Delírio e falta de gravidade
Vamos falar um pouco de Moébius, figura divina da ilustração fantástica e bandas desenhadas, Moébius faz parte de um restrito grupo de ilustradores que estende sua influência por praticamente quase todos os meios de entretenimento.
Nascido em Paris no ano de 1938, desde cedo demonstrou grande amor pelo desenho, cursou a escola técnica de artes aplicadas, na juventude conheceu outro monstro das BDS Européias Jean Claude Mezieres que o ajudou em suas primeiras publicações, em 1960 iniciou a serie do tenente Blueberry junto com Jean Michael Charlier na revista Pilote que o projetou nacionalmente na França e Bélgica.
Aos poucos começou a fazer experiências com seu traço do clássico usado na serie de Blueberry para uma linha mais suave e clara deixando o velho oeste do passado e viajando por mares mais futuristas já denotando uma beleza plástica inédita tanto nos quadrinhos, como no cinema e na ilustração.
Era a virada dos anos 60 para os 70, a juventude queria romper padrões, e com ele não foi diferente. Movido por substancias psicodélicas, musica, cinema, desenho industrial, Alex Raymond, Winsor Mackay (autor de Litle Nemo), Gustave Doré e muita leitura de ficção cientifica e filosofia, Jean Giraud ressurgiu como Moébius em revistas como a Hara Kiri e Echo des Savanes chamando a atenção de todos para suas pranchas de linhas suaves e gravidade zero passadas em algum futuro próximo imaginado por arquitetos loucos e delirantes.
Em 1974 se juntou a uma trupe de doidões geniais e fundou a mítica revista Metal Hurlant, junto a ele estava Phillipe Druillet, Jean Pierre Dionnet, Bernard Farkas, o grande ilustrador Americano Richard Corben e muitos outros, que viraram o mercado Europeu de cabeça para baixo. Era outro nível de representação gráfica e temática para a ficção cientifica e a fantasia
Rapidamente este conceito revolucionário se espalhou para outras paragens como a America do Norte que lançou sua versão em inglês chamada Heavy Metal, dai em diante só cresceu a fama de Moébius e sua turma na Europa, Estados Unidos e resto do mundo.
Hoje não se pode negar a influencia de Moébius na radical transformação, direta ou indireta nos comics tanto em relação ao texto quanto na execução da arte. No começo dos anos80 ele se juntou ao grande escritor e cineasta chileno Alejandro Jodorowski na concepção visual do delirante projeto cinematográfico Duna, adaptação da obra de Frank Herbert a ser dirigido pelo próprio Jodorowski.
O filme não aconteceu por motivos diversos, mas gerou posteriormente a serie em quadrinhos Incal escrita por Jodorowki e desenhado por Moébius, este delírio tecno espiritual rapidamente se tornou um grande sucesso comercial e artístico e gerou varias series todas escritas por Jodorowski e desenhado por grandes nomes dos quadrinhos mundiais.
Nesta altura Moébius já estava colaborando com Hollywood em filmes como Tron, Alien o oitavo passageiro, Litle Nemo – adaptação em animação dos quadrinhos de Winsor Maccay e dirigida por Chris Columbus, estendendo assim sua influencia para outras áreas, como o cinema, design, animação e artes plásticas. Sua influência chegou ao ponto da empresa Citroen, montadora de carros franceses, encomendar um álbum com distribuição exclusiva para seus funcionários, depois lançado no mercado com o titulo um cruzeiro para Citroen.
Nesta fase poucos ilustradores de quadrinhos evitam sua influencia e nos anos 90 sua importância só fez crescer. Moébius lançou a serie o Mundo de Edena, colaborou na concepção visual do filme O Fundo do Abismo, de James Cameron, e o Quinto Elemento, filme dirigido por Luc Besson, colaborou também com Stan Lee em uma graphic novel do Surfista Prateado.
Hoje em dia Moébius produz pouco, talvez ciente de seu legado e sua importância. Sem sombra de duvida ele é um dos maiores ilustradores em atividade neste mercado, orgulho nacional na França e admirado por profissionais de varias áreas de entretenimento em todo o mundo, e ainda em vida integram seleto grupo de gênios da nona arte junto com Alex Raymond, Winsor Mccay, Burne Hogarth, Frank Frazzeta, Hugo Pratt muitos outros.
Ha de se louvar a admirável iniciativa da Editora Nemo, que esta lançando aqui no Brasil a coleção Moébius, com ótimo acabamento e capa dura, corrigindo assim uma grave injustiça de privar nossos leitores de conhecer a obra de deste gigante das artes visuais.