John Constantine passou por um bocado de dificuldades em “Highwater – Pecados do Passado”, mas conseguiu se safar inteiro e ainda descobriu o motivo do suicídio de seu amigo Lucky. Mas isso só deixou o inglês com mais sede de vingança, e é em “Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos” que os pesadelos despertos de Constantine finalmente chegam ao fim.
Mas não espere uma aventura padrão, qualquer ressalva que eu tinha ao trabalho de Brian Azzarello foi enterrada ao ler este encadernado, que encerrou muito bem a passagem do primeiro escritor estadounidense a brincar com John.
Ao escrever Hellblazer, Brian Azzarello utilizou de três grande artimanhas para obter sucesso com o personagem. Primeiro levou John foi para a América, evitando assim cometer erros por não ter a mesma intimidade com a Europa que os autores anteriores. Adicionou também um personalidade mais enigmática e solene para Constantine, provavelmente por não dominar o linguajar britânico, evitando assim também os famosos discursos do personagem. Por fim temos John menos presente, por vezes com a trama correndo pelos personagens secundários e com poucas aparições de John – e nesse sentido a arte de Marcelo Frusin contribui bastante, deixando a presença de protagonista sempre marcante e assustadora.
Esses recursos são explícitos em “Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos”. A trama têm início em um sex club interditado pela polícia, que encontrou um corpo carbonizado que, segundo testemunhas, pertence a John Constantine. Azzarello passa boa parte da edição entre o policial Turro, na investigação e interrogatório do incidente, e o Sr. Manor, que ao se confessar para o padre Sean, revela aos poucos a intrincada aventura que levou ao assassinato de Constantine.
[A seguir spoilers]
Azzarello demonstrou coragem ao colocar John Constantine em um clube de sexo e criar uma relação homossexual do personagem com seu inimigo, atraindo a furia dos leitores do personagem que não conseguem lidar com o mundo fora de suas quatro paredes de casa. Mas John é um espirito livre, e se entregar a todas formas de prazer se encaixa perfeitamente com o personagem, principalmente quando ele pode utilizar disso para atingir sua meta — e quem acompanha Constantine sabe que o personagem é obstinado o suficiente para fazer qualquer coisa por um objetivo.
Ao contrário de outros personagens do mercado de super-heróis, ou mercado mainstream, John Constantine não vive tendo seu passado apagado, ao ser reinventado por uma nova mente criativa o personagem segue como uma pessoa de verdade ao carregar todas suas experiências consigo. E John já enfrentou quatro décadas desde que foi criado por “acidentalmente” por Alan Moore, a pedido de seus ilustradores que queriam um personagem parecido com o cantor Sting. Se você, como Constantine, gosta de sacanagem, sexo, mistérios e encrenca, não perca mais tempo e compre a edição nas bancas e livrarias (pelo preço camarada de RS 17,90) antes que a Panini recolha.
A edição fecha com uma história de John Constantine ainda garoto, encontrando e trapaceando o demônio pela primeira vez em “A Primeira Vez”. Com arte de Dave V. Taylor, é o fim da jornada de Brian Azzarello, que seguiu produzindo 100 Balas e reencontro Marcelo Frusin em Loveless (que também já foi lançada no Brasil). Constantine por sua vez voltou para o Reino Unido, mas essa já outra história…
- John Constantine: Hellblazer: Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos
- Roteito: Brian Azzarello
- Arte: Marcelo Frusin, e Dave V. Taylor (em “A Primeira Vez”)
- Capa: Tim Bradstreet
- Editora: Panini Comics
- Originalmente publicado em Hellblazer 170 a 174 e Vertigo Secret Files: Hellblazer.
[xrr rating=4/5]