Crise nas infinitas HQs de super-heróis

Até imagino a cena… Um brainstorm dos editores DC Comics para aumentar as vendas em decorrência a queda dos preços e alguém lançando a brilhante idéia de dar aos leitores uma sensação de uniformidade através das capas. Aplausos. Outro participante da reunião sugere um fundo branco para simbolizar um possível começo. Mais aplausos.

Em comunicado oficial a DC Comics divulgou que em janeiro grande parte de suas revistas vão ganhar “capas íconicas” com seus personagens, ação vendida como um “Novo ano. Novo começo. Novo foco”. Como tais palavras significam pouco ou nada, o co-editor Dan Didio explicou que trata-se de um ponto de recomeço, com cada título recebendo um tratamento único para colocar o foco nos heróis e vilões do Universo DC, danto também edições especiais para personagens com potencial (pelos especiais divulgados, tais personagens aparentemente são Shazam, Garota Maravilha, Aço e Congorilla/Starman).

Juntando palitinhos, principalmente com a queda de preços anunciada na New York Comic-Con, fica claro que o único objetivo da iniciativa é capitalizar novos leitores e converter os dólares economizados pelos colecionadores em novas compras. Neste sentido as capas com fundo neutro funcionam ao apagar qualquer sensação de carga histórica, mas também ressaltam a infantilidade dos uniformes dos personagens e a estética porca – e mal resolvida – da maioria dos símbolos da indústria de super-heróis.

O importante não é cair em discussões bobas sobre este ou aquele personagem, mas compreender que histórias de super-heróis pertencem realmente a um universo juvenil que briga pelo amadurecimento, mas que em sua essência sempre continua funcionando através de valores e conceitos relativos à passagem para a maturidade. Em teoria leitores de quadrinhos se formam nas publicações infantis, como da Turma da Mônica e a Disney, descobrindo em determinado momento os super-heróis (de comics ou mangás), que trazem novos e refinados interesses do mundo adulto através de situações fantásticas. Por fim um novo passo seria dado quando os dilemas e discussões apresentadas não atendessem mais as expectativas dos leitores, período indubitavelmente ligado a maturidade. Infelizmente porém, o que vemos hoje são leitores de quadrinhos vivendo uma espécie de sindrome de Peter Pan e a indústria de quadrinhos, a par disto, se distorcendo para atender essa faixa etária de consumidores.

Em alguns momentos surgem grandes histórias como “Guerra Cívil” e “Crise de Identidade”, mas buscando atingir um público de oito a oitenta a indústria de super-heróis sempre volta a nivelar seus personagens por baixo. Um excelente exemplo disto foi a evolução do universo X-Men promovida por Grant Morrison, descartada após a saída do roteirista da Marvel Comics (que voltou com os collants coloridos e vilões patetas). Não estou aqui para criticar o capitalismo, a discussão é a auto-crítica para entender o que realmente cada um deseja consumir, e em segunda instância como a absorção dessa informação acaba afetando nossa vida. Este exemplo “vazio” da DC Comics me pareceu uma grande oportunidade para abordar este assunto, já que ambas editoras acreditam que seus leitores de modo geral não possuem sinapse entre seus neurônios.

Cabe as pessoas tomarem atitude, minha humilde sugestão são literatura e quadrinhos autorais 😉

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