Com o novo filme já sendo anunciado, Os Guardiões da Galáxia ganham novos caminhos a serem percorridos e até mesmo novos integrantes. A Panini, seguindo o momento, traz um encadernado com o que a Marvel fez para o primeiro filme do grupo. Um caminho para um projeto mais ambicioso, onde o roteirista Brian Michael Bendis e o desenhista Steve McNiven tomavam a frente de um grupo insólito que estava ganhando fãs e que antes da adaptação para a telona tinham o trabalho de colocar os protetores da galáxia na primeira linha do mercado, junto com a sua chegada às salas de cinema.
A Marvel mergulhou neste projeto e já tinha sua estratégia definida para promover seus produtos e ao mesmo tempo orquestrar a passagem do meio editorial para o meio cinematográfico. A diferença era que os Guardiões das Galáxias não tinham a fama de personagens como o Homem de Ferro, Thor ou o Capitão América, e a Casa das Ideias teria que mudar a maneira de conduzir naquele caso específico. O filme dos Vingadores influiu no grupo de heróis e títulos como Avengers Assemble, Secret Avengers, moldando o perfil e a aparência física de vários personagens, como o Falcão ou a Viúva Negra, para citar dois exemplos. E no caso dos Guardiões teria que ocorrer o mesmo, mas sem a estreia de filme algum. Um ano antes, a Marvel convocou Bendis e McNiven, dois dos seus melhores artistas, a frente desse novo titulo.
E o encadernado, publicado pela Panini, Guardiões da Galáxia – Vingadores Cósmicos traz essa fase, que originalmente apareceu em Guardians of the Galaxy #0.1, #1, #2 e Guardians of the Galaxy: Tomorrow’s Avengers #1, durante o ano de 2013. Seria uma introdução para o filme que sairia em 2014. Podemos lembrar que, diante das prévias que eram mostradas na época, já sabíamos que a aparência dos protagonistas iriam mudar: a estética militar que Marko Djurdjevic introduzia o Senhor das Estrelas, ou melhor, Star-Lord seria trocado por algo mais futurista. Outro aspecto das mudanças seria na formação. Aos habituais Star-Lord, Gamora, Drax, Rocket Raccoon, Groot, um nome iria somar forças ao grupo o Homem de Ferro. Isso mesmo o Iron Man. E neste caso, trazer o ferroso foi uma solicitação do próprio Bendis, por certo seguindo sua estratégia de ter um dos grandes da editora em seus títulos, algo que o escritor, Kieron Gillen, não deu nenhuma objeção, pois já tinha lançado a Tony Stark em aventuras espaciais no novo arco narrativo do Homem de Ferro.
A etapa anterior dos Guardiões da Galáxia estava sob a tutela de Dan Abnett e Andy Lanning, e Bendis teria que dar um novo enfoque ao título. Sua vantagem é que estava livre para imprimir seu próprio estilo aos Guardiões. A primeira sensação ao ler as primeiras páginas é que Jeph Loeb, o roteirista de Nova, e Bendis fizeram o acordo de contar a mesma história, ou ao menos seguir a mesma estrutura. Se em Nova #1 iremos ver a Gênesis do jovem Sam Alexander, em Guardians of the Galaxy encontramos um caso similar em que o início se centra nas origens de Peter Quill, o que já podemos analisar que o Senhor das Estrelas terá um papel relevante no título. Uma nova origem, menos cruel, mas que segue o padrão de outros personagens: um jovem alienígena, herdeiro de um império é encontrado por uma terráquea que cuida dele até sua recuperação, mas que acabam se apaixonando e uma gravidez ocorre, enquanto ele parte para continuar sua guerra nas estrelas, deixando-a para criar Peter sozinha. Ele cresce sem conhecer a verdadeira identidade de seu pai até o dia fatídico em que Badoons aparecem para matá-lo, explodem sua casa e mudam o curso de sua vida para sempre. Bendis realmente cria uma boa história, mesmo com alguns clichês, mas que prepara bem a apresentação do Peter Quill das telonas.
A história principal deste volume se diz respeito a uma ordem orquestrada por Spartax, após uma reunião em que os principais governantes galácticos decidem que o planeta Terra está fora dos seus limites, ou seja, ninguém toca na Terra. Mas porque é que de repente a Terra se tornou o planeta mais importante da galáxia? Isso é o que os Guardiões da Galáxia vão descobrir! Em em meio a intrigas políticas, invasões premeditadas e aventuras espaciais, os Guardiões da Galáxia, agem como os Vingadores, só que em outro extrato, o cosmos.
A Marvel Studios chama Guardiões da Galáxia, como sua versão de Star Wars, e o ângulo foi seguido pelos autores. Há uma certa cantina que parece ter sido definido no Mos Eisley e as cenas do conselho intergaláctico passa a mesma sensação dos conselhos apresentados nos prequels de Star Wars.
Bendis faz um grande trabalho de estabelecer a dinâmica da equipe, com as devidas personalidades dos protagonistas. O que podemos notar pela maneira que são apresentado no filme de 2014 e comparando com a narrativa deste volume. A arte de McNiven é fantástica e seus desenhos passam todo tipo de sentimento, como no caso dos insólitos momentos da arma de Drax ou de Groot parecendo a uma árvore de natal, ou ainda dos traços dos alienígenas e de Rocket, que aparecem bem ameaçadores, além das viagens e batalhas espaciais construídas para espetacularizar, ou seja, cumpre perfeitamente com a narrativa. Mesmo com o traço de Sara Pichelli, que faz parceria com Steve, não sentimos a diferença, pela quantidade de informações que a narrativa e os desenhos passam.
A ação é inegável a cada página, mas considerando o que Abnett / Lanning já tinha desenvolvido, não encontramos respostas para perguntas como: quanto tempo eles têm sido uma equipe, como eles se reuniram? E como temos uma nova interação com o público, desenvolvida dentro de um projeto para o cinema, não há preocupação com continuidade imediata, mas que serão respondidas ao longo da série.
Entretanto, talvez a maior diferença entre o Guardiões da Galáxia de Bendis com o de Abnett/Lanning é a inclusão desconcertante do Homem de Ferro. Entendo até que Stark está passando por mais uma crise, que o levou a buscar respostas no espaço, mas o que ele faz ali? Os Guardiões da Galáxia são um grupo da pesada, que não precisa de um homem com um traje robô para ajudá-los, e Stark é mais um obstáculo do que uma ajuda. Não há uma única cena em que ele fosse um trunfo, só um extra. Não exatamente uma posição lisonjeira para o Homem de Ferro.
A edição possui quatro histórias curtas com os demais companheiros de Peter, mas não adicionam nada a narrativa principal. O que chama atenção é a galeria de capas, com os nomes de Ed McGuinness, Marte Gracia, J. Scott Campbell, Joe Quesada, John Dell, Justin Ponsor, Marcos Martín, Mike D. Perkins, Milo Manara e Ryan Stegman, um primor de arte. Gosto muito dessas edições que reúnem a arte de outros caras, a visão deles, ajuda a identificar outros tons e matizes para os personagens.
Guardiões da Galáxia – Vingadores Cósmicos diverte muito. Poderia ter sido ainda melhor, mas para quem não conhece os Guardiões da Galáxia, ou que conhece só por causa do filme, esse encadernado é uma boa introdução para este universo. E Groot definitivamente sabe que ele é Groot.