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”The Boys” surpreende e subverte a lógica do gênero na TV

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Acredite, The Boys é muito mais que uma série sobre super-heróis. Sobretudo pela ressignificação que ela se insere pelo gênero. Sucesso notável do catálogo da Amazon Prime, é uma adaptação (claro) da HQ homônima de Garth Ennis, um dos melhores e mais agudos criadores de quadrinhos adultos.

O enredo acompanha o nerd Hughie (Jack Quaid, filho de Dennis Quaid e Meg Ryan) cuja namorada Robin é “atropelada” pelo super-herói A-Train (Jessie T. Usher) morrendo tragicamente na sua frente. Isso desencadeia uma verdadeira operação junto com Butcher (Karl Urban), que tem seus motivos pessoais, para desmontar o ideário de que o grupo de heróis, chamado “Os Sete” é formado por seres íntegros.

A verdade é que a grande maioria dos poderosos são assassinos, egocêntricos e mentirosos que abusam dos poderes em benefício próprio. Na organização dos poderosos há a corporação Vought, gerando receita e movimentando bilhões de dólares, influenciando em benefício próprio a cultura, a política e a sociedade de uma maneira geral.

Há um componente muito potente nos efeitos práticos que a história estimula que tem a ver com o espaço que os filmes do gênero (vide Marvel e DC) ganhou na cultura pop hoje. A desconstrução desse panorama já é a grande graça dessa série. Só aí já vale a maratona. Mas para além disso está a inteligência do roteiro em tornar essa sátira tão real, sobretudo no conservadorismo político que assola o mundo. Não é curioso que esses dois panoramas sejam oferecidos numa suposta trama de super-heróis?

Dá até para entender a desconfiança que o projeto gerou quando foi anunciado. Mas a realização assimilou bem a voltagem do discurso da HQ, com um elenco espertamente bem escalado e uma direção compreendendo bem a amoralidade do texto original, auxiliado por uma fotografia de cinema em cenas de ação e emoção que não subestimam o veículo que faz parte. Por trás dessa adaptação para o streaming estão nomes como o ator Seth Rogen e o criador da interminável Supernatural, Eric Kripke, ou seja, forças criativas e expertises do ramo, baseados em obra consistente, explicam porque The Boys é tão melhor que qualquer desconfiança prévia.

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