A internet proporciona uma aproximação tão incrível que muitas vezes demoro a acreditar. Tenho acessado a Rede Mundial de Computadores deste 1996, tenho feito diversas amizades virtuais com grandes dos quadrinhos como Larry Hama, Ralph Morales, Dennis O’Neil, entre outros, bate-papo e tudo, como também com amantes da nona arte. E foi com uma conversa on line, que conheci um argentino que sempre manda novidades de suas incursões pela Espanha. E recentemente, ele mandou uma revista, tipo fanzine, bem fora do mainstream: Látex y acero, publicado pela Ediciones Bistec Negro.
Látex y acero é obra de Víctor Solana, um jovem desenhista que também pinta e que está começando a chamar a atenção com seu trabalho. Espanhol de Zaragoza, é licenciado em Belas Artes pela Universidade de San Carlos de Valencia, trabalha como artista plástico e centra no estilo figurativo.
Sua obra não está preso ao aspecto pictórico, mas também em murais, performances e agora em quadrinhos, facetas que o artista transporta seu discurso para enriquecer e potencializar sua mensagem. Figurando sempre o homem e suas circunstancias como tema, apresentando multitudes, massas que se aprisionam, talvez como uma metáfora de que as preocupações humanas são consequências sociais e múltiplas.A HQ segue a mesma linha de seus quadros, mas com um desenho mais flexível e dinâmico, por causa mesmo das características da mídia escolhida, a tebeu, como os espanhóis chamam as histórias em quadrinhos. O uso das onomatopeias e outros recursos dos quadrinhos de super-heróis são abordados de maneira que sobressaem das páginas, como uma metalinguagem.
Mas sem dúvida, a temática escolhida por Solano não poderia ser outra para criar polêmica. A narrativa se trata de uma fantasia obscura e subterrânea de dominação, cheio de cenas de BDSM, dildos enormes e violência pesada e sem medida. Achei estranho de imediato, aquela de causar dor para sentir prazer, entretanto na leitura do argumento e do que o autor já faz em seus quadros, mostrando a dor como irremediável ou como proposta de uma etapa na sociedade.
Há muito de Guido Crepax, David Rubín e Milo Manara em Solana, pois recorda algumas das composições que fizeram, a forma de integrar o orgânico e o artificial nos mesmos quadros, mas Solano é mais cru que qualquer um dos citados, pois estabelece os reflexos na questão sexual, explícita, gratuita e sem nexo.
Látex y acero é uma história asfixiante, não tinha lido nada parecido, e inquieta na forma em quanto exercemos atração sobre os outros. E ao exercer, qual o significado? Qu relação pode surgir? Víctor Solana pega essas indagações e liga ao lado mais pervertido, que segundo ele guardamos, por causa da sociedade. Látex y acero é sua segunda incursão no mundo dos quadrinhos deste cara, seu primeiro trabalho foi uma distopia sobre o suicídio, sai da ficção científica para fazer uma crítica a sociedade.
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