“Superman, o avô de todos os super-heróis, é uma instituição cultural. Até os intelectuais mais elitistas e isolados já tiveram contato suficiente com cultura popular para conhecer o Homem-de-Aço e saber o que ele representa. Ele trava uma “batalha sem-fim” pela verdade, pela justiça, e – com o mesmo entusiasmo após todos esse anos, embora ninguém mais saiba como definir isso – pelo “jeito americano, ou o american way. Conseqüentemente, ele é o máximo que a cultura ocidental consegue visualizar de um campeão que é o epítome do altruísmo. A mais verdadeira afirmação acerca do Superman que podemos fazer é que ele invariavelmente coloca as necessidades dos outros em primeiro lugar.
Coloca mesmo?”
(Mark Waid)
Recentemente lendo meu encadernado DC 70 Anos – As Maiores Histórias do Superman fui acometido por uma dúvida, “Por que ele faz o que faz?”
Sabemos que Bruce Wayne se tornou Batman em resposta ao brutal assassinato de seus pais, ele escolheu se tornar algo que tornasse Gotham um lugar melhor. Hal Jordan foi escolhido, ele dentre todos os terráqueos foi aquele que mais tinha o dom para se tornar um Lanterna Verde, ele policia o setor 2814 por ser sua obrigação como Lanterna. Os X-Men lutam por uma coexistência pacífica entre humanos e mutantes, mas e quanto ao Superman?
Todos sabemos sua história, o bebê Kal-El é posto dentro de sua nave por seu pais Jor-El e Lara para ser enviado a Terra, escapando assim da destruição de seu planeta natal Krypton. Ao pousar em nosso planeta, o jovem é encontrado por Jonathan e Martha Kent, um casal de fazendeiros de Smallville, interior do Kansas. Batizado por seus pais adotivos de Clark Kent, Kal-El passou a viver como um humano, porém nosso Sol amarelo lhe concedia incríveis poderes e ao se tornar um adulto ele resolve usar esse poderes em prol da humanidade, assim ele se torna o Superman.
Tudo é muito bonito e emocionante, mas o que faz Clark tomar essa decisão e se tornar em algo positivo para a humanidade?
Os super-heróis dos quadrinhos, eram e sempre serão criados como uma fantasia adolescente de poder. Quem nunca imaginou tendo os poderes mais incríveis para poder fazer de tudo? Bater no valentão e sua gangue, conquistar a menina mais popular, essas coisas.
Num mundo onde o Batman, Homem-Aranha e o Wolverine são os heróis mais populares, o Superman se torna algo tão relevante quanto o Pica-Pau! Sendo um personagem com traços de sua personalidade tão conservadores, não é de se estranhar que ele tenha perdido um pouco de seu brilho.
Se Kal-El chegasse na nossa atual Terra, nas condições em que nos encontramos, onde nada sequer se assemelha aos mais remoto ponto de vista contemporâneo de heroísmo, como ele iria crescer? Ele seguiria o caminho altruísta que escolheu anteriormente? Sendo ele um homem que poderia ter o que quisesse, ele iria realmente passar mais da metade do seu tempo protegendo, cuidando dos outros?
“…Como você sabe, sou um grande fã de quadrinhos. Especialmente os de super-heróis. Acho a mitologia dos super-heróis fascinante. Por exemplo, meu herói favorito, o Superman. Não é uma grande HQ, nem é tão bem desenhado. Mas a mitologia não é só genial, ela é única.
Todo mito de super-heróis tem o herói e seu alter ego, Batman é Bruce Wayne, o Homem-Aranha é Peter Parker. Quando ele acorda pela manhã, ele é Peter Parker, ele precisa pôr um uniforme para virar o Homem-Aranha. E nesse quesito o Superman se diferencia dos demais.
O Superman não virou Superman, ele nasceu Superman. Quando ele acorda de manhã ele é o Superman, o alter ego dele é o Clark Kent. Seu uniforme com o “S” vermelho, é o cobertor no qual os Kent enrolaram o bebê quando o acharam, é a roupa dele.
O que Kent usa, os óculos, o terno, é um disfarce que o Superman usa para se passar por um de nós. Clark Kent é como o Superman nos vê, e quais são as características de Clark Kent? Ele é fraco, é inseguro e covarde. Clark Kent é uma crítica do Superman à raça humana…”
(Bill em Kill Bill Vol. 2)
Kal-El constantemente é lembrado de uma coisa: ele não é daqui. Não pertence a este mundo, e por mais que se esforce em parecer um humano, ele nunca será. Foi criado como um de nós, mas na verdade não é um de nós. O Superman é o único sobrevivente de sua raça. Ele é um ser extraterrestre, e deve estar mais sozinho neste mundo que qualquer outra pessoa.
O desejo de pertencer, de fazer parte, é um aspecto básico e fundamental da natureza humana. Então como Kal-El se conecta com nosso mundo? Ele não dá as costas para nós, ele abraça sua herança alienígena criando uma nova identidade. Kal-El realmente se sente vivo quando usa seus poderes, se sente engajado e exerce todo seu potencial e não quando está escondido por detrás dos óculos de Clark Kent. Somente quando ele vive como a pessoa que realmente é, em total autenticidade com sua natureza e seus dons, aplicando suas distintas forças a serviço dos outros, ele assume seu lugar justo na comunidade da qual faz parte e se sente realizado.
O filósofo Aristóteles quando começou a explorar o que é viver com excelência pretendia descobrir a raiz da felicidade. O Superman, a seu modo, descobriu a mesma relação.
Sim, o Superman sempre ajuda quem está em perigo, por causa de um dever moral superior, faz isso porque seus instintos naturais e a sua formação no centro-oeste americano o induzem a tomar essas atitudes altruístas, porém há uma quantidade saudável de satisfazer seus desejos. O Superman ao ajudar a humanidade está ajudando a si mesmo, quando ele ajuda alguém que o faz poder exercer sua capacidade na plenitude, ele se sente realizado.
“Você sabe o que é viver num mundo de papel?”
Para finalizar este artigo, a afirmação do escritor Mark Waid consegue passar toda a ideologia e definir toda a mitologia do herói em poucas palavras:
“Quando eu acreditava que nada mais tinha a aprender de um simples herói de minha infância, o Superman revela-se a mim como uma ferramenta por meio da qual eu posso examinar o equilíbrio entre altruísmo e auto-interesse em minha vida, que é uma lição tão valiosa quanto as que ele me ensinou anos atrás. Realmente, a batalha dele não termina.”
Para o alto e avante!