Entre as muitas releituras que ando fazendo, uma que merece um encadernado da Panini é a aventura de Wolverine na guerra civil que assolou a espanha Espanha dos anos 1930. Saiu pela Abril, em seu título próprio, no número 31, que reunia a estória Blood and Claws (Wolverine vol.2, #35-37, 1991).
No inicio dos anos 1990, Larry Hama, conhecido pelos seus G. I. Joes, se tornou o primeiro roteirista estável da série do Wolverine, depois que um Chris Claremont sobrecarregado de trabalho se viu forçado a deixá-la.
Uma equipe estável era necessário após a deriva que o personagem passava com aventuras meia boca e troca de autores que não davam o devido valor ao carcaju. Marc Silvestri se uniu a Hama, vindo da série dos X-Men, juntos compartilharam as tarefas criativas até o ilustrador entrar no time que fundou a Image Comics. Hama continuaria por vários anos e se firmaria como o que mais escreveu estórias com o personagem canadense.
Uma das características constantes do trabalho de Hama na série do Wolverine foi o uso de elementos, que a principio não pareciam casar com o perfil do personagem, eminentemente urbano. Viagens no tempo, saltos interdimensionais, paradoxos temporais, tecnomagias… a abordagem do tumultuado passado de Logan redundou e abundou nos roteiros desenvolvidos por Larry, onde era evidente que nada parecia ser e tudo poderia ser verdade ou mentira. Historias como a do projeto Shiva constituem um bom exemplo da maneira que Larry julgou a vida de Wolverine para contar uma versão do que seria ou não do seu passado. E temos essa viagem aos anos 1930 para demonstrar o talento de don Hama.
A história começa quando Logan visita seu velho colega da Tropa Alfa, Eugene Milton Judd, mais conhecido como Pigmeu (Puck), em seu trabalho de segurança num bar. Distante dali, Lady Letal segue sua vingança contra Wolverine, agora tendo como aliados Os carniceiros (Reavers) e aproveitando do mutante Teleporter inicia a caça ao mutante canadense. Entretanto, forças desconhecidas interagem inesperadamente atingindo a todos e jogando numa Espana em guerra civil. As forças antagônicas, os rebeldes da II República e a Legião Condor enviada pelo III Reich, digladiam e recebem os personagens vindo do futuro como um reforço importante para o que viria. As atuações do trio na luta através do tempo serve para que Hama para explicar sua visão de viagens temporais, comum em outras estórias do autor.
A trama em si não tem nada de excepcional: um velho confronto de inimigos jurados em meio a uma viagem do tempo, algo que podemos notar em diversas outras HQs. Mas a ambientação do conflito bélico é realmente bastante ímpar, uma Espanha da tauromaquia, bem folclóricas, violenta, é um cenário que Hama e Silvestri desenvolvem com maestria mostrando um perfil dos rebeldes e das forças ditatoriais, dando uma base histórica ao terror que fora aqueles anos aos hispânicos, Picasso que o diga com o seu Guernica. É por isso que aliada ao fato que estamos próximos aos oitenta anos do golpe de Estado que desencadeou a guerra civil, seria interessante, uma publicação deste arco argumental, com artigos explicativos do que aconteceu a época e um alerta que nada justifica o que foi feito naqueles sangrentos três anos. Aguardemos um parecer da Panini para essa e outros lançamentos.
Comente!