Quem está imerso no universo fantástico dos quadrinhos – seja como profissional ou mero leitor – e se permite buscar a plenitude da lógica e do bom senso no que concerne às discussões que prometem pôr em xeque as diferenças entre as duas grandes editoras da nona arte, certamente já se deparou com a declaração: “Os roteiros da DC são muito mais adultos que os da Marvel.”, e muito provavelmente viu em tal proposição um exagero.
Em termos de quadrinhos, acredito que não há uma discrepância tão significativa entre o nível, digamos, de maturidade dos roteiros de tais editoras. Ambas exibem bons exemplares de tramas complexas e bem arquitetadas, ou plots ruins e infantis, em uma mesma cadência. É possível encontrar conteúdo para todos os públicos, já que são editoras que atingem todo o mercado de quadrinhos. Seria ilógico se uma delas provesse conteúdo apenas para um nicho específico, ou favorecesse tal grupo. No que diz respeito à animação, entretanto, acredito que a Marvel ainda não consegue enxergar além do óbvio: Existe sim, interesse do público adulto a este tipo de conteúdo, como muito podemos perceber ao observarmos os atuais esforços da DC neste campo.
Aparentemente a Marvel é incapaz de perceber que há demanda para animações adultas, e que desenhos animados não são interesse apenas do público infantil. Sim, a editora criou, em parceria com a gigante japonesa Madhouse, animes. Por que isso não é o ideal? Para começar, quem melhor que a Marvel para entender de seu universo? Animes são interessantes, atingem um público diferente, mas não substitui a necessidade de animações que adaptam as melhores histórias em quadrinhos já lançadas pela editora, como vem fazendo a DC. Até porque os animes provenientes desta parceria prometiam recriar o universo Marvel, e não é exatamente este o desejo dos leitores. O ideal seria ver o arco Extremis ou a própria Guerra Civil, virar animação, como a DC fez com All Star Superman (a elogiadíssima mini-série do Grant Morrison) e as animações sobre o Lanterna Verde. O sucesso de tais obras reside na adaptação de histórias famosas e bem sucedidas nos quadrinhos. É quase óbvio. São fãs de quadrinhos, se isso faz sucesso nas páginas impressas, certamente fará sucesso nas telas, seja em forma de animação, seja em live action (vide os Batmans do Nolan, e os longas do Homem de Ferro).
Apesar da DC ter cancelado sua série animada mais bem sucedida, que foi amplamente elogiada pelo seu público, a Liga da Justiça – série esta que inclusive fazia exatamente o que foi citado anteriormente: adaptava histórias que haviam sido sucesso nos quadrinhos, como por exemplo, o conto, “Para o Homem que Tem Tudo”, uma pérola do mestre Moore publicada em janeiro de 1985 em Supeman Annual 11, a editora vem retomando seu espaço neste mercado com longas de animação, como o recém lançado All Star Superman (para muitos o melhor até agora, aguarde a resenha aqui no Ambrosia em breve!). Distintamente, a Marvel investe apenas em séries animadas para o público infantil, como a animação de “Wolverine e os X-Men”, o jovem Homem de Ferro, Vingadores e por aí vai.
Existe talvez uma solicitação muito maior, por parte do público infantil, para séries animadas. No entanto, a DC conseguiu perceber isso sem acreditar que não existe demanda para este tipo de mídia por parte do público adulto, encontrando uma solução ao produzir longas animados. Mantendo séries para as crianças, como “Batman: The Brave and the Bold”, e investindo em longas para este outro nicho. A Marvel, aparentemente, insiste em acreditar que não deve lançar animações um pouco mais maduras. Uma pena. Veremos quando a editora perceberá o erro. Se perceber.