A primeira impressão ao nos depararmos com o trabalho de Carolina Pontes é que estamos diante de um desenhista que ganha a vida produzindo quadrinhos, mas mais impressionante que seu trabalho, é saber que Carolina ainda trava os primeiros passos rumo a carreira profissional.
Aproveitamos o primeiro trabalho de Carolina, algumas páginas de uma antologia de terror para a editora Pit Bros, para bater um papo sobre o início de carreira de um ilustrador de quadrinhos, um conversa que definitivamente não causa interesse somente nos aspirantes da área.
Ambrosia: Quando você decidiu trabalhar com quadrinhos?
Carol: Aos 16, eu resolvi que era o que eu queria fazer de verdade. Mesmo não sendo nem de longe o melhor dos quadrinhos na minha opinião, foi com Witchblade que meus olhos se abriram para o fato de que quadrinhos não são um estilo, mas uma forma de contar histórias. Não precisam ser exatamente sobre heróis com uniformes coloridos e cuecas por cima da calça.
Ambrosia: Até então você já colecionava quadrinhos?
Carol: Tudo começou com meu avô que me ensinou muitas coisas boas e lia para mim revistas da Disney antes de dormir. Eu gosto de ler, escrever e desenhar desde criança, então os quadrinhos infantis, da Mônica, Chico Bento, etc, foram meus primeiros. Depois com os desenhos animados da Liga da Justiça e os seriados de TV, passei a me interessar por super-heróis da DC. Mais tarde, virei fã numero 1 de Lobo, principalmente por ser uma sátira, muito mal humorada, aos heróis super poderosos. Conheci personagens da Image, Sara Pezinni e Jack Staccado… depois o Spawn. E então, numa bienal do livro aqui no Rio, conheci um vendedor que me apresentou os personagens da Vertigo.
A partir daí, Constantine, o Monstro do Pântano e Sandman passaram a ser os meus favoritos. E o trio: Frank Miller, Alan Moore e Neil Gaiman passaram ao nível de “garantia de boa história”, para mim. Mesmo assim, ainda gosto muito dos clássicos Superman, Batman, Mulher Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde, Flash, e dos modernos X-Men, e acho que esses heróis são, com seus uniformes coloridos e tudo, um produto da época deles, sabe? Funcionam bem dentro de seu contexto histórico. Fora dele, a coisa muda. As pessoas que detém o direito sobre esses personagens, jamais deveriam permitir as atrocidades já feitas com eles. Os heróis uniformizados, infelizmente viraram palhaçada. Atualmente deve existir mais heróis nos universos Marvel e DC do que gente no mundo. Banalizaram os super-heróis. E ainda criam clones do mesmo herói em escala industrial. Quantos Superman existem? Bom, tem gosto para tudo, mas eu não compro mais revistas mensais. Acredito que existem tantos outros assuntos interessantes e tipos de heróis diferentes para serem explorados, que se os contadores de histórias quisessem, poderiam muito bem atrair novos leitores, com um padrão mais alto. Seria bom para o mercado e para os leitores.
Ambrosia: Quanto ao Superman, agora vão existir 100.000 Supermen, já que a DC inventou uma saga chamada Nova Krypton. 100.000 super-homens vão vir morar na terra :/
Carol: Hahahahahah… É disso que eu tô falando, sabe? Olha isso! Nova Krypton! Eu gosto mais do genuíno, do espontâneo. Por isso acho os clássicos legais, mas não me entra na cabeça personagens como Mulher-Hulk! A cópia está eternamente condenada ao segundo lugar. E tem muita história sendo contada com o propósito errado. Uma história deveria ser escrita com um motivo melhor do que simplesmente cumprir tabela para lotar as prateleiras. Isso só prejudica todo mundo que trabalha no meio.
Os desenhistas tem que correr, os roteiristas cospem histórias, o arte finalista está em extinção e os coloristas precisam virar noites sem comer nem dormir pra conseguir entregar trabalhos que muitas vezes são bem questionáveis.
Ambrosia: Você já tinha essa visão quando decidiu trabalhar com quadrinhos?
Carol: Quando eu era apenas leitora, eu já selecionava o que lia. Uma boa história e bons desenhos e cores sempre foram os motivos pra eu adquirir alguma revista. Mas eu não sabia, por exemplo que os prazos eram sobre-humanos e que por isso saíam tantos desenhos ruins nas bancas. Existem coisas que você só descobre quando realmente se interessa a fundo. E quando passei a me interessar por esse mercado, fiz algumas amizades com gente que está no meio. Então fui descobrindo os detalhes que ninguém vem nos contar enquanto sonhamos romanticamente em ser um desenhista de quadrinhos e dar autógrafos nas convenções.
Ambrosia: Você está começando a trabalhar diretamente com quadrinhos agora?
Carol: Fiz algumas páginas pra uma antologia de terror da Pit Bross, mas ainda não saíram, terminei uma capa para um projeto independente de um grupo de artistas de Nova York, estou trabalhando em projetos com dois roteiristas amigos e fazendo alguns testes para outros estúdios pequenos.
Ambrosia: Você acha que é melhor ir para as editoras pequenas?
Carol: Não é que eu ache melhor. Por mim eu já teria um contrato vitalício com a Vertigo. Hahahahaha… Na verdade eu não comecei a procurar de verdade. Estou trabalhando para me sentir melhor preparada na hora de encarar um trabalho maior. Para isso, estou aproveitando as editoras menores para montar um portfólio legal, melhorar meus desenhos e minha disciplina.
Com a Pit Bross aconteceu porque tenho um amigão que escreve roteiros e ele pensou em enviar material para lá, então temos feito algumas coisas juntos com a idéia de enviar para a Pixel, a Avatar Press e esses estúdios que estão a procura de novos artistas. Os testes que estou fazendo estão sendo para editores que entraram em contato comigo pelo Comic Space. Foi algo que começou a aparecer de surpresa. Aí tenho praticado mais e corrido um pouco mais com meu portfólio. Mas ainda preciso aprender coisas importantes como ficar muito tempo desenhando e a desenhar mais rápido para encarar algo maior. Trabalho como designer durante o dia e faço meus desenhos quando chego em casa a noite. Também desenho aos sábados e domingos, quando dá tempo.
Ambrosia: Voltando um pouco, como foram os primeiros passos quando você decidiu trabalhar com quadrinhos?
Carol: Eu já gostava de desenhar, ou seja, já praticava diariamente em casa. E já gostava de contar histórias. Mas, como alguém pode sobreviver sendo desenhista? Era triste não saber a resposta. É triste a pouca valorização que se dá às Artes. As pessoas crescem acreditando que artistas precisam ser sortudos ou ricos, assim não entendem como o mercado funciona, onde encontrar um espaço para músicos, dançarinos, atores, escritores e desenhistas, e desistem sem tentar.
Quando você realmente quer alguma coisa, você encontra os meios de conseguir e pelo caminho vai fazendo descobertas surpreendentes. Acho que foi assim que cheguei aos quadrinhos. Procurando uma forma de ter os desenhos como profissão. Coisa que eu achava impossível antes de começar a pesquisar, antes de possuir Internet (tive Internet bem depois de todo mundo). Eu nem sabia como seria na faculdade, pensei em fazer Publicidade, mas acabei fazendo Desenho Industrial. Gosto muito de Design, foi a forma que encontrei para me aproximar de Ilustração, adquirir um bom critério e já conseguir um trabalho mais rápido. Em seguida comecei a entrar nos sites dos estúdios grandes e tentar descobrir o que é necessário para enviar material. Eles citam desde o básico: saber desenhar bem todo tipo de coisa, até o mais importante: saber contar uma história visualmente.
Comecei então a prestar atenção nisso ao longo da faculdade, comprei os livros do Will Eisner, minha coleção de revistas e livros é composta pelos grandes clássicos e trabalhos de artistas de quem sou fã, além disso, procuro estar bem informada sobre o que acontece no mercado, aperfeiçoar contínuamente meu desenho de figura humana/anatomia, ler sobre roteiros e cinema, praticar arte sequencial fazendo páginas com histórias minhas e de amigos roteiristas, e com isso acabei conhecendo pessoas que já estão no meio há mais tempo, que se tornaram grandes amigos meus e contribuem muito com suas valiosas dicas. Nesse ponto, sites como Orkut e Comic Space, são verdadeiras bênçãos para mim. Louvada seja a Internet.
Ambrosia: A Internet a cada dia deixa o mundo menor, sites como o Comic Space e o DeviantArt já revelaram grandes talentos. Publicar na Internet é uma opção?
Carol: O que seria de mim, uma pobre garota do Terceiro Mundo, se não pudesse publicar online? Portfólios online, são a forma mais barata de conseguir algum trabalho no exterior. Quanto a publicar histórias na rede, não sei. É uma idéia em expansão, e embora eu deva estar publicando algumas histórias em breve, ainda sinto um certo receio. A Internet, como qualquer outra coisa, pode ser uma bênção ou uma maldição, depende de como você usa. E mesmo que seja muito bom para divulgação, é ao mesmo tempo Terra de Ninguém, um território hostil. Mas, não sei muito ainda sobre quadrinhos online, então nem posso opinar. O que sei é que não gosto de ler quadrinhos só na tela, quero ter tudo impresso.
Ambrosia: E como você divulga seu trabalho na web?
Carol: Tenho um blog por enquanto, porque ainda estou fazendo meu site (impressionante como somos exigentes com a gente mesmo, sou meu cliente mais mala) e um perfil no Comic Space, tem poucos desenhos ainda, preciso atualizar tudo.
Ambrosia: Os irmãos Bá e Moon acabaram de ganhar o Eisner trazendo para o mercado um estilo único, você acha que isso abre as portas para os brasileiros?
Carol: Sem dúvidas! Acho que quando alguém vai lá pra fora está levando uma responsabilidade consigo, pois as pessoas são preconceituosas. Se um brasileiro faz bonito, todos dizem “Ah que legal! Os brasileiros são bons” E se alguém falha é como se todos nós aqui falhássemos. Temos que aprender a conviver com o preconceito e ter a consciência de que o nosso trabalho pode estar representando o trabalho de um monte de gente. Por isso, fico muito agradecida sempre que descubro um brasileiro se dando bem pelo mundo.
Mas, acima disso, fico muito feliz quando vejo gente nova ou antiga, homem ou mulher, de fora ou de dentro do Brasil fazendo Arte de primeira. Especificamente no caso do Fábio e do Gabriel, fico duplamente agradecida e feliz. Porque eles não simplesmente, desenham e pronto, eles inseriram um estilo diferente. O que considero um grande mérito. Eles não ficam tentando abrasileirar heróis e coisas que funcionam muito bem nos EUA, porque é parte da cultura deles, tem relação direta com um contexto, uma época, ao contrário, o que mais admiro é o fato de imprimirem um estilo diferente do que se espera dos brasileiros, de um modo muito bem sucedido.
Ambrosia: Então você acredita que o caminho seja marcar um estilo próprio no lugar de seguir a maré? Como faziam os brasileiros alguns anos atrás? (Roger Cruz cof cof)
Carol: (risos) Acho que você tem que fazer o que está achando mais legal, o que se sente bem e faz melhor. Se é para entrar na indústria dos EUA, desenhando heróis deles, você tem que fazer tão bem quanto eles. Mas se a idéia é criar revistas próprias, aí acho que precisamos em primeiro lugar considerar os quadrinhos como meio e não como estilo. Por que temos que fazer quadrinhos de heróis uniformizados? Por que tem que ser necessáriamente assim? Será que isso funciona aqui? Essa história já não foi contada vezes demais? Não há nada mais criativo para se contar? Eu acho que sim. Além disso algumas das melhores histórias em quadrinhos que já li nem eram de super heróis. Ok, não vou começar a falar de Neil Gaiman, senão nosso papo vai começar a ser sobre ele. Sou fãzona.
muito bom, gostei dos desenhos e dad respostas
Quero ver logo vc na vertigo desenhando fabulas
Que orgulho!
Bjks
Hahaha, a Carol é da Impacto Quadrinhos Rio, que coincidência hahaha!
Caraca!!! Muito bom!
Ela dá aula na Impacto??
É aluna.
os melhores desenhos que vi em muito tempo . melhor até que muito desenhista maintsreanm
a carol e gente nossa ela e da impacto.
ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha
Ela é bem talentosa mas também é muuuuuito linda, é bom saber que não tem só cueca nessa área e que ainda vou poder esbarrar com ela em algum evento nacional de quadrinhos por esse Brasil a fora
Que impressionante! Esse trabalho é realmente profissional, não acreditei quando li que ainda estava começando.