altura e dentes de tubarão, cujo protagonista tem uma premonição horrível de que algo terrível acontecerá um dia. Ito crítica uma certa faceta da mídia japonesa obcecada pela aparência numa boa história de terror.
Balões Enforcadores
A história em si é bastante direta – pelo menos no que diz respeito a uma história de Ito. Após a morte de uma jovem artista chamado Terumi, esses “balões” feitos de cabeças humanas flutuantes descem para caçar suas contrapartes mortais. Com algumas camadas distintas na trama, trabalhando juntas para construir um mistério de uma maneira realmente distinta.
Conhecer Kazuko e como ela tenta compreender um terror que não consegue compreender totalmente é um nível acima de terror, e sem sua presença gentil e coração resistente, esta história flutuaria sob seu próprio enredo emocionante, mas principalmente enigmático.
Em um ritmo metódico e o foco contínuo na psique humana, essa história rapidamente se torna algo muito mais do que um horror macabro. Abordando claramente o suícidio, numa espécie de estudo de caso do como ele “se espalha” e assume o tipo de figura de um assassino mítico à la Jason ou Freddy. No entanto, é muito mais do que apenas uma alegoria para nossas lutas; parece uma exploração de nosso relacionamento com o próprio mundo exterior e como transformamos a tragédia em algo mais.
É uma declaração dos tempos e focada em algo sem nome que não podemos deixar de tentar afastar de nós coletivamente e Ito apresenta isso de uma forma para nos provocar e nos incitar a nos assustar em um pesadelo.
Mansão dos Marionetes
Poucos objetos têm tanto potencial de terror inerente quanto as marionetes. A dicotomia entre a verdadeira humanidade e a interpretação dela pela arte, Ito associo controle ou falta de controle com as metáforas, oferecendo uma história memorável não apenas por causa da premissa, mas pelo comprometimento em executá-la ao extremo.
O que significaria para os humanos se tornarem verdadeiros fantoches? Ito não apenas faz essa pergunta, mas a responde com cenas enervantes de seres humanos vivendo seus dias enredados em fios, supostamente controlados por figuras que estão sempre fora de vista no escuro do teto. Uma premissa sobrenatural ponderada por suas implicações táteis, atingindo a crítica e o fantástico.
Além disso, temos um bom vilão, em Jean-Pierre. Um antagonista tão horripilante quanto qualquer outro que Ito já desenhou, com um sorriso sádico que se inspira na tradição do teatro para oferecer terror novo e primitivo. O final da história meio que fracassa, no entanto, é um conto divertido que é consistentemente cativante de se olhar.
Pintor
Pintor é um conto interessante, seria o primeiro capítulo de uma série em andamento estrelada por Tomie, sua personagem mais célebre. A história começa em uma exposição para o pintor titular, Mitsuo Mori, que teve um novo sucesso em sua série de pinturas. Os elogios são unânimes, até ele conhecer a misteriosa Tomie, que o leva a um desafio de capturar sua beleza vai de cativante a uma obsessão enlouquecedora.
As imagens finais são assombrosas e tipicamente aterrorizantes para as obras de Junji Ito. “Pintor” deixa o leitor querendo mais, apesar do desconhecido ser horripilante por si só.
Um Longo Sonho
O sétimo conto desta coleção, Um Longo Sonho, nos deixa receosos de dormir, depois de lê-lo.
A história gira em torno de dois pacientes de hospital que sofrem de doenças aparentemente psicológicas. A primeira, Mami, é uma jovem cuja doença não identificada a preenche a cada momento com o medo da morte. O outro paciente, Mukoda, afirma que seus sonhos se alongam a cada noite, pois sente dias e meses passando apenas por uma noite normal de descanso.
O conceito central aqui de sonhos longos é impressionante e pode parecer uma ilusão a princípio. Quem não gostaria de continuar vivendo o sonho em que você é o Superman ou tudo dá certo na sua vida, não é mesmo? Mas e aqueles pesadelos que o mantêm acordado muito tempo depois de você ter acordado? E se você ficasse preso lá por um mês? Um ano? O Conto explora essas questões e o impacto físico que isso pode causar na mente e no corpo humano.
E Ito vai ramificando, levando os personagens a passar por transformações terríveis. É aqui que a propensão de Ito para imagens perturbadoras entra em vigor. O mangaká capitaliza o horror corporal e o rosto de seus personagens permanece na mente por muito tempo.
Antepassados
Um mestre do horror corporal, Junji Ito é para o mangá o que o diretor David Cronenberg é para o cinema. E Antepassados traz o horrível em outro patamar, o conto apresenta Risa, uma que sofre de uma forma repentina e abrangente de perda de memória. Ela não consegue se lembrar de quem ela é. Um colega traz ela de volta para casa. Mas quem é esse colega realmente? Ele é conhecido de Risa da escola, seu namorado ou (como ele parece insinuar) seu noivo? E o pesadelo se amplia, com alucinações envolvendo uma lagarta gigante, segmentada e peluda. E…
Sem spoilers, mas assim como outras histórias de Ito apresentadas em Calafrios , Ito joga com nossas ansiedades coletivas em relação à morte, deficiência e responsabilidade familiar, transformando numa imagem única e horrível.
Glicerídeo
De todas as histórias de Calafrio, Glicerídeo é de longe a mais memorável. Isso se deve principalmente ao quão baseado na realidade sensorial é o núcleo de seu horror. Por mais criativos que os trabalhos mais sobrenaturais de Ito possam ser, é difícil superar o puro desagrado do desgosto tátil.
A família de Yui administra um restaurante e mora no segundo andar acima dele, mas a ventilação do prédio é muito ruim. Como resultado, a gordura e a natureza oleosa geral do restaurante também sobem para o último andar, tornando impossível para Yui escapar da sensação de sujeira.
É um pensamento horrível: ter que lidar com substâncias oleosas que se infiltram tanto nos móveis, nas paredes e no ar que você nunca consegue se sentir limpo e descansado em sua própria casa. Claro que tudo isso é nojento, mas ainda não ao extremo de horror que Ito costuma oferecer. Isso vem conforme a história avança. Leiam e vejam…
Modelo de Moda: Moldura Amaldiçoada
Era uma vez uma modelo que só queria tirar fotos de corpo inteiro. Ela não sabia explicar por que, mas se sentia estranha por seu corpo ter sido cortado em uma foto. Então ela conseguiu um emprego em uma agência de modelos que não respeitou seus desejos e então ela foi assassinada por essa modelo estranha e alta de uma história anterior. O fim deixo para vocês lerem, apesar de ser uma quebra na crescente perturbação narrativa
Calafrios é o tipo de livro que dá prazer de ler. Do conteúdo ao design da capa, sua tradução e toda a edição, da qualidade do papel e da impressão,